quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Povos e Cultura nº 7. 2001. Timor Hoje. Garcia Leandro. «… o aumento do poder aquisitivo por parte das populações, criando mercados anteriormente inexistentes e fazendo crescer as trocas comerciais inter-Bacia em detrimento de outras relações tradicionais»

Cortesia de wikipedia

Timor e a Geo-Política Regional
«(…) Não se pode compreender bem a situação actual de Timor sem se conhecer o longo caminho seguido pelos povos e nações da Bacia do Pacífico desde a II Grande Guerra, e com mais significado a partir da década de 80. Trata-se da região que mais se tem modificado desde a II Grande Guerra e onde desde o início da década de 80 se começou a desenvolver e a aprofundar o conceito de interesses comuns entre os países a ela pertencentes, ou seja, o conceito de Comunidade do Pacífico. Contrariamente ao que ocorreu no resto do globo, estas alterações não foram consequência da queda do muro de Berlim em 1989, nem do final da Guerra Fria. Foi toda uma progressão que veio a ocorrer desde os anos 60, principalmente após o final da guerra do Vietname e que merece uma análise cuidada. Por que se tornou esta região hoje tão importante para o sistema global? São de recordar duas afirmações feitas na década de 80 pelos responsáveis das duas superpotências. Em Outubro de 1984, Ronald Reagan afirmou: O Pacífico é onde o futuro do mundo se encontra. Mais tarde, em Julho de 1986, em Vladivostok, Mikhail Gorbachev dizia: A situação no Extremo Oriente, na Ásia e nas vastidões oceânicas vizinhas, onde somos habitantes permanentes e navegadores de longa data, é para nós de interesse nacional e de Estado. Foi o reconhecimento formal de um novo fenómeno político e económico.

Razões para a importância crescente da bacia do pacífico
Há razões que, acumuladas e inter-relacionadas, justificam não só as afirmações citadas mas também a importância crescente da Bacia do Pacífico, onde Timor Leste se encontra. Ao tentar efectuar esta análise considero de salientar as seguintes doze razões: 1. O Pacífico ocupa uma área quase igual à de todos os outros oceanos (Atlântico, Índico e Árctico); 2. Ao seu redor e no seu interior vive cerca de 72% da população mundial; 3. O conflito Norte-Sul é menos forte ali do que noutras partes do globo; 4. Quatro das maiores potências mundiais, EUA, Federação Russa, Japão, China, nele têm as suas costas, também algumas potências crescentes a ele pertencem, como sejam o Canadá, a Austrália e a Indonésia; 5. O crescente interesse da ex-URSS na região Ásia-Pacífico, que não será alterado pela Federação Russa, e o facto de a área ser considerada essencial para os EUA (mesmo após a implosão da União Soviética); 6. A recuperação económica japonesa pós-II GM e o seu alinhamento político-estratégico com os EUA e a Europa; 7. A vitória da revolução comunista chinesa (1949) e a evolução da República Popular da China, tanto internamente como no seu posicionamento internacional; 8. A descolonização europeia do SE asiático, criando um diversificado conjunto de Estados, hoje só existem territórios não autónomos nas ilhas dispersas nos vários arquipélagos do oceano (dependências dos EUA, Reino Unido, França, Austrália, Nova Zelândia); 9. Investimentos ocidentais, japoneses e árabes (petrodólares) que, ligados às características de alguns povos e regimes políticos da Região, criaram os chamados milagres económicos; 10. Em consequência, o aumento do poder aquisitivo por parte das populações, criando mercados anteriormente inexistentes e fazendo crescer as trocas comerciais inter-Bacia em detrimento de outras relações tradicionais; 11. A excelente reacção de certas economias regionais à introdução de novas tecnologias, bem como uma elevada mobilidade empresarial e da mão-de-obra às solicitações do mercado; 12. O facto de, desde o início de década de 80, se ter vindo a desenvolver um relacionamento inter-Bacia e parecer começar a consolidar-se a consciência de interesses regionais conjuntos que culminaram com as Cimeiras da APEC (Asia Pacif Economic Cooperation) de Novembro de 1993 em Seatle, Outubro de 1996 em Manila e Setembro de 1999 em Auckland, na Nova Zelândia.

O percurso histórico dos actores da bacia do pacífico
Para percebermos o percurso ocorrido até hoje e podermos tirar conclusões, iremos acompanhar os povos e os países da Região pelos períodos em que dividi os últimos setenta anos: Até à II Guerra Mundial; Final da II Guerra Mundial e as suas consequências; Os anos 60 e princípios da década de 70; Post-Vietname (1975); Os anos 80; A década de 90». In Garcia Leandro, Timor e a Geo-Política Regional, Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, Roberto Carneiro, nº 7, Timor Hoje, 2001.

Cortesia do CEPCEPortuguesa/JDACT