quinta-feira, 24 de março de 2016

Princesas Portuguesas Rainhas no Estrangeiro Américo Faria. «Não deixou sucessores esta linda princesa portuguesa, que foi a segunda, cronologicamente, a cingir uma coroa, a qual, por ser condal, nem por isso deixava de ser soberana e muito poderosa»

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Teresa Henriques. Poderosa condessa da Flandres
«(…) Terminada essa guerra, ou, antes, mesmo durante o seu período, a Cristandade reuniu-se para a chamada terceira cruzada. Três famosos chefes do Ocidente, o rei da França, Filipe Augusto; o imperador da Alemanha, Frederico Barbarroxa; e Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra, esquecendo dissídios que os dividiriam, coligaram-se com o auxílio de outros Estados para defesa da Cruz. Saladino, o valente sultão do Egipto, conquistara o reino de Jerusalém. O último rei da Terra Santa, Guy de Lusignan, caiu prisioneiro na famosa batalha de Tiberíades. Nada menos de vinte mil cristãos ali tombaram para sempre. Urgia repor o anterior estado de coisas. Filipe de Alsácia, conde da Flandres, era soberano demasiado categorizado para que não participasse da cruzada, chefiando as suas valorosas hostes. Ia estar ausente a servir uma causa sagrada. Não sabia por quanto tempo. Os seus Estados, porém, precisavam, durante esse período, de ter alguém à sua frente a governá-1os. Não hesitou. Depositava a maior confiança no bom senso e na visão administrativa da esposa. Entregou-lhe a regência do condado-ducado durante a sua ausência. Nunca mais se viram com vida desde a partida dele. Desgraçadamente, na batalha de S. João de Acre, após apertado cerco, no fim do qual essa fortaleza for tomada finalmente, o marido de dona Teresa caiu como um bravo que era. Deixou de si boa memória, não só pelo seu valor guerreiro como pela sua soberania na Flandres. Dona Teresa, infanta de Portugal e condessa da Flandres, ficava viúva ainda nova, sem dúvida, e mais rica do que chegara. Por morte do esposo recebeu, como dote e em satisfação do contrato de casamento, além de Lille e de Fournes, em Bourbony, algumas outras terras de pingues rendimentos.
Além do mais, e à parte a sua notável beleza, tinha fama de muito sensata e ponderada. Não lhe faltariam candidatos à sua mão. Na realidade, não demorou muito tempo no estado de viúva, o que a credita como um bom partido matrimonial. Sem embargo do profundo afecto que devotara ao falecido Filipe, tornou a casar em 1194, desta vez com Eudo, 3.º duque de Borgonha. Esta filha de Afonso Henriques parece não ter sido bem fadada para destino venturoso, pois também desta feita não logrou a felicidade. De facto, ainda mal havia gozado a sua segunda lua-de-mel quando o papa Celestino III, alegando o próximo parentesco entre os cônjuges, determinou a sua separação. Não havia decorrido um ano sobre a celebração deste seu consórcio.
Voltou a princesa portuguesa aos seus domínios recebidos do primeiro marido, aí vivendo como flor a estiolar-se, a perder viço, formosura e perfume, sem que os anais se ocupem dela durante esse período. Na verdade, e que o saibamos, só nova referência lhe é feita por ocasião da sua trágica morte, em 1218. Viajava de coche, acompanhada de duas damas de honor, pelas margens de uma lagoa, perto de Fournes, quando ocorreu inesperadamente o dramático acidente. Por qualquer motivo, a carruagem caiu à água, arrastando-a para o fundo. Horrorizadas, as pessoas que presenciaram o sinistro tentaram imediatamente socorrê-la. Inutilmente, porém. Ao fim de muitos esforços lograram retirá-la das águas, mas já cadáver. Conduziram o corpo da infortunada infanta-condessa para a próxima abadia de Chairval, por entre prantos e ais. Não deixou sucessores esta linda princesa portuguesa, que foi a segunda, cronologicamente, a cingir uma coroa, a qual, por ser condal, nem por isso deixava de ser soberana e muito poderosa, com alguma influência na política europeia da época». In Américo Faria, Princesas Portuguesas Rainhas no Estrangeiro, 1963, Edições Parsifal, 2013, ISBN 978-989-983-331-9.

Cortesia de Parsifal/JDACT