terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

O Mito Maçónico. Jay Kinney. «Mesmo assim, o livro tornou-se um “best-seller” graças ao público ávido de descobrir o que se passava naqueles meios secretistas; e que, depois da leitura julgou ver os seus medos confirmados»

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«(…) Cerca de cem anos antes de este episódio ir para o ar, já o escritor Rudyard Kipling se entretivera a satirizar o Ofício no conto O Homem Que Queria Ser Rei, adaptado ao cinema num filme memorável de John Huston, interpretado por Sean Connery (um verdadeiro maçon) e Michael Caine. Nessa história, dois soldados do exército britânico, tornados vigaristas, buscam as suas sortes pelas terras paquistanesas, atravessando a cordilheira do Hindu Kush até chegarem à província afegã do Nuristão; aí, ambos ascendem ao poder sobre várias tribos autóctones só porque são maçons: é que a religião preservada pelos sacerdotes tribais consiste numa espécie de sistema protomaçónico, no qual os sinais e toques usados pelos maçons do mundo civilizado encontram muitas semelhanças. Os dois malandrins são tratados como deuses pelos maçons selvagens até que um deles, como Homer Simpson, vai demasiado longe e provoca uma rebelião. Os soldados não têm escolha a não ser fugir para salvar a pele.
Kipling tornou-se maçon cerca de dois anos antes de escrever este conto. Trabalhando como jornalista na Índia, foi iniciado, em 1886, por uma loja de Lahore (composta por colonos e nativos), a capital da província paquistanesa do Punjab. Tratava-se de um mundo muitíssimo diferente da vila ficcional de Springfield, em que mora a família de Homer Simpson, mas os temas do segredo maçónico, poder e seus abusos estavam tão na moda nesses tempos como agora. O filme A Verdadeira História de Jack, o Estripador, realizado em 2001, interpretado por Johnny Depp e Heather Graham, avançou a ideia de que o assassino titular seria um maçon enlouquecido, incumbido pela própria rainha Vitória de abafar um escândalo que envolvia a realeza; tarefa que ele cumpre com requintes de sadismo, no dito filme. No final, acaba por ser julgado pelos irmãos maçons e a identidade dele é encoberta pelos agentes da polícia que também são obreiros.
Este filme baseou-se num mastodôntico álbum de banda desenhada, intitulado From Hell, escrito por Alan Moore e desenhado por Eddie Campbell. Uma banda desenhada que se inspirou numa teoria da conspiração concebida pelo escritor Stephen Knight num livro intitulado Jack the Ripper: The Final Solution. O mesmo autor escreveu, em seguida, um livro chamado The Brotherhood: The Secret World of the Freemansons, publicado no Reino Unido em 1983. As denúncias de Knight sobre alegada corrupção e conspiração dentro dos aparelhos policiais, judiciais e empresariais ingleses basearam-se, na maioria, em material colhido junto de fontes anónimas e em citações anedóticas. Mesmo assim, o livro tornou-se um best-seller graças ao público ávido de descobrir o que se passava naqueles meios secretistas; e que, depois da leitura julgou ver os seus medos confirmados.
A controversa reacção originada pela publicação do livro provocou, um pouco por todo o Reino Unido, uma série de pedidos de investigações oficiais, da revelação pública de quem fosse franco-maçon e o seu eventual despedimento de cargos da função pública. A pressão tornou-se tão forte que a Grande Loja Unida de Inglaterra foi obrigada a abandonar a prática de não dar importância a este tipo de calúnias e deu início àquilo a que se pode chamar de uma era de abertura e relações públicas pensadas de modo a dispersar suspeitas e a corrigir a péssima imagem que se desenvolvera. Em simultâneo, florescia um novo género de história alternativa que se tornara muito popular nas ultimas décadas. Os seus autores, a maioria britânicos, escreveram uma multiplicidade de livros que tinham como objectivo revelar os segredos perdidos da Franco-Maçonaria. Estes não consistiam nas ligações sórdidas entre os poderes instituídos e a sociedade secreta sob escrutínio, como no livro de Knight, mas em verdades que vinculavam a Franco-Maçonaria à ordem dos Cavaleiros Templários, aos cristãos joanistas, aos gnósticos, aos mistérios egípcios e até ao Divino Arquétipo Feminino. Estas verdades não passavam de um conjunto de velhas ideias românticas que se popularizaram entre os próprios maçons dos séculos XVIII e XIX e que, uma vez recuperadas, perduraram até à actualidade. Em seguida, veremos como surgiram essas verdades e se, com efeito, elas contêm alguma coisa de verdadeiro.

A um Oceano de Distância
A reputação de que a Franco-Maçonaria norte-americana goza junto da opinião pública desse país difere daquela de que desfrutam as suas análogas europeias, e com boa razão. É que há muito tempo que os maçons norte-americanos fazem gáudio da filiação maçónica dos Pais Fundadores, indivíduos como George Washington, Benjamin Franklin e Paul Revere, ao mesmo tempo que arrogam uma imagem de benevolência patriótica para a Franco-Maçonaria norte-americana: é uma crença popular, entre maçons e profanos, que foi o Oficio que esteve por trás da Revolução Americana de1776». In O Mito Maçónico, Jay Kinney, 2009, tradução de David Soares, Saída de Emergência, 2010, ISBN 978-989-637-176-0.

Cortesia de SEmergência/JDACT