terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A Vida Privada de Jesus. Simcha Jacobovici e Barrie Wilson. «… a maioria dos estudiosos situa o Evangelho de Marcos por volta do ano 70 d. C.; o de Mateus, na década de 80; o de Lucas na década de 90; e o de João será posterior ao ano 90. Estas datas baseiam-se em reconstituições históricas»

jdact

Manuscrito 17202
«Depositado na Biblioteca Britânica, encontra-se um manuscrito datado de cerca de 570 d. C.. Foi adquirido a 11 de Novembro de 1847. O homem que o vendeu era um egípcio, Auguste Pacho, natural de Alexandria. O documento na posse de Pacho proveio do Mosteiro de São Macário, no Egipto. Fundado no século VI e situado entre o Cairo e Alexandria, no vale de Nítria, São Macário é um dos mais antigos mosteiros sírios do mundo. O manuscrito saiu do mosteiro em Julho, mas, a caminho do Reino Unido, Pacho fez uma paragem em Paris, tendo provavelmente vendido outros manuscritos às bibliotecas desta cidade. Chegou ao Reino Unido em Novembro e vendeu rapidamente o texto ao Museu Britânico, que depois o entregou à Biblioteca Britânica. O manuscrito do Mosteiro de São Macário foi arquivado com o despretensioso nome de British Library Manuscript Number 17 202. Está em siríaco, uma língua do Médio Oriente relacionada com o aramaico, o idioma de Jesus e de muitos dos seus contemporâneos. Intitulado A Volume of Records of Events Which Have Shaped the World (Um Volume de Registo de Acontecimentos Que Moldaram o Mundo), é uma colecção de textos, uma espécie de biblioteca em miniatura. Representa a tentativa de um monge do século VI de manter um registo de acontecimentos que, dada a sua importância e do seu ponto de vista, tinham abalado o mundo. Por consequência, inclui na colecção um relato da conversão do imperador Constantino ao cristianismo; uma importante história da Igreja que relata os debates acerca de Cristo; a descoberta de relíquias cristãs fundamentais do século I; e uma prova da vida eterna fornecida pela outrora famosa lenda dos Sete Adormecidos de Éfeso. Todos temas quentes no seu tempo... e para a sua comunidade de crentes.
Um dos documentos não parece enquadrar-se nesta colecção de escritos ostensivamente importantes. Recebeu o nome de The Story of Joseph the Just and Assenat his Wife (A História de José, o Justo, e de Assenat, Sua Esposa). É este que nos interessa aqui. É o nosso texto misterioso, e que constitui o alvo da investigação. A História de José, o Justo, e de Assenat, Sua Esposa não é criação do monge do século VI que a preservou. Foi traduzida para siríaco, como nos diz um anónimo escritor de cartas que apresenta a obra, a partir de uma obra grega bem mais antiga, talvez um século ou mais. Esse documento era provavelmente cópia de uma obra ainda mais antiga. Foi copiada, tal como os próprios documentos do Novo Testamento, por gerações de escribas aplicados que trabalharam arduamente para preservar esta narrativa preciosa para os futuros leitores. Este manuscrito siríaco recua na história, além dos séculos IV e III, até ao século II ou talvez ao século I d. C..
Por outras palavras, a história narrada no Manuscrito Número 17202  da Biblioteca Britânica pode vir do tempo em que Jesus ainda era vivo ou pouco depois, quando os Evangelhos canónicos que se encontram no Novo Testamento estavam a ser escritos. Não podemos ter a certeza absoluta da datação, nem a certeza da datação dos próprios Evangelhos. A este respeito, a maioria dos estudiosos situa o Evangelho de Marcos por volta do ano 70 d. C.; o de Mateus, na década de 80; o de Lucas na década de 90; e o de João será posterior ao ano 90. Estas datas baseiam-se em reconstituições históricas que têm em conta a época em que a mensagem estaria mais de acordo com o desenvolvimento do cristianismo primitivo inserido no contexto mais alargado do mundo romano. Não existem manuscritos do Novo Testamento datados do século I, portanto, não há originais. As mais antigas cópias completas dos Evangelhos que existem não são anteriores ao século IV. Em ambos os casos, o nosso manuscrito e os Evangelhos canónicos, não sabemos quem foi o autor. Tal como nos Evangelhos, no nosso manuscrito não existem datas relativas à sua autoria, nem originais datáveis com os quais possamos comparar o nosso exemplar. Só temos cópias de cópias de cópias, escritas séculos depois do original, e o rasto deixado pelo manuscrito só nos permite recuar até certo ponto. Não obstante, o nosso manuscrito é datado grosso modo da mesma época dos primeiros textos dos Evangelhos, podendo até ser anterior». In Simcha Jacobovici e Barrie Wilson, A Vida Privada de Jesus, 2014, tradução

Cortesia CAutor/JDACT