terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

O Bibliotecário. AM Dean. «Chegou ao gabinete antes de eu conseguir acabar com ele. Na altura fiquei com a impressão de que algo não estava bem, mas não podia demorar-me»

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«(…) Isso é irrelevante, respondeu o Secretário, desde que tenhas cumprido a tua missão. Com excepcão da fonte, de quem irás encarregar-te em breve, era o último homem com acesso à lista. A fuga dessa lista havia sido um erro imperdoável. Uma coisa tão simples como uma lista de nomes punha em risco tudo o que tinham conseguido reunir. Uma lista que incluía nomes que ninguém devia conhecer. O plano dependia desse secretismo, desse anonimato, porém, sem saber bem como, a lista de nomes fora comprometida. A única resposta possível havia sido a eliminação daqueles que a tinham visto. O Guardião e o seu Ajudante eram homens cujas vidas possuíam um valor inegável, todavia esse valor era ultrapassado pelos riscos. O Secretário ficara tão absorto nos seus pensamentos que, num primeiro momento, nem sequer notou o silêncio do outro lado da linha. Mas não tardou a que um alarme interno soasse. Esqueceu os devaneios e inclinou-se para a frente. O que se passa? O que correu mal? O facto de estar à nossa espera..., pode ser mais relevante do que pensa. O Secretário estremeceu. Não lhe agradavam as surpresas. Inclinou-se um pouco mais e pressionou o auscultador contra a cara. Conta-me tudo.
Chegou ao gabinete antes de eu conseguir acabar com ele. Na altura fiquei com a impressão de que algo não estava bem, mas não podia demorar-me. A minha suspeita confirmou-se esta manhã quando regressei para acompanhar o desenvolvimento desse assunto. Continua, ordenou o Secretário com uma calma estudada. Contava com décadas de experiência a receber más notícias. Sabia como era importante manter a compostura nos momentos mais difíceis. Um bom líder tornava-se mais feroz e temível quando sabia manter a calma. Havia um livro no gabinete dele. Faltavam-lhe três folhas. Tinham sido arrancadas, explicou o Amigo. Encontrei-as queimadas no cesto dos papéis ao lado da cadeira. Fez uma pausa para que o Secretário pudesse digerir os pormenores. Não estava à espera de uma resposta ou de uma reacção. Não era assim que funcionava a relação entre eles. Esperava-se apenas que respondesse ao que lhe perguntavam. O Secretário pediria mais informações se as desejasse. O homem mais velho reflectiu sobre o estranho relatório. Então, havia qualquer coisa que o Guardião não queria que o seu assassino visse. Estava decidido a complicar-lhes a vida mesmo depois de morto. O Secretário pronunciou as seguintes palavras mais como uma ameaça do que como uma pergunta: conseguiste saber pormenores desse livro? Claro, senhor. Fez um esforço para relaxar os músculos dos ombros. O Amigo estava bem treinado. Quero esses pormenores em cima da minha mesa dentro de meia hora. Envia-os enquanto regressas a Washington. A caça não ia terminar daquela maneira. E consegue-me urna cópia desse livro.

Washington, D. C. 10h 45 EST (9h 45 CST)
As notícias contidas na pasta de arquivo vermelha que segurava nas mãos eram inquietantes, mas dificilmente mais exaustivas do que as proporcionadas pela CNN, no seu televisor, ligado do outro lado da sala, e apresentadas por uma mulher loira sentada a uma mesa. Tirara o som ao televisor há uns minutos, quando o assistente entrou no gabinete. A locutora dera a notícia de uma explosão no Reino Unido, e um helicóptero sobrevoava a cena para oferecer imagens em directo. Todavia, para além da hora da explosão e de uma panorâmica geral do alcance dos danos, pouco mais se sabia naquele momento. Uma célebre igreja antiga, uma das mais importantes do património inglês, fora destruída numa explosão às primeiras horas da manhã. Não havia baixas, salvo o dano sentimental e os estragos causados ao património histórico. Já alguém reivindicou a autoria da explosão?, quis saber. Ainda não, senhor Hines, replicou o seu assistente. Jefferson cerrou os dentes com força perante a falta de deferência do jovem. Não se dirigir a ele pelo cargo era algo que o outro fazia propositadamente. A CIA está a acompanhar o SIS britânico na procura de suspeitos, contudo, até agora, nem os loucos do costume quiseram ficar com os créditos». In AM Dean, O Bibliotecário, 2012, Clube do Autor, Lisboa, 2014, ISBN 978-989-724-124-6.

Cortesia de CdoAutor/JDACT