quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Évora na Idade Média. Maria Ângela Beirante. «Mas a grande uniformidade de todo o Alentejo deve-se essencialmente ao relevo suave e ao clima mediterrâneo»

Cortesia de wikipedia e jdact

A imagem da Cidade
«A cidade é, antes de mais, imagem, ficção do real e do irreal. Évora não foge à regra. Ela tem os seus mitos, desde a corça de Sertório às errâncias de Geraldo e seus ladrões. Ela vive no lirismo dos poetas como Iça Ibne Alwakkil que, na época do domínio almorávida, exprimiu nestes termos a amargura do exílio:

«Um exilado na terra do Magrebe
tem o coração dividido
entre duas afeições:
Salé tomou uma parte
Évora a outra».

Ela perdura nos versos de Florbela Espanca: Évora! Ruas ermas sob os céus, cor de violetas roxas… e, em Virgílio Ferreira, encontramos a branca aparição desta cidade-ermida. À literatura junta-se a crónica. Fernão Lopes, antes de nos contar como os da çidade se levamtarom comtra Abadessa, e do geito que teverô em na matar, diz-nos que o castelo era bem forte (…) e como foi tomado, logo foi rroubado de quamto hiacharõ, e derribado per muitas partes, e posto fogo demtro em elle; de guisa que queimadas cassas e quamto em ell avia, ficou devasso come pardieiro, sem parte defensável quem ell ouvesse. A imagem da cidade é afinal uma amálgama de presente e passado, de ciência e fábula que se instala em cada um de nós. Ultrapassemos essa imagem e olhemos cientificamente o seu passado.

Factores ecológicos
Ao iniciarmos o estudo histórico da cidade de Évora, tomemos contacto com a região natural em que se situa o Alentejo. Segundo Amorim Girão, região natural é um território com uniformidade de constituição geológica dos terrenos, relevo do solo, clima, associações vegetais e animais. O Alentejo estende-se desde as margens do Tejo até à serra do Algarve. Évora, capital do Alto Alentejo, ocupa o centro desta vasta região. Geologicamente, a área de implantação da cidade pertence ao antigo maciço ibérico e nelas predominam as rochas metamórficas e as graníticas, havendo ainda em todo o quadrante leste formações xistentas e mesmo rochas detríticas sedimentares. Esta aparente variedade na constituição geológica em pouco influenciou a morfologia da área, não originando grandes barreiras físicas que constituíssem obstáculos à vida dos homens.
Mas a grande uniformidade de todo o Alentejo deve-se essencialmente ao relevo suave e ao clima mediterrâneo. O traço geográfico dominante da região transtagana é a peniplanície ondulada, descoberta nos vastos horizontes (…) e a secura do ar e do solo, a característica essencial do clima. Sendo a escassez de água o fenómeno geográfico principal, compreende-se a grande atracção pelas nascentes. Évora situa-se mesmo a poucos quilómetros a SE de um importante centro de dispersão hidrográfica, onde nascem os rios que lhe servem de suporte, como o Degebe, afluente do Guadiana, o Xarrama e o Valverde / Alcáçovas, afluentes do Sado, e ainda o Divor, que faz parte da bacia hidrográfica do Tejo, como afluente do Sorraia. As maiores altitudes na área envolvente de Évora são a serra de Ossa, 698 m, a NE; a serra de Monfurado, 423 m a Oeste e a serra Portel-Mendro, 412 m, a SE». In Maria Ângela Rocha Beirante, Évora na Idade Média, Textos Universitários de Ciências Sociais e Humanas, Dissertação de Doutoramento em História, Fundação Calouste Gulbenkian, 1ª Edição, 1995, ISBN 972-310-693-0.

Cortesia de FCG, CMÉvora/JDACT