terça-feira, 1 de setembro de 2015

Pedro Fernandes Queirós ou Pedro Fernández Quirós (1565-615). Ilídio Amaral. «A travessia do Pacífico por Fernão Magalhães e Juan Sebastian El Cano, por conta da Coroa Castelhana, em 1519-1522, reactualizou mitos, como o local de minas do rei Salomão»

Derrota de PedroFernandesQueirós
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Quem era Pedro Fernandes Queirós?
«(…) Considerava-se um piloto excelente, tinha a sua empresa ou descoberta como a mais valiosa e não escondia quanto se orgulhava disso. E insistia que o rei financiasse, com urgência, o seu projecto porque dele teria muitos benefícios. Señor, al práctico no le es possible mostrar lo que ha de obrar; cuando se hallará en las ocasiones, ayúdeme V.M. en esta su obra, que es demasiadamente grande, y por ser de tanta honra y gloria de Dios, y a V.M. tan importante, es bien que V.M. la levante de una vez y muy de prisa, que la arte es larga, las vidas breves, la práctica muy difícil de adquirir, y mucho más los ánimos de conocer, y sin remedio los daños, de perderse las buenas ocasiones y el tiempo. É curioso notar como os dois descobridores, separados de um pouco mais de um século, usaram expressões muito semelhantes para descreverem o que viram, o que preferiram ver ou o que imaginaram ter visto:
  • são os casos de Pedro Fernandes Queirós (1565-1615), descobridor de ilhas numa parcela meridional do Pacífico, sem ter chegado a encontrar a Terra Australis, que era o objectivo da sua missão; 
  • e de Cristóvão Colombo (1451-1506), descobridor de ilhas próximas de uma parcela oriental do continente americano, sem ter encontrado as terras do Cipango, ou da Ásia, pelo ocidente, que era o objectivo da sua missão.
Cito alguns exemplos. Cristóvão Colombo na carta de 17 de Outubro de 1492 dirigida aos Reis Católicos, relativamente à ilha Fernandina escreveu o seguinte: Crean Vuestras Altezas que es esta tierra la mejor y más fértil y temperada y llana que haja en el mundo; as casas eram adentro muy barridas y limpas; ... de muchas poblaciones que yo vi […] las casas son de madera, las pertenencias muy limpias. Acerca de Jerusalém é evidente nos dois descobridores o espírito de cruzada. É uma das forças motoras da empresa de Colombo, como pode ser lido no final da sua carta de 26 de Dezembro de 1492: no regresso a Castela levaria hun tonel de oro que habrian rescatado los que habia de dejar y que habriam hallado la mina del oro y la especiara, y aquello en tanta cantidad que os reyes antes de tres años emprendiesen y aderezasen para ir a conquistar la Casa Santa […]; que toda la ganancia de esta empresa se gastase en la conquista de Jerusalén.

Viagens e descobertas de ilhas no Sul do Pacífico a mando da Coroa Espanhola, em tempos da decadência do seu Império.
A travessia do Pacífico por Fernão Magalhães e Juan Sebastian El Cano, por conta da Coroa Castelhana, em 1519-1522, reactualizou mitos, como o local de minas do rei Salomão, e velhas teorias medievais, como a existência da Quarta Pars Incognita. Até à ocupação das Filipinas em 1565 pela expedição colonizadora liderada por Miguel López Legazpi (1502-1572), o primeiro governador-geral das Índias Orientais Espanholas que incluíam Filipinas e alguns outros arquipélagos, como Guam e Marianas, e o estabelecimento da capital em Manila no ano de 1571, as navegações espanholas tinham-se circunscrito ao Pacífico setentrional e à descoberta de ilhas aí existentes, ainda que houvesse notícias que para o sul também haveria outros territórios insulares. Para os descobrir tiveram lugar as navegações empreendidas a partir do Vice-Reino do Peru no último terço do século XVI e primeiros anos do século XVII.
Entre 1567 e 1606 três expedições espanholas, todas elas partindo do porto de Callao da cidade de Lima, navegaram até aos confins ocidentais do Mar do Sul, descobriram numerosas ilhas e tiveram lugar os primeiros contactos de europeus com melanésios e polinésios. Dessas expedições as duas primeiras, em 1567-1569 e 1595, tiveram o comando de Álvaro Mendaña y Neyra. Na segunda Pedro Fernandes Queirós foi o piloto-mor. A terceira expedição, em 1605-1606, teve-o como comandante, sendo o seu segundo Luis Vaz Torres. O propósito era o da descoberta da mítica Terra Australis nondum incognita que alguns cartógrafos ilustres representaram nas suas cartas e globos». In Ilídio Amaral, Pedro Fernandes de Queirós ou Pedro Fernández de Quirós (1565-615), o Descobridor de ilhas, o Visionário de um continente cheio de riquezas […]), Edições Colibri, Lisboa, 2014, ISBN 978-989-689-446-7.

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