Timor e a Geo-Política Regional
«(…) Não se pode compreender bem a situação actual de Timor
sem se conhecer o longo caminho seguido pelos povos e nações da Bacia do
Pacífico desde a II Grande Guerra, e com mais significado a partir da década de
80. Trata-se da região que mais se tem modificado desde a II Grande Guerra e onde
desde o início da década de 80 se começou a desenvolver e a aprofundar o
conceito de interesses comuns entre os países a ela pertencentes, ou seja, o conceito
de Comunidade do Pacífico. Contrariamente ao que ocorreu no resto do
globo, estas alterações não foram consequência da queda do muro de Berlim em 1989, nem do final da Guerra Fria.
Foi toda uma progressão que veio a ocorrer desde os anos 60, principalmente após
o final da guerra do Vietname e que merece uma análise cuidada. Por que se
tornou esta região hoje tão importante para o sistema global? São de
recordar duas afirmações feitas na década de 80 pelos responsáveis das duas
superpotências. Em Outubro de 1984, Ronald Reagan afirmou: O Pacífico é onde o
futuro do mundo se encontra. Mais tarde, em Julho de 1986, em Vladivostok, Mikhail Gorbachev dizia: A situação no
Extremo Oriente, na Ásia e nas vastidões oceânicas vizinhas, onde somos
habitantes permanentes e navegadores de longa data, é para nós de interesse
nacional e de Estado. Foi o reconhecimento formal de um novo fenómeno político
e económico.
Razões para a importância crescente da bacia do pacífico
Há razões que,
acumuladas e inter-relacionadas, justificam não só as afirmações citadas mas
também a importância crescente da Bacia do Pacífico, onde Timor Leste se encontra. Ao tentar efectuar esta análise considero
de salientar as seguintes doze razões: 1.
O Pacífico ocupa uma área quase igual à de todos os outros oceanos (Atlântico,
Índico e Árctico); 2. Ao seu redor e
no seu interior vive cerca de 72% da população mundial; 3. O conflito Norte-Sul
é menos forte ali do que noutras partes do globo; 4. Quatro das maiores potências mundiais, EUA, Federação Russa, Japão,
China, nele têm as suas costas, também algumas potências crescentes a ele
pertencem, como sejam o Canadá, a Austrália e a Indonésia; 5. O crescente interesse da ex-URSS na região Ásia-Pacífico, que
não será alterado pela Federação Russa, e o facto de a área ser considerada essencial
para os EUA (mesmo após a implosão da União Soviética); 6. A recuperação económica japonesa pós-II GM e o seu alinhamento político-estratégico
com os EUA e a Europa; 7. A vitória
da revolução comunista chinesa (1949) e a evolução da República Popular
da China, tanto internamente como no seu posicionamento internacional; 8. A descolonização europeia do SE
asiático, criando um diversificado conjunto de Estados, hoje só existem
territórios não autónomos nas ilhas dispersas nos vários arquipélagos do oceano
(dependências dos EUA, Reino Unido, França, Austrália, Nova Zelândia); 9. Investimentos ocidentais, japoneses
e árabes (petrodólares) que, ligados às características de alguns povos e
regimes políticos da Região, criaram os chamados milagres económicos; 10. Em consequência, o aumento do poder
aquisitivo por parte das populações, criando mercados anteriormente
inexistentes e fazendo crescer as trocas comerciais inter-Bacia em detrimento
de outras relações tradicionais; 11.
A excelente reacção de certas economias regionais à introdução de novas
tecnologias, bem como uma elevada mobilidade empresarial e da mão-de-obra às
solicitações do mercado; 12. O facto
de, desde o início de década de 80, se ter vindo a desenvolver um
relacionamento inter-Bacia e parecer começar a consolidar-se a consciência de
interesses regionais conjuntos que culminaram com as Cimeiras da APEC (Asia
Pacif Economic Cooperation) de Novembro de 1993 em Seatle, Outubro de 1996 em
Manila e Setembro de 1999 em Auckland,
na Nova Zelândia.
O percurso histórico dos actores da bacia do pacífico
Para percebermos o percurso ocorrido até hoje e podermos tirar
conclusões, iremos acompanhar os povos e os países da Região pelos períodos em
que dividi os últimos setenta anos: Até à II Guerra Mundial; Final da II Guerra
Mundial e as suas consequências; Os anos 60 e princípios da década de 70; Post-Vietname
(1975); Os anos 80; A década de 90». In Garcia Leandro, Timor e a Geo-Política
Regional, Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa,
Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, Roberto Carneiro, nº 7, Timor Hoje,
2001.
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