quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Herança. Danielle Steel. «Com vinte e oito anos, Brigitte matriculara-se na Universidade de Boston, após ter concluído a sua licenciatura universitária, para tirar um mestrado em antropologia»

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«Caía um forte nevão desde a noite anterior. Brigitte Nicholson sentara-se à sua secretária, no Departamento de Admissões da universidade de Boston, a rever meticulosamente os formulários de candidatura. Já haviam sido revistos por outros funcionários, mas ela gostava de se certificar de que se encontravam devidamente preenchidos. Estavam a meio do processo de admissões, pelo que dentro de seis semanas os que se tinham candidatado à universidade seriam informados se poderiam matricular-se ou não. Inevitavelmente, alguns aspirantes a universitários sentir-se-iam contentíssimos, mas o número dos que ficariam tristes seria maior. Era difícil ter-se consciência de que se tinha nas mãos a vida e o futuro de jovens ansiosos. Rever as candidaturas era o período de maior trabalho para Brigitte. A sua função era seleccionar os formulários de admissão que seriam submetidos à apreciação de uma comissão, para o que teria de entrevistar individualmente os estudantes que o requeressem. Nesses casos, apensaria os seus apontamentos e comentários aos formulários. Mas no essencial, as notas, quer dos exames, quer as de passagem de ano, as recomendações de professores, as actividades extracurriculares e o desempenho desportivo contribuíam significativamente para o resultado final. Qualquer candidato representaria, ou não, uma mais-valia para o estabelecimento universitário. Brigitte sentia o peso da responsabilidade que contribuía para a decisão final. Era extremamente meticulosa quando revia os trabalhos que eram submetidos juntamente com o formulário de admissão. Em última análise, tinha de pensar no que era melhor para a universidade, e não para os estudantes. Estava acostumada a receber dúzias de telefonemas e de mensagens por correio electrónico da parte de membros do corpo docente de escolas secundárias, que faziam tudo o que estava ao seu alcance para ajudarem os alunos que se candidatavam ao ensino universitário. Brigitte sentia orgulho por estar associada à Universidade de Boston e, para seu grande espanto, havia dez anos que trabalhava no Departamento de Admissões. Os anos tinham voado. Era a terceira pessoa mais importante na escala hierárquica do departamento, tendo recusado várias oportunidades de promoção em inúmeras ocasiões. Sentia-se satisfeita com a posição que ocupava, e nunca rinha sido muito ambiciosa.
Com vinte e oito anos, Brigitte matriculara-se na Universidade de Boston, após ter concluído a sua licenciatura universitária, para tirar um mestrado em antropologia, depois de ter tido vários empregos pós-universidade, seguidos por dois anos a trabalhar numa casa de acolhimento para mulheres no Peru e outro ano na Guatemala, após o que viajou durante um ano pela Índia e pela Europa. Tinha um bacharelato em antropologia com uma cadeira em estudos do género da Universidade da Columbia. A condição das mulheres nos países subdesenvolvidos sempre fora uma das suas principais preocupações. Brigitte aceitara o emprego no Departamento de Admissões até poder concluir o mestrado. Depois disso, queria ir para o Afeganistão durante um ano, mas, à semelhança do que acontecia com tantos estudantes licenciados que trabalhavam nas universidades em que tiravam mestrados, ela foi-se deixando ficar. O emprego proporcionava-lhe bem-estar e segurança económica, além de um ambiente confortável que lhe agradava sobremaneira. Assim que conseguiu concluir o mestrado, começou a trabalhar com vista ao doutoramento em ciências.
O mundo académico era viciante, com os seus desafios intelectuais, a par da aquisição de conhecimentos e cursos. Além disso, permitia que uma pessoa se escondesse do mundo real e das suas exigências. Era um paraíso para a juventude estudantil. Não se podia dizer que ela adorasse as suas funções no Departamento de Admissões, mas a verdade é que gostava bastante do que fazia. Sentia que era produtiva e útil, além de se empenhar a fundo a ajudar os estudantes com notas suficientes para entrarem na universidade». In Danielle Steel, Herança, 2010, Bertrand Editora, Lisboa, 2016, ISBN 978-972-253-206-8.

Cortesia de BertrandE/JDACT