O Palácio do Intendente
«(…) O mesmo autor
descreve da seguinte forma esses equipamentos desenhados por José Manuel Negreiros:
Os chafarizes desenhados por JMN destinavam-se aos quartéis planeados no Engenheiro
Civil Portuguez; caracterizam-se por uma extrema simplicidade conseguida
através de um jogo aparentemente erudito de círculos e ovais entrelaçados. Por
vezes, os projectos ampliam-se com a inclusão de fontões em querena, aletas,
zonas de rusticado, pequenas exedras; são desenhos barrocos à francesa,
ou melhor, na velha tradição da escola do Aqueduto a que Negreiros
estava ligado por laços familiares e confessadas admirações.
Pode ver-se um
campanário de forma quadrangular e telhado de quatro águas piramidal, acrescentado
posteriormente e que nada tem a ver com o edifício original. Lateralmente, repete-se
o esquema rusticado ao extremo, seguindo-se várias janelas iguais às que se vêm
na fachada frontal. O desenho conhecido como Prospecto da Igreja e Palácio
do Donatário e Senhor do Solar da Vª de Manique do Intendente padroeyro da
mesma Igrª, apresenta algumas diferenças relativamente ao que foi
construído. Os óculos elípticos não existem e a decoração em cantaria das
janelas é algo diferente. Por outro lado o frontão da Igreja é interrompido, acentuado
ainda mais a verticalidade do segmento. O contorno deste aparece em relevo no frontão
que foi de facto construído. Nos extremos, os torreões são rematados por cúpulas,
que possuem um óculo enquadrado por cantaria trabalhada e são encimados por pináculos
em forma de pinha. As estátuas que pontuam a balaustrada representam imperadores
romanos e figuras de Elmo e Couraça. Se este desenho corresponde a
uma fachada alternativa para o mesmo palácio, ou se as alterações verificadas
aconteceram no decorrer da construção é, por enquanto, impossível
destrinçar.
Quanto ao interior, a
planta da igreja é longitudinal, de uma só nave, sem capelas laterais e com
capela-mor rectangular. Por cima da entrada, um coro-alto/tribuna abre para a
nave e comunica com o corpo do Palácio. O tecto é em madeira, curvo, e o
telhado tem duas águas. É decorada com mármores policromos. O Palácio nunca foi
finalizado pois, em 1805, com a
morte do Intendente, as obras foram abandonadas. Em 1941, um ciclone destruiu a cobertura da arcada principal do
claustro. O edifício sofreu obras de beneficiação, promovidas pela população.
Em 1979, foram reconstruídas algumas
coberturas e alteradas as obras anteriormente referidas, por iniciativa da
DGEMN. Durante a década de 80, o conjunto foi tendo pequenas reparações com
vista ao seu aproveitamento. Posteriormente, em 1987, foram iniciadas obras para a instalação de um Centro de Dia
para a Terceira Idade, sem a devida legalização, pelo que foram embargadas e nunca
terminadas.
A integração deste
edifício na nossa história da arquitectura torna-se complexa uma vez que não
existem pontos de comparação. O conjunto mafrense, indicado por alguns autores como
inspiração para o Palácio de Manique, tem um programa mais amplo
(engloba um convento) e muito mais vasto. Além disso, o facto de se tratar de
uma residência real traz-lhe uma complexidade acrescida. No caso de Manique,
por exemplo, é difícil justificar a opção por duas alas com igreja a mediar (em
Mafra, elas são atribuídas uma ao Rei e outra à Rainha) e a ausência de uma
entrada claramente anunciada como principal. São quatro as entradas, sendo
que, pelo que é possível observar, a mais central de cada ala teria dado acesso
a uma escadaria de honra, com um lanço de escadas que se transformava em dois
após um patamar. Esse espaço tem os vãos internos decorados com pedra lavrada e
é iluminado por três janelões, também com pedra trabalhada na face interior.
Ainda assim existem, aparentemente, duas entradas principais, sem que programaticamente tal faça sentido. Poderia
este conjunto de Palácio-igreja ter outro tipo de função complementar?
Arquitectura e Urbanismo em Portugal e na Europa. Contextualização
Histórica
A segunda metade do
século XVIII, na Europa, é marcada por dois acontecimentos: o despertar da
indústria e a Revolução Francesa. Numa Europa dominada por regimes
de cariz absolutista, com o dinheiro e o poder há muito firmes nas mãos de
antigas famílias nobres e da Igreja, estes dois acontecimentos vieram sacudir a
ordem instalada. Por outro lado, estamos perante uma época que começa a
acordar para o conhecimento do Mundo, de um modo objectivo. Tais factos
levaram, por razões diversas, a uma profunda mudança em todas as áreas da
sociedade. Entretanto, a Revolução Francesa, com os seus ideais de Igualdade,
Fraternidade e Liberdade, que se espalharam rapidamente para as outras
nações europeias, modificou as relações entre classes». In Cátia Gonçalves Marques,
Departamento de Arquitectura da FCTUC, Junho de 2004.
Cortesia de FCTUC/JDACT