terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Sociedades Secretas. Philip Gardiner. «”O Cristianismo possuía sinais secretos, apertos de mão sigilosos, mitos e rituais especiais”, assim como qualquer organização secreta»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) Existem níveis para a iniciação, assim como em qualquer religião. Ela, na verdade, começa antes do que a maioria das pessoas poderia supôr, já na escolha ou selecção para participar. Esse processo de selecção parece ter um plano, e o facto de a palavra escolhido ser usada sugere que nem todos podem entrar. Na realidade, podemos concluir a partir de estudos de sociedades que o processo é quase aleatório e a selecção verdadeira vem muito mais tarde. Aqueles que não são escolhidos para os níveis mais altos ainda são membros e, na verdade, fazem sem perceber a vontade dos membros mais elevados, e sem saber que estão, em geral, num nível inferior. Durante os primeiros estágios de qualquer iniciação, o novo membro é limpo, ou libertado, de qualquer opinião que não beneficie a sociedade ou a religião. Isso pode ser visto, por exemplo, nas forças armadas, que se valem especialmente dessa batalha psicológica de vontades. Ao destruir a resistência do espírito do recruta, o exército o liberta de quaisquer ideias pré-concebidas e permite que todas as técnicas de lavagem cerebral apareçam imaculadas na mente do novo soldado. O mesmo é verdadeiro para as sociedades secretas, uma vez que dizem aos novos recrutas que deixem o mundo para trás, inclusive família e amigos, tidos como distracções, coisas do mundo ou do Diabo. Aos iniciados, então, é dada, em substituição, a nova família da igreja ou da sociedade que, nesse estágio do processo, é sempre solícita em oferecer socorro e amor tais que o recruta fica tomado de alegria. Isso permanece na mente do novo candidato, profundamente enraizado devido ao processo de lavagem cerebral realizado anteriormente. Esse processo inspira lealdade e um desejo por mais. A igreja e a sociedade satisfazem da mesma forma a demanda com compreensões místicas que só podem ser oferecidas aos que passam por testes. Tais testes são criados para aprofundar ainda mais os laços do iniciado. Com cada novo processo de aprendizado o discípulo sente-se ainda mais especial e recebe, de facto, condição especial. Há uma sequência de testes para determinar se o iniciado tem aptidão para avançar. Os aspectos mais profundos dessas organizações são, como sempre, cada vez mais secretos e ficam no nível mais alto possível, uma vez que é aí que reside o verdadeiro segredo ou propósito da sociedade ou religião. Os Cavaleiros Templários faziam um teste em que o iniciado devia cuspir na cruz. O motivo é simples e nada tem a ver com o desrespeito de que fala a Igreja. Em um nível, se o iniciado não cuspir na cruz, como lhe é exigido, ele é recompensado por sua fé verdadeira e passa a ser um membro, acreditando que conseguiu o feito. Noutro nível, se ele cuspir na cruz, então demonstra verdadeira disciplina e será conduzido pela autoridade dos mestres aonde quer que isso possa levá-lo, esse iniciado ascenderá na escala que é oculta a quem não conseguiu seguir o comando. Tão logo o prosélito chegava ao nono grau, ele estava maduro para servir como instrumento cego de todas as paixões e, acima de tudo, de uma ambição ilimitada por dominação... Assim, vemos aqueles que deveriam ser protectores da humanidade abandonados a uma ambição insaciável, sepultados sob as ruínas de tronos e altares em meio aos horrores da anarquia, após terem trazido o infortúnio para as nações e serem merecedores da maldição dos homens, in Von Hammer. Os efeitos dos procedimentos da sociedade são vistos pelo mundo exterior como estranhos e incomuns. No entanto, esses procedimentos podem vir a tornar-se a norma e ser aceitos pela população em geral. Veja o exemplo do Cristianismo: nos primeiros anos de sua existência, era classificado como um culto ou organização secreta pelo facto de ter que permanecer oculto. A razão disso é que a religião oficial acreditava estar muito afastada do credo do culto cristão, quando, na realidade, ambos tinham as mesmas crenças solares. Filosofias romanas eram o que agora classificamos como pagãs, mas eram seguidas pela maioria. Mesmo os pagãos se esconderam num momento da sua existência. Por fim, essa corrente secreta do Cristianismo cresceu muito, inclusive com o ingresso de membros que tinham posições de autoridade estatal. Isso, por sua vez, tornou-o cada vez mais aceitável. Sim, havia muito ódio estatal por esse culto, na superfície, devido aos seus métodos secretos e à sua ameaça às religiões oficiais. O Cristianismo possuía sinais secretos, apertos de mão sigilosos, mitos e rituais especiais, assim como qualquer organização secreta. E essa é a essência da questão das sociedades secretas, elas têm de permanecer secretas pela condição que faz delas sociedades secretas. O Cristianismo veio, então, a comandar a maior parte do globo e teve de lutar contra outras correntes subjacentes que, mantiveram os mistérios dos mitos antigos». In Philip Gardiner, Sociedades Secretas, colecção Millenium, Publicações Europa América, 2008, ISBN 978-972-105-876-7.

Cortesia de PEAmérica/JDACT