sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Ao Rés da Terra. Poesia. António Borges Coelho. «São novos seres nem homem nem montanha cogumelos de ferro de coragem rectangulares cúbicas quadradas quem sois ó seres suspensos na paisagem»

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Asfalto
«Multidão é chuvada
de óleo explosão
dentes à dentada
incessantes
os gemidos dos amantes»

«Se indago nas coisas sinais do futuro
quebrando contra elas o espírito as asas
fico sobre colunas
como a massa aérea fantástica das casas

Suspensas nos pilares sem um cansaço
sem músculos em contracção
meditam levantadas sobre o espaço
com seis colunas suportando a solidão

São novos seres nem homem nem montanha
cogumelos de ferro de coragem
rectangulares cúbicas quadradas
quem sois ó seres suspensos na paisagem

Pirâmides aquedutos
gigantescos besouros que pousaram
ó casas altas sois os novos frutos
que as mãos sábias dos homens cultivaram

Estou dividido entre a casa alta
e a multidão que as ruas corre
quero andar mas no pensar há qualquer falta
as minhas pernas são colunas onde todo o esforço morre»
Poemas de António Borges Coelho, in ‘Ao Rés da Terra

In António Borges Coelho, Ao Rés da Terra, Editorial Caminho, (da Poesia), Lisboa, 2001, ISBN 972-211-454-9.

Cortesia de Caminho/JDACT