sábado, 26 de março de 2016

Luís Augusto. Narrativa. JDACT. «Caminhamos sobre cinco leitos de rio largos, vastos, secos, passeamos por aldeias de oleiros tecelões e por Castelo Novo, abandonada em protesto contra um presidente ganancioso… As crianças dizem olá e olham para os meus sapatos»

Luís Augusto Ruivo de Carvalho
(1938-2016)
jdact

Com a devida vénia a Fernando Ruivo de Carvalho

Simples história do Luís
«Nome completo, Luís Augusto Ruivo de Carvalho. Nasceu na Quinta da Murgeira, freguesia de Unhais da Serra concelho da Covilhã, em 6 de Novembro de 1938, foi registado como nascido na Soalheira, concelho do Fundão. Teve uma paralisia infantil cerca dos cinco anos e ficou um tanto deficiente de uma perna Apesar de muita assistência e várias idas à praia por indicação médica, ficou mesmo cocho da perna direita. Foi fazer a instrução primária a Alpedrinha. Ficou em casa do tio padre Augusto, irmão da sua mãe que nessa altura foi paroquiar esta paróquia no concelho do Fundão, a sul da serra da Gardunha. O Luís evidenciou uma inteligência bastante acentuada. O seu professor, de nome Maia, informou o tio padre Augusto das suas faculdades, pelo que fez a admissão ao liceu de Castelo Branco, que frequentou sempre com notas que o dispensavam de pagar propina. Completou o sétimo ano com notas tais que o dispensaram de admissão à Universidade. Quando fez o 6º e 7º anos, o pai para lhe facilitar a vida, pois ele queria dar explicações, arrendou uma casa em Castelo Branco, para onde foi a Maria do Rosário como responsável. A casa era espaçosa e para facilitar o pagamento da renda foram lá admitidas duas familiares, que andavam a estudar em Castelo Branco. Entrou no Instituto Superior Técnico no ano lectivo de 1957/1958.4 casa foi entregue e a Maria do Rosário foi para a Soalheira. Com a morte do pai, muito prematura, em 18 de Agosto de 1958 com apenas 57 anos, desorientou-se um pouco nos estudos. Transitou para a Faculdade de Ciências e ao mesmo tempo começou a trabalhar no Serviço Meteorológico Nacional como Previsor Meteorológico, mantendo-se a estudar. Completou o curso de Físico-Química. Com as reestruturações ocorridas (Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica; Instituto de Meteorologia) passou para a carreira de Meteorologista (Ruivo de Carvalho). Trabalhou inicialmente no Aeroporto de Lisboa, transitando posteriormente para o edifício Sede do Instituto e integrando o Centro Nacional de Previsão do Tempo. Vivendo sozinho em quarto alugado e depois na parte final numa casa que adquiriu no Pinhal Novo, mantendo-se sempre solteiro, o que preocupava muito a mãe. Ouvi-a um dia dizer, poucos dias antes de morrer: “aquele teu irmão Luís sozinho lá para Lisboa!”. Entretanto fez uma comissão de serviço na colónia da Guiné, como Director da Meteorologia. Finda esta, regressou ao Aeroporto, e depois transitou para o Centro Nacional de Previsão, onde se reformou mm cerca de setenta anos. Foi fazendo algumas viagens nos aviões da TAP, como prémio do serviço que lhes prestava. Uma dela foi a Moçambique, onde foi assistir ao casamento da filha mais relha da Elvira, a Maria José (Zezita). Já reformado, quando andara numa pequena propriedade que comprara perto do Pinhal Novo, foi surpreendido por um AVC. Não foi socorrido em tempo útil, mas entrou no hospital ainda com vida. Depois de entrar no hospital recuperou com dificuldade, ficando com problemas que o colocaram numa cadeira de rodas. Foi deslocado para a sua terra natal, Soalheira, concelho do Fundão, mantendo-se na casa que entretanto passara para propriedade do padre Augusto na Soalheira onde era assistido pela Maria do Rosário e pelo padre Augusto. Após a morte do padre Augusto, foram contratados os serviços da Santa Casa da Misericórdia da Soalheira para o assistir, o que fez e bem. durante uns anos. Com o enfraquecimento físico da Maria do Rosário e consequente internamento no Lar da Santa Casa da Misericórdia local, ficou só em casa, apenas com a continuação da assistência da Santa Casa. Acabou por ser internado no Lar onde estivera a Maria do Rosário, instalado num quarto individual. Não aceitou bem a mudança, mas não havia outra hipótese. Quando se escreve a sua simples história, Julho de 2015, está instalado no Lar da Santa Casa da Soalheira, com enfraquecimento bastante acentuado. No fim do ano de 2015, começaram a surgir problemas de próstata e foi diagnosticado um cancro na próstata. As idas ao hospital eram frequentes e a debilitação acentuava-se. Em 2016, as coisas continuaram a piorar e as idas ao hospital mais frequentes. Confirmou-se o adágio popular. "O cântaro tantas vezes vai à fonte, que um dia lá deixa a asa". No dia 23 de Março de 2016 [(Dia Meteorológico Mundial) JDACT], após regressar do hospital dá o ultimo suspiro no Lar da Santa Casa da Misericórdia da Soalheira, sua terra natal».
In Soalheira, 23 de Março de 2016. Seu irmão Fernando, que escreveu esta simples história com as lágrimas a correr pelo rosto, lhe presta esta última homenagem e com ela encerra a sua história. Até um dia!!

Luís, descansa no sono eterno. O teu amigo e colega

JDACT