quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A Vida Privada de Jesus. Simcha Jacobovici e Barrie Wilson. «Para fazer uma distinção clara entre o nosso comentário e a sinopse, separámos a segunda e usámos para ela um tipo de letra diferente. Eis, pois, “A História de José, o Justo, e Assenat, Sua Esposa”»

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Manuscrito 17202
«(…) Embora o documento em questão tenha sido conhecido por muitos nomes no mundo antigo, os académicos actuais referem-se-lhe sob a designação de José e Assenat. A obra é curiosa. Por um lado, o nome é terrivelmente enganador. Foi apelidado José e Assenat porque sugere que trata do antigo patriarca israelita José e da sua obscura esposa egípcia, Assenat. Segundo o livro bíblico do Génesis, estas personalidades viveram há cerca de três mil e setecentos anos, algumas gerações depois de Abraão, mas muito antes de Moisés e mil e quinhentos a mil e setecentos anos antes do nascimento de Jesus de Nazaré. Contrastando com a história bíblica de José e Assenat, o manuscrito da Biblioteca Britânica narra uma história aparentemente diferente. Trata-se de amor, sexo sagrado, política, traição e homicídio. Uma história extremamente interessante, mesmo segundo os padrões antigos. De facto, muito pouco do que está no manuscrito corresponde ao relato bíblico de José e Assenat. Não é, de modo algum, a mesma história. Existem demasiados pormenores que nos convidam, exigem mesmo, a transpor a sua camada superficial e a entrar no sentido subjacente; uma história secreta. Por outras palavras, suspeitamos fortemente de que a narrativa à superfície é na realidade uma história falsa para ocultar uma mensagem mais profunda, que faz todo o sentido, mas só no contexto dos primeiros tempos do cristianismo.

O que diz?... E o que não diz?
José e Assenat da Biblioteca Britânica constitui uma história diferente da que se encontra no Livro do Génesis. Parece usar os nomes José e Assenat como códigos, para nos dizer de forma disfarçada, uma coisa muito importante acerca da história de duas outras pessoas. Oculta sob a narrativa superficial uma mensagem mais profunda, com maior premência. Existem quatro episódios no documento. Para fazer uma distinção clara entre o nosso comentário e a sinopse, separámos a segunda e usámos para ela um tipo de letra diferente. Eis, pois, A História de José, o Justo, e Assenat, Sua Esposa, as questões que levanta e a história oculta que sugere.

Sinopse
José, o antigo patriarca israelita, está no Egipto e aproxima-se da cidade de Heliópolis. Envia mensageiros a Potifera, um sacerdote de Heliópolis e conselheiro do faraó, indicando que gostaria de almoçar com ele. Potifera tem uma filha muito bela, Assenat, uma virgem de dezoito anos que se tem afastado dos homens. José também é virgem. Embora Assenat seja egípcia, é descrita como nobre e gloriosa como Sara, bela como Rebeca e virtuosa como Raquel, a matriarca do antigo Israel. A propriedade de Potifera é descrita em pormenor. Inclui uma casa e um jardim luxuriante. E, o mais importante, contém uma torre alta. Assenat vive no andar superior da torre, com dez divisões, descritas pormenorizadamente, incluindo uma sala dedicada a uma série de divindades. É servida por sete belas virgens. Toda a propriedade é rodeada por muros e portões. Para saudar José, Assenat veste um trajo de fino linho branco e rubis. Depois coloca uma coroa na cabeça e cobre-se com véus nupciais. Os pais rejubilam ao vê-la ornada como uma Noiva de Deus. Potifera descreve José como o Poderoso de Deus e como o salvador. Continua, dizendo a Assenat que José te será dado como teu noivo para sempre. Assenat começa por desprezar José por ser estrangeiro, o filho de um pastor de Canaã, diz ela desdenhosamente, mas quando o vê muda de opinião. José chega no seu carro triunfal dourado. Veste uma túnica branca e um manto púrpura e a sua cabeça está ornada com uma coroa de ouro. Doze luminosos raios dourados, como os raios do Sol a brilhar, emanam da sua cabeça. Na mão esquerda segura um ceptro real; na direita, uma planta semelhante a um ramo de oliveira. Assenat modifica a primeira impressão desdenhosa e diz: agora vejo o sol a brilhar que emana do seu carro que chegou até nós, acrescentando que não se apercebera de que José era o Filho de Deus. José come separado dos egípcios (presumivelmente por questões relacionadas com a dieta judaica). Assenat saúda José: abençoado do Deus Supremo, a paz esteja contigo. José responde: possa o Senhor, portador da vida para todas as coisas, abençoar-te. José e Assenat são proclamados como irmão e irmã. Potifera encoraja-os a beijarem-se. Quando estão prestes a fazê-lo, José coloca a mão direita entre os seios de Assenat e diz: não está certo que um homem que venera Deus, que abençoa o Deus vivo e come o pão abençoado da vida e bebe a taça abençoada da imortalidade e da incorruptibilidade e que é ungido com o unguento perfumado da santidade tenha relações sexuais e beije uma mulher estrangeira que abençoa os mortos, ídolos ocos e come imundas comidas estranguladas e bebe a libação do embuste e foi ungida com o unguento da corrupção. Assenat fica desconcertada com esta rejeição. Vendo a dor de Assenat, José comove-se e ora. Em nome do Deus que chama as pessoas da escuridão para a luz, do erro para verdade e da morte para a vida, implora-Lhe que renove e transforme Assenat. Reza para que ela possa comer o pão eterno da vida, beber da taça abençoada e figure entre o povo de Deus e viva para sempre. Dito isto, José sai, prometendo regressar dentro de oito dias». In Simcha Jacobovici e Barrie Wilson, A Vida Privada de Jesus, 2014, tradução

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