sábado, 26 de dezembro de 2015

Os Banqueiros de Deus. Gerald Posner. «Mas não depositava nos clérigos a sua esperança no futuro das finanças do Vaticano. Confiava sobretudo num punhado de leigos mais jovens»

jdact

Não é papa nenhum
«Enquanto sacerdotes católicos geriam redes de fuga de criminosos de guerra nazis e Pio XII e os seus cardeais travavam uma guerra contra o comunismo, Bernardino Nogara, conselheiro financeiro do Vaticano, aperfeiçoava o Instituto para as Obras da Religião (IOR). A Igreja preparava-se para beneficiar com a nova ordem resultante da Guerra Fria. Muitos dos piores receios de Nogara tinham sido concretizados pela devastação na Europa do pós-guerra. A produção industrial caiu a pique. O desemprego atingiu números nunca vistos. Havia mais de oito milhões de deslocados. Um quarto de toda a habitação urbana alemã tinha sido destruído e o produto interno bruto do país caíra uns impressionantes setenta por cento. A vitória democrata-cristã de 1948 em Itália animou Nogara, pondo fim à ameaça comunista de nacionalização de muitas indústrias. Se tal tivesse acontecido, teria destruído investimentos avultados do Vaticano e os esquerdistas mais empenhados teriam substituído os representantes da Igreja nos conselhos de administração das principais empresas. Mesmo que Nogara demonstrasse confiança na sobrevivência do IOR às nacionalizações, sabia que as perdas colossais a curto prazo seriam inevitáveis. Completara setenta e oito anos um par de meses antes das eleições. A boa saúde e a mente ágil não impediram que preparasse o dia em que passaria a estar ausente do Vaticano. Reuniu uma pequena equipa de clérigos e leigos de confiança. Monsenhor Alberto di Jorio trabalhava com ele há mais tempo que qualquer outro clérigo.
Di Jorio era o secretário da comissão de supervisão do IOR composta por três cardeais (e que pouco mais fazia do que rever anualmente um sumário de página única das actividades do banco). O seu chefe era Nicola Canali, um dos prelados que tinha investigado Nogara quando Pio XII fora eleito papa. Canali estava incumbido também de gerir a Administração Especial, responsável gela propriedade da Igreja recebida dos Acordos de Latrão. Referido de forma não oficial como ministro das Finanças, mantinha-se bastante activo na política da Cúria. Nogara apreciava Canali pelo seu apego rigoroso à disciplina. Bernardino acreditava que asseguraria que o IOR e a Administração Especial não se afastariam demasiado do seu rumo lucrativo. Mas não depositava nos clérigos a sua esperança no futuro das finanças do Vaticano. Confiava sobretudo num punhado de leigos mais jovens. O conde papal Carlo Pacelli era um dos três sobrinhos de Pio XII no Vaticano. Era o conselheiro geral da cidade-estado. Durante a guerra, Nogara confiara nele para obter conselhos abrangentes acerca dos negócios internacionais do IOR. Além de contar com a confiança de Bernardino, Pacelli era um dos poucos funcionários leigos com quem o papa reunia com regularidade.
Nogara pedira pessoalmente a Massimo Spada para se juntar ao departamento financeiro do Vaticano em 1929. Spada, que, pouco antes, se tornara corrector bolsista, nunca ouvira falar da Administração das Obras da Religião. Nogara disse-lhe que funcionava quase como um banco no que diz respeito à administração dos depósitos dos institutos religiosos e das obras de caridade eclesiásticas. Foi suficiente para Spada, cujo pedigree era imaculado. O seu bisavô fora o banqueiro privado de um Nobre Negro (nome dado aos aristocratas em luto pelo fim dos Estados Papais e consequente prisão auto-imposta do papa no Vaticano) de relevo, o príncipe di Civitella-Cesi Torlonia. O avô de Spada fora director do Banco de Itália e o seu pai chefiara uma agência de negócios externos que negociava com a Igreja. Com os seus célebres fatos cinzentos de lapelas sobrepostas e calças de cintura elevada, Spada era uma presença familiar no Vaticano. Tornara-se um favorito de prelados com destaque na hierarquia depois de liderar o movimento para contrariar uma apropriação hostil da Banca Cattolica del Veneto controlada pelo IOR. No final da guerra, tornara-se o secretário Administrativo do IOR, o leigo de posição mais elevada a seguir a Nogara. Lúgi Mennini, pai de catorze filhos, era um banqueiro privado experiente, a quem Nogara pedira também para trabalhar para o IOR. Tornou-se o conselheiro de maior confiança de Spada. Raffaele Quadrani, que trabalhara durante alguns anos em bancos de Paris e Londres, foi outra contratação de Nogaral. Foi recomendado pelo seu irmão, Bartolomeo, director do Museu Vaticano». In Gerald Posner, Os Banqueiros de Deus, 2015, Editora Self-Desenvolvimento Pessoal, 2015, ISBN 978-989-878-155-0.

Cortesia de Self/JDACT