segunda-feira, 31 de março de 2014

Jazz no 31. Mundo da Música. «Os outros nunca sentem. Quem sente somos nós, sim, todos nós, até eu, que neste momento já não estou sentindo nada. Nada! Não sei... Um nada que dói...»

Múcua, fruto do embondeiro
jdact

«Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa».


«Na casa defronte de mim e dos meus sonhos,
que felicidade há sempre!
Moram ali pessoas que desconheço, que já vi mas não vi.
São felizes, porque não sou eu.
As crianças, que brincam às sacadas altas,
vivem entre vasos de flores,
sem dúvida, eternamente.
As vozes, que sobem do interior do doméstico,
cantam sempre, sem dúvida.
Sim, devem cantar.
Quando há festa cá fora, há festa lá dentro.
Assim tem que ser onde tudo se ajusta,
o homem à Natureza, porque a cidade é Natureza.
Que grande felicidade não ser eu!
Mas os outros não sentirão assim também?
Quais outros? Não há outros.
O que os outros sentem é uma casa com a janela fechada,
ou, quando se abre,
é para as crianças brincarem na varanda de grades,
entre os vasos de flores que nunca vi quais eram.
Os outros nunca sentem.
Quem sente somos nós,
sim, todos nós,
até eu, que neste momento já não estou sentindo nada.
Nada! Não sei...
Um nada que dói...»

JDACT