terça-feira, 13 de outubro de 2015

Steve Jobs. Walter Isaacson. «Steve Jobs soube desde cedo que havia sido adoptado: Meus pais eram muito abertos comigo em relação a isso. Ele tinha uma memória, quando tinha seis ou sete anos, e contar esse facto a uma menina que morava do outro lado da rua»

Cortesia da wikipedia e jdact

«As pessoas que são loucas o suficiente para achar que podem mudar o mundo são aquelas que o mudam». In Pense diferente, Apple, 1997

Infância. Abandonado e escolhido. A adopção
«(…) Seu pai possuía refinarias de petróleo e muitas outras empresas, com grandes propriedades em Damasco e Homs, e a certa altura chegou a controlar o preço do trigo na região. Tal como a família Schieble, os Jandali valorizavam a educação; durante gerações, os membros da família foram mandados a Istambul ou à Sorbonne para estudar. Abdulfattah Jandali, embora muçulmano, foi enviado para um internato jesuíta e fez a graduação na Universidade Americana, em Beirute, antes de ir para a Universidade de Wisconsin como estudante de pós-graduação e assistente de ensino de ciência política. No verão de 1954, Joanne foi com Abdulfattah para a Síria. Passaram dois meses em Homs, onde ela aprendeu com a família dele a fazer pratos sírios. Quando voltaram para Wisconsin, ela descobriu que estava grávida. Tinham ambos 23 anos, mas decidiram não se casar. O pai dela estava muito doente na época, e havia ameaçado deserdá-la se ela se casasse com Abdulfattah. Tampouco o aborto era uma opção fácil numa pequena comunidade católica. Assim, no início de 1955, Joanne viajou para San Francisco, onde ficou sob a protecção de um médico bondoso que abrigava mães solteiras, fazia o parto de seus bebés e cuidava discretamente de adopções sigilosas. Joanne fez uma exigência: seu filho deveria ser adoptado por pessoas com estudos universitários Então o médico providenciou para que o bebê fosse adoptado por um advogado e esposa. Mas quando o menino nasceu, em 24 de Fevereiro de 1955, o casal designado decidiu que queria uma menina e recuou. Assim, o menino tornou-se filho, não de um advogado, mas de um mau aluno da escola secundária e com paixão por mecânica e da sua carinhosa esposa, que trabalhava então como guarda-livros. Paul e Clara deram ao recém-chegado bebé o nome de Steven Paul Jobs.
No entanto, ainda havia a questão da exigência de Joanne de que os novos pais de seu filho tivessem estudos universitários: quando descobriu que ele fora adoptado por um casal que não tinha sequer completado os estudos básicos do secundário, ela recusou-se a assinar os papéis da adopção. O impasse durou semanas, mesmo depois que o bebé Steve já estar a viver na casa dos Jobs. Por fim, Joanne cedeu, mas, estipulou que o casal prometesse, na verdade, eles assinaram um compromisso, que iria criar poupanças e enviar o menino para a faculdade. Havia outra razão para que Joanne fosse recalcitrante quanto a assinar os papéis da adopção. O pai estava prestes a morrer e ela planeava casar-se com Jandali logo depois da sua morte. Ela mantinha a esperança, como contaria mais tarde a membros da família, às vezes com lágrimas nos olhos, ao lembrar, de que, depois que estivessem casados, ela poderia recuperar o seu bebé.
Com efeito, Arthur Schieble morreu em Agosto de 1955, poucas semanas após a adopção ser oficializada. Logo depois do Natal daquele ano, Joanne e Abdulfattah Jandali casaram-se na igreja católica de São Filipe, o Apóstolo, em Green Bay. Ele obteve o seu doutoramento em política internacional no ano seguinte, e mais tarde tiveram outra criança, uma menina chamada Mona. Depois, ela e Jandali divorciaram-se em 1962, e Joanne deu início a uma vida fantasiosa e peripatética, que sua filha, que se tornaria a grande romancista Mona Simpson, captaria em seu pungente romance Anywhere but here (Em qualquer lugar, menos aqui). Mas, tendo em conta que a adopção de Steve havia sido particular e sigilosa, demoraria vinte anos para que eles todos se encontrassem.
Steve Jobs soube desde cedo que havia sido adoptado: Meus pais eram muito abertos comigo em relação a isso. Ele tinha uma memória vívida de estar sentado no relvado de sua casa, quando tinha seis ou sete anos, e contar esse facto a uma menina que morava do outro lado da rua. Então isso significa que os teus pais verdadeiros não te queriam, a menina perguntou. Ooooh! Relâmpagos explodiram na minha cabeça, segundo Jobs. Lembro-me de correr para casa, chorando. E meus pais disseram: Não, tu tens de entender. Estavam muito sérios e olharam-me directamente nos olhos. Eles disseram: Nós escolhemos-te. Ambos disseram isso e repetiram devagar para mim. E puseram ênfase em cada palavra daquela frase». In Walter Isaacson, Steve Jobs (Edição 1), tradução de Berilo Vargas, Denise Bottmann, Pedro Soares, Editora Companhia das Letras, Wikipedia, iOS Books, LegiLibro, 2011, ISBN 978-853-591-971-4.

Cortesia ECdasLetras/JDACT