sexta-feira, 20 de maio de 2016

Mais do que Sedução. Cheryl Holt. «A brisa quente de Junho fazia balançar as cortinas e por uma janela aberta entrou a frescura de risos femininos. As vozes eram alegres e descontraídas…»

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Somerset rural. Inglaterra 1813
«Não a posso ajudar lady Eleanor. Anne Paxton Smythe olhou para a elegante senhora da nobreza sentada diante de si, na esperança de parecer cortês mas firme. Tentou um sorriso sereno, mas mal conseguia manter-se sossegada. Era loucura recusar o pedido de uma aristocrata e não se impediu de perguntar a si mesma se não estaria a colocar-se em perigo, se tudo o que conseguira fosse destruído simplesmente porque marcara posição. Anne sentira-se tomada pela preocupação assim que a carruagem puxada por quatro cavalos da exaltada senhora subira ruidosamente o caminho que conduzia à sua porta. Percebera que nada de bom resultaria daquela visita e, depois de ouvir o ultrajante pedido da sua visitante, teve a certeza de que a sua intuição estava certa. Estava fora de questão ajudá-la. Ao menos, oiça o que tenho para lhe dizer, insistiu lady Eleanor em tom adulador. Não me fará mudar de ideias. A brisa quente de Junho fazia balançar as cortinas e por uma janela aberta entrou a frescura de risos femininos. As vozes eram alegres e descontraídas, conjurando imagens de noites estivais, de amantes, intriga e romance. Anne mexeu-se no seu lugar, inquieta, desejosa de que a sua visita não tivesse ouvido, mas era diffci1 ignorar os sons vindos do exterior. Com o passar dos anos, tinha-se acostumado a verbalizações inusitadas e ouvira tantas expressões estranhas que já não ligava a uma ocasional explosão de prazer. No entanto, isso poderia parecer peculiar e desconcertante a outras pessoas. Verdadeiramente lúbrico.
Corou. Como estava a dizer... Os risinhos fizeram-se ouvir novamente, muito perto, o que a fez levantar o olhar para ver uma mulher nua correr no passeio exterior em bicos de pés. Tinha os cabelos caídos, como uma ninfa da floresta, e os seios voluptuosos expostos ao sol da tarde. Uma segunda mulher, tão nua como a primeira, correu atrás dela. Extremamente preocupada, Anne olhou de relance para lady Eleanor, mas a cadeira desta estava numa posição que não lhe teria permitido ver nada. Deus fosse louvado! Não teria como explicar aquele espectáculo e a última coisa de que precisava era de provocar um desmaio da sua empertigada visita. Levantou-se, um autêntico modelo de calma. Dá-me licença? Mas, acabei de chegar, e... Não demoro, cortou Anne, dirigindo-se para a porta antes que lady Eleanor pudesse ordenar-lhe que ficasse. Plácida e graciosa, saiu da sala, correndo para a porta das traseiras assim que se viu no corredor. A sua amiga e ajudante, Kate Turner, estava a aparar flores no jardim, alheia à brincadeira menos própria. Depois de Anne apontar várias vezes de modo frenético, Kate assentiu com a cabeça e desceu o caminho ladeado de arbustos para confrontar o indisciplinado duo.
Não eram permitidos divertimentos nus no jardim! Verifica o cesto de piquenique delas, sussurrou Anne. Se encontrares vinho, já chega. Confisca-o! Também não eram permitidas bebidas inebriantes. Apesar de as suas patronas afirmarem que as bebidas alcoólicas ajudavam à diversão, Anne não podia permitir o seu consumo. Muitas deixavam-se levar pelo revigorar que experimentavam quando se banhavam na gruta das nascentes de água quente, o que a obrigava a manter rédea curta em todo o tipo de comportamentos, não fosse a diversão descontrolar-se. Os rumores sobre a qualidade das águas já eram exagerados, que eram misteriosas e mágicas, e não precisava de encorajar mais ofuscação ou distorção. Voltou para dentro, perguntando-se se Kate teria a presença de espírito para apreender a bebida. Kate era eficiente, pragmática e dotada para muitas tarefas, mas não era perita em lidar com as clientes abastadas de Anne. Kate afastava-se de snobes e figuras da sociedade, enquanto Anne era obrigada a recebê-los e a conviver com todas, se queria ter comida na mesa». In Cheryl Holt, Mais do que Sedução, 2004, tradução de Paulo Moreira, Quinta Essência, 2015, ISBN 978-989-1-319-3.

Cortesia de QEssência/JDACT