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Conforme o original
Antologia
Virginia C. Silva Agoas
«(…) Faleceu contando apenas 27 anos de idade. Era filha do empregado do
Ministério da Fazenda, Agoas. O seu volume de versos, Outr’ora, prefaciado por Candido Figueiredo, foi comprado por mim
em plena rua, onde se vendia por preço ridículo, como sucede a tantas outras
obras. O facto apontado é a prova evidente do pouco interesse que uma bôa parte
dos Portuguezes tem por assumptos literários. E' com satisfação, que presto
homenagem á sua auctora, que em vida, tão assidua e distinctamente colaborou no
interessante jornal Os Echos da Avenida
que já conta bastantes anos de existência e no qual se encontram as biografias e
retratos de pessoas mais em evidencia no nosso meio literário. Virgínia Agoas
colaborou também nos jornaes A Tarde,
Folha do Sul, de Montemór-o-Novo,
etc. Num certapien literário iniciado pelos Echos
da Avenida, em 1906, uma das suas quadras foi das mais votadas. Esta
Poetisa tinha grande vocação para a pintura e para a musica. Escreveu ainda, um
livro de contos, Silvas, prefaciado
por Carlos Malheiro Dias e que á semelhança do que aconteceu com o seu volume
de versos, foi publicado postumamente.
Saudade
«Saudade tem-se de uma rosa linda
que a gente vê desfolhar tristonha,
saudade tem-se, quanto mais se sonha…
De um bem que morre… de um prazer que finda.
Saudade, causa tanta vez, ainda,
a própria dôr, a sensação medonha.
Mas essa é, a que provem risonha,
do recordar de uma ilusão infinda.
Saudade, encanto e lagrimas, existe
de um sonho bom de um sonho belo ou triste,
e tudo envolve em sua roxa côr.
Saudade!, ai é sentir todo um passado
nitidamente e sempre reavivado,
é derradeira pagina do Amor».
Virgínia Agoas. Outr’ora,
versos póstumos. Porto, 1913
Imaculada
«Um primor de arte antiga e requintada
essa medalha de subtis lavores,
que eu encontrei um dia abandonada
no banco de um jardim, por entre flores.
Na tampa de oiro, oval e cinzelada,
exibia uns idilios de pastores,
abraçando-se á luz da madrugada,
nos mais simples e candidos amôres.
Encontrei-a, e uma intensa vontade
levou-me a abril-a, cheia de anciedade,
essa medalha antiga e cinzelada…
Vi então, mais formosa do que Ester
um retrato de deusa, ou de mulher,
e uma palavra só: Imaculada!»
Virgínia Agoas. Outr'ora
Dormir. Esperar…
«Dormir, dormir, esquecer…
Coisa boa, que inda existe!
Dormir é quasi morrer,
allivio de quem é triste.
O tormento mais amargo,
o mais luminoso amor,
tudo cae n’esse letargo,
sempre pacificaôr!
Dormir! A paz para a alma!
Tréguas para qualquer dôr!
Descanso para o sentir!
Vaga, que instantes acalma!
Morte efémera do amôr
Esquecer… Dormir, dormir!»
Virgínia Agoas. Outr'ora
«No calvário espinhoso d’esta vida,
vou caminhando em busca de uma luz
que me será depois, na despedida,
derradeiro clarão, deposta a cruz».
Virgínia Agoas. Outr'ora
In Nuno Catarino Cardoso, Poetisas Portuguesas, Prefácio, Antologia
contendo dados de 106 poetisas, Livraria Scientífica, Lisboa, 1917, Library
University of Toronto, 1969.
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