terça-feira, 13 de outubro de 2015

Cinco turcos em Paris. Nicolas Bourbaki. Armando Araújo. «… a Academia das Ciências e, sem se dar por isso, todo o ambiente intelectual francês. “Bourbaki” deixara de ser um revolucionário subversivo»


Cortesia de wikipedia

Nota: A quase totalidade deste texto foi extraído, com a devida vénia, da revista Ingenium, II Série, N.º 35, Março de 1999. Algumas frases estão ligeiramente alteradas, mantendo o mesmo sentido, outras são nossas, incluindo o título.

«(…) Mesmo longe da Matemática, o poder de Bourbaki fez-se sentir. Por exemplo, as escolas estruturalistas de Lacan e Lévi-Strauss reclamaram explicitamente ser herdeiras intelectuais das estruturas à Bourbaki. E a reforma do ensino matemático dos anos 60, em França, com a criação da famigerada Matemática Moderna, foi decisivamente influenciada pela atmosfera Bourbaki, apesar de encabeçada por um não-bourbakista, de nome Lichnerowicz. No final dos anos 60, Bourbaki tinha conquistado tudo e todos. Dominava as principais instituições universitárias, a Academia das Ciências e, sem se dar por isso, todo o ambiente intelectual francês. Bourbaki deixara de ser um revolucionário subversivo. Representava, agora, o sistema. Talvez não surpreenda que, em Maio de 68, uma das acções dos estudantes da ÉcoleNormale tenha sido fazer uma representação e distribuir panfletos a anunciar… a morte de Nicolas Bourbaki. Porém, um dos elementos, de nome Pierre Cartier, bourbakista de terceira geração, em 1998 anunciou a morte de Bourbaki. Mas tudo leva a crer que esse anúncio terá sido precipitado já que, em Julho desse mesmo ano, o grupo publicou o seu 41.º volume, depois de quinze anos em completo silêncio. Neste volume está o Capítulo X da Álgebra Comutativa. Testamento ou Recomeço? A explosão da matemática deve contribuir para a continuação deste grupo de génios anónimos, pois megalómanos existem aos milhões. Quero dizer, existe um Bush dentro de cada malandro. E se me dizem que Saddam é malandro, e é, então existe um Bush dentro dele.

Curiosidade. Marca de Água
Marcas de água ou filigranas são variações de espessura no papel, obtidas quando do fabrico deste, utilizando um molde especial que, em tempos idos, era feito de arame. Trata-se de desenhos ou filamentos transparentes que aparecem nalguns tipos de papel, tais como o Bond e o Vergê, desenhos esses que representam uma espécie de selo de garantia do fabricante. Tais filamentos fazem com que a massa fique menos espessa e permitem a formação desses desenhos. Estas marcas aparecem em papéis de qualidade para impressão cuidadosa. O exemplo mais evidente é o do chamado papel-à-mão. Que vem a ser este papel? Trata-se da designação dada ao papel fabricado com grande teor de celulose pura, por norma algodão ou linho (trapos). É um papel de altíssima qualidade. Usado, por isso, em moeda-nota, edições de luxo, documentos importantes, etc., dada a sua resistência ao desgaste. A moeda-nota, além de ser executada sobre este papel, é reproduzida graficamente com muito cuidado e preocupação, com especial realce para as filigranas (marcas d’água), feitas de figuras ou símbolos, com esbatido a imitar o claro-escuro, difícil de falsificar. Autênticas obras de arte, estas filigranas. Visto à transparência, dá-nos uma noção de claros-escuros, resultando num efeito de imagem (normalmente um símbolo ou logotipo identificativo da marca). Esta imagem é, portanto, observável à transparência. É obtida na mesma máquina que fabrica o papel, mediante um fio ou placa de cobre (filamento metálico adaptado a um cilindro da máquina de fabricação do papel). Antigamente, tais marcas eram usadas no papel de cristal, com que as floristas embrulhavam as flores, no papel de cigarros e outros. Cerca de 1250, na Itália, os papeleiros de Fabriano introduziram esta novidade em alguns papéis. Fazia-se um desenho com arame de boa qualidade, o qual se colocava sobre a rede que se encontrava no molde. Este desenho era visto na textura do papel. Os investigadores sobre os primeiros livros impressos tinham em linha de conta a posição da marca de água, uma vez que este pormenor indica a forma como se dobrava a folha impressa, por um lado, e por outro, dá indicações, em certos casos, sobre a parte da folha a que pertence um determinado fragmento de página. As filigranas ou marcas de água (marcas d’água) são de uso antiquíssimo. Desenhos de animais e plantas, obtidos com fios que se dispunham sobre a rede da forma, também designada chapa, foram das primeiras marca d’água que se fizeram. Quando se olha a marca d’água contra a luz, vêem-se pontos mais transparentes do que outros. Este fenómeno resulta do facto de, sobre os fios, se colocar a pasta, fazendo com que a espessura seja menor». In Armando Araújo, Cinco Turcos em Paris, Nicolas Bourbaki, Matemática Lúdica.

A amizade de Armando Araújo
Cortesia de AA/JDACT