Duque de Aveiro
José
Mascarenhas Silva Lencastre, 8º duque de Aveiro, 5º marquês de Gouveia, 8º conde
de Santa Cruz (1708-1759)
«(…) Estes por seu lado parecem
ter suspeitado que o duque seu cunhado, tinha
favorecido o adultério do rei com a sua nora Teresa Tomásia, numa viagem a Salvaterra. Para enredar
ainda mais a teia, constava que o rei tinha ofendido a honra do duque ao requestar-lhe
a filha Joana Tomásia, ainda adolescente. Preso no seu palácio de
Azeitão em Dezembro de 1758, o duque
foi condenado, e barbaramente executado a 13 de Janeiro seguinte. Em 1777, o seu filho Martinho Mascarenhas,
o chamado marquesito, depois
de ter aceite a libertação do forte da Junqueira, recebeu ainda uma pensão
anual de 1.200$000 reis anuais. Quando impetrou a revisão do processo movido a
seu pai, tal foi-lhe recusado, com a argumentação de ter aceite a libertação
sem ter sido declarado inocente. E a memória do duque de Aveiro nunca foi
reabilitada.
O atentado. Processo e execução
Antes
do atentado
Parece ser um facto indesmentível
que José Carvalho Melo, tinham na década de 50 uma forte oposição de grande
parte da nobreza e da Companhia de Jesus. Era latente na época o forte desejo
de se criar uma alternativa minimamente credível, e aí se pode inserir a luta
travada entre Carvalho Melo e o rei com a oposição, por causa do casamento do
infante Pedro, irmão do monarca com dona Maria, futura rainha de Portugal. Como
já vimos, Carvalho Melo saiu vencedor, pois o casamento só se veio a realizar
em 1760, e numa altura em que as
grandes cabeças da nobreza já tinham rolado em Belém e os jesuítas se
encontravam expulsos do reino. De um ponto de vista meramente subjectivo é pois
possível conjecturar, que parte da nobreza mais os jesuítas não vissem com maus
olhos o desaparecimento do rei ou de Carvalho Melo. Mas um desejo não é uma
realidade e o processo fabricou de um atentado, um crime organizado pela alta
nobreza oposicionista mais a Companhia de Jesus. Como? Cheio de depoimentos e testemunhos falsificados pela
tortura e outros compostos pelo próprio tribunal.
Já vimos também que os Távora
tinham uma velha questão com o rei, devido à relação amorosa que este mantinha
com a marquesa nova, Teresa Tomásia. Sentiam-se também injustiçados
pelos brilhantes serviços prestados na Índia e que nem o rei nem Carvalho Melo
quereriam recompensar. Constituíam também sem dúvida a guarda avançada da alta
nobreza na protecção à Companhia de Jesus. Eis como um emissário de Luís XV,
via os Távora, três anos depois: a
marquesa mãe e seu marido desde há muito, sabiam das relações amorosas do rei,
e em boa paz as sofriam. Nenhum dos dois era escrupuloso na espécie, e há mesmo
aparência de que se compraziam do facto enquanto dele esperavam vantagens. Mesmo
que assim não fosse, e já vimos que eram pessoas altivas a quem provavelmente repugnavam
tais negócios, certo seria que o caso amoroso já durava há cerca de sete anos,
e que não seria agora que iriam recorrer à infâmia e violência de um crime,
para resgatar essa afronta. Como pessoas manejando os bastidores da política
com a prudência e o à vontade de ser quem eram, decerto que saberiam separar
Carvalho Melo do rei e ver que depor Carvalho Melo era uma coisa, atentar
contra a vida do rei outra muito diferente. Eram pessoas da alta nobreza, já
não muito novas e que não iam comprometer o nome da família numa acção infame.
A Companhia de Jesus por seu
lado, desmantelada como estava a ser na América do Sul, tinha razões de sobra
para mal querer a Carvalho Melo e por acréscimo ao próprio rei. Porém, não se
está a ver uma Ordem religiosa, mesmo tendo em atenção os interesses materiais
em jogo, numa monarquia hereditária, em pleno século XVIII, cometer o sacrilégio
e a imprudência de colaborar num atentado à vida do próprio rei. Ter ainda em atenção
que a Companhia de Jesus no século XVIII passava por ser a ordem religiosa mais
poderosa de Portugal de parceria com a ordem de S. Domingos, e que eram eles os
confessores do rei e de grande parte da nobreza. E decerto que também os
jesuítas, sabiam ver a fronteira que separava Carvalho Melo, um mero secretário
de Estado do monarca José I, rei de Portugal.
Quanto
ao duque de Aveiro, como já vimos, José Mascarenhas era um homem com queixas do
rei e de Carvalho Melo, e que pelo seu carácter, poderia ser considerado como
suspeito, embora como é óbvio isso não pudesse chegar por si só, para o
incriminar. Era rude, jactancioso e soberbo. E sendo um dos homens mais poderosos
de Portugal, ainda assim sobreavaliava o seu poder. Como já disse atrás, o rei
embargou o casamento de seu filho com a duquesa de Cadaval, bem como negou
sempre, algumas comendas do anterior ducado de Aveiro que o duque cobiçava e a
que se julgava com direito. Em termos de honra havia o caso do monarca ter
requestado a sua filha Joana Tomásia, ainda adolescente, em 1758 teria 16 anos apenas!
Falava-se também na época, que a própria mulher do duque, Leonor, cunhada
da marquesa de Távora, também Leonor, muito tempo antes, fora mais um caso
amoroso do monarca. No que respeita a outros representantes da alta nobreza e
para lá de razões circunstanciais que lhes assistissem, grande parte deles
tinha o agravo de Carvalho Melo com a centralização empreendida, e com o ênfase
dado às Secretarias de Estado, menorizando outros órgãos de poder, os ter
subalternizado». In Manuel Benavente Rodrigues, Grandes de Portugal no século XVIII,
Inventários da Casa de Távora, Atouguia e Aveiro (1758-1759), revista Pecvnia,
nº 11, 2010, APOTEC-Lisboa.
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