terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa. «O que eu penso não sei e é alegria pensá-lo; nada sou, salvo a harmonia interior entre existir e ouvir a música cantar-te e dissuadir da vida e desta inútil atenção…»

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Deus...
«O meu tédio não dorme.
Cansado existe em mim
como uma dor informe
que não tem causa ou fim».
(19-6-1915)

Alga
«Paira na noite calma
o silêncio da brisa...
Acontece-me à alma
qualquer cousa imprecisa...

Uma porta entreaberta...
Um sorriso em descrença...
Uma ânsia que não acerta
com aquilo em que pensa.

Sonha, dúvida, elevo-a
até quem me suponho
e a sua voz de névoa
roça pelo meu sonho...»
(24-7-1916)


Scheherazad
«O que eu penso não sei e é alegria
pensá-lo; nada sou, salvo a harmonia
interior entre existir e ouvir
a música cantar-te e dissuadir
da vida e desta inútil atenção
ao útil dada, morta [?] sensação
real, passada
e à minha mente [?] inutilmente dada».
(26-11-1916)

In Fernando Pessoa, Novas Poesias Inéditas, Colecção Poesia, Editorial Nova Ática, Lisboa, 2006, ISBN 972-617-178-4.

Cortesia de Nática/JDACT