terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

O Vírus Mona Lisa. Tibor Rode. «Diante dos seus olhos cintilou um clarão amarelo. Betty sobressaltou-se e voltou-se para ela»

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«(…) Por isso é que vai ter problemas, replicou Helen, secamente. Mas, ao ver como Betty olhava para ela com perplexidade, pousou-lhe a mão no ombro num gesto tranquilizador. Estava só a brincar! Enquanto a colega parecia ficar mais descontraída, o olhar de Helen foi atraído pela imagem do monitor à sua frente. O que parecia uma metade sobredimensionada de uma noz aberta era, na realidade, um corte transversal do seu próprio cérebro. No canto superior direito, viu o seu nome: Helen Morgan. Era a primeira vez que via assim o seu cérebro. Entre contornos cinzentos que pareciam cristais brilhavam zonas de um vermelho-amarelado como se fossem pequenos incêndios. É a tua primeira ressonância magnética?, perguntou Betty, com um tom de inconfundível preocupação na voz. Era evidente que, apesar da tentativa de Helen de minimizar o incidente, ela tentava saber o que se passara. Já te disse, precisava de ir à casa de banho... Não me refiro a isso. Betty inclinou-se para a frente, para ver melhor um pormenor no monitor à sua frente. Mas a isto aqui. Helen sentiu o coração a acelerar-se ao olhar, com Betty, para a imagem do seu cérebro. Reparava agora no que antes deixara visivelmente passar. A alguns centímetros das zonas coloridas, no lado direito do cérebro, destacava-se um ponto no conjunto da imagem. Um ponto que ela, como neurologista, sabia bem que não devia estar ali. E era para aí que apontava o dedo indicador de Betty. E, de imediato, soube o que significava aquele ponto vermelho-claro da dimensão de uma unha do dedo polegar. Betty voltou-se para Helen, observando-a com as sobrancelhas arqueadas. Helen ignorou-a, mantendo os olhos fixos no ecrã. Lera muito, vira as imagens nos manuais e imaginara que seria assim. Mas o que agora via diante de si, e no seu próprio cérebro, causava-lhe um medo maior do que há muito antecipara. Teve a sensação de que o dedo de Betty, que ficara imóve1 mesmo no centro da imagem do seu cérebro, a tocava no interior do crânio. Helen nunca pensara que a anomalia se deixasse reconhecer tão bem e esperava que Betty não desse por ela. Dentro dela havia um mistério clínico que deixava de estar agora tão escondido que era como se tivesse sido exposto no placar de parede da sala comum. Iria custar-lhe algo manter o segredo. Sem desviar o olhar do ecrã, Helen estendeu a mão direita e empurrou com força a porta ao seu lado, fazendo com que se fechasse com estrondo. Diante dos seus olhos cintilou um clarão amarelo. Betty sobressaltou-se e voltou-se para ela. Que dirias se, no fim de semana, eu vos deixasse o laboratório, a ti e ao Claude, para as vossas gravações musicais? Um sorriso enorme fez dançar as sardas do rosto de Betty.

San Antonio
Não te sentes bem, Madeleine? Sê sincera comigo!, parecia dizer o olhar do médico. Madeleine abanou energicamente a cabeça. Desta vez não devia mentir. Sentia-se bem. Nas últimas semanas, sentira-se melhor de dia para dia. Graças às sessões com o médico. Mas também a Brian. Com este pensamento na sua cabeça de cabelos castanhos revoltos, o coração até saltou. Sinto-me realmente bem. Mesmo bem, disse, com voz firme, sustendo o olhar do dr. Reid. A expressão de cepticismo do rosto dele deu lugar a um sorriso. Isso é bom. Isso é mesmo muito bom, comentou, olhando para o dossiê com os documentos que tinha no colo como se aí procurasse uma referência. Madeleine endireitou o pescoço e julgou ver um cheque no meio dos papéis. Talvez fosse da sua mãe, para pagar o internamento na clínica. O olhar desviou-se para o relógio, pendurado por cima da porta. Já passavam cinco minutos das 15h 30. Às 16h ia encontrar-se com Brian no parque da clínica. Como demorava o ponteiro dos minutos a mexer-se!» In Tibor Rode, O Vírus Mona Lisa, 2016, Topseller, 20/20 Editora, 2016, ISBN 978-989-883-989-3.

Cortesia de Topseller/20/20E/JDACT