quarta-feira, 23 de março de 2016

A Grande Heresia. Lynn Picknett e Clive Prince. «… o que é realmente espantoso sobre a mão desacompanhada de um corpo, não é tanto a sua existência, mas o facto de que, em tudo o que lemos sobre Leonardo, tenhamos descoberto apenas algumas poucas referências a ela…»

Cortesia de wikipedia

O Código Secreto de Leonardo da Vinci
«(…) No centro de toda a composição está uma forma construída em conjunto pelas figuras de Jesus e dessa mulher, um grande e exagerado M, quase como se eles estivessem literalmente juntos pelos quadris, mas, de repente, saíssem de alinhamento ou então fossem apartados. Não é do nosso conhecimento que qualquer cientista se tenha se referido a essa figura feminina de outra forma que não fosse como São João. O M formado pelas duas figuras também passou desapercebido pelos intelectuais. Leonardo era, conforme descobrimos nas nossas pesquisas, um excelente psicólogo que se divertia presenteando, aos que lhe haviam feito uma encomenda de obras religiosas comuns, com imagens extremamente heterodoxas, consciente de que as pessoas olhariam com serenidade para a óbvia heresia porque, como de costume, elas só vêem aquilo que querem. Se lhe pedissem para fazer um quadro de uma cena cristã conhecida e apresentasse algo que tivesse uma semelhança apenas superficial com a cena pedida, ninguém jamais questionaria o seu simbolismo. Leonardo, contudo, deve ter tido esperanças de que talvez outras pessoas que também compartilhassem a sua interpretação incomum da mensagem do Novo Testamento perceberiam o que ele fizera na sua versão, ou que alguém, em algum lugar, um observador que fosse objectivo, um dia repararia na imagem dessa mulher misteriosa ligada à letra M e começasse a fazer perguntas óbvias. O que era M, e porque era tão importante? Leonardo arriscaria a sua reputação, para não dizer a sua própria vida, naqueles dias de fogueiras flamejantes, para incluí-la nessa cena tão crucial ao cristianismo? Quem quer que seja ela, o seu próprio destino também não parece estar muito a salvo, pois uma mão se atravessa, de um modo que parece ameaçador, à frente de seu gracioso pescoço inclinado. O Redentor também é ameaçado por um dedo em riste que aponta, com clara veemência, directamente para o seu rosto. Tanto Jesus quanto M parecem estar completamente alheios a essas ameaças, perdidos no redemoinho dos seus próprios pensamentos, serenos e tranquilos. Entretanto, é como se fossem utilizados símbolos secretos, não apenas para avisar Jesus e a sua companheira de que os seus destinos se separaram, como também para dar (ou talvez lembrar) ao observador alguma informação que, se fosse de outro modo, haveria perigo em expor. Estaria Leonardo a utilizar a sua obra para encobrir alguma crença particular, a qual seria uma insensatez compartilhar com uma audiência maior e de um modo mais óbvio? E poderia ser que essa crença fosse uma mensagem a ser comunicada aos que não pertencessem ao seu círculo social imediato, talvez mesmo uma mensagem para os de nossa época? Olhemos com mais profundidade para essa obra surpreendente. No fresco, um homem de barba postado à direita do observador inclina-se, quase até se dobrar, para falar ao último discípulo na mesa. Ao fazer isso ele dá totalmente as costas ao Redentor. Esse discípulo é São Judas Tadeu, cuja figura é tida como sendo a do próprio Leonardo. Nada do que retratavam os pintores renascentistas era desprovido de significado ou simplesmente incluído por uma questão de beleza, e essa obra em particular, um modelo da época e da profissão, era reconhecida pelo rigor na apresentação de um visível duplo sentido (a preocupação de Leonardo em utilizar o modelo certo para cada discípulo pode ser percebida na sua maldosa insinuação de que o irritado bispo do Monastério de Santa Maria pousou para a caracterização de Judas!). Então, porque Leonardo se pintou a si mesmo olhando tão claramente para o lado contrário àquele em que estava Jesus? Ainda há mais. Uma mão estranha aponta um punhal para o ventre de um discípulo que está ao lado de M. Por mais imaginação que tenhamos, essa mão não pode pertencer a qualquer pessoa que esteja sentada à mesa, simplesmente porque é fisicamente impossível que estes conseguissem contorcer a própria mão de modo a poder segurar o punhal naquela posição. Entretanto, o que é realmente espantoso sobre a mão desacompanhada de um corpo, não é tanto a sua existência, mas o facto de que, em tudo o que lemos sobre Leonardo, tenhamos descoberto apenas algumas poucas referências a ela, o que demonstra uma curiosa relutância em perceber qualquer coisa que possa haver de anormal. Tanto quanto o facto de São João ser na verdade uma mulher, uma vez que esta mão seja devidamente mostrada nenhum facto poderia tornar-se mais óbvio, nem mais bizarro, embora possa perfeitamente passar despercebida aos olhos e à compreensão do observador, simplesmente por ser algo tão absurdo e ultrajante». In Lynn Picknett e Clive Prince, A Grande Heresia, O Segredo da Identidade de Cristo, 2000, tradução de Adriano Sandoval, Editora Beca, 2000, ISBN 978-858-725-617-1.

Cortesia de EBeca/JDACT