quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Povos e Cultura nº 7. 2001. Timor Hoje. Garcia Leandro. «A eventual reunificação da península coreana. Os EUA mantinham o controlo sobre todo o conjunto de Arquipélagos do Pacífico interior situados no hemisfério norte»

Cortesia de wikipedia

Timor e a Geo-Política Regional. O post-Vietname/Camboja em 1975
«(…) Vietname e a Indonésia surgiram com ambições expansionistas. A saída dos EUA do Vietname obrigou a RPC a ter de compensar essa influência, temendo o excessivo poder soviético e dos seus aliados. Em 1979, ocorreu a invasão do Camboja pelo Vietname e a deste pela República Popular da China. O Japão continuou a sua ascensão económica e alargou a sua capacidade tecnológica. A zona da ASEAN foi mantendo equilíbrio social e progressividade no desenvolvimento económico. O mar continuou a ser um lago americano. A China e os EUA aproximaram-se (entre 1972 e 1978) e as posições militares extremaram-se da parte da União Soviética com qualquer destas potências.

Os anos 80
Este período foi marcado em todo o mundo pelo efeito Gorbachev e pelas suas iniciativas, mas já apresentava na região alguns indícios desde o início da década: Em 1980, em Camberra surgiu o conceito de Comunidade do Pacífico, com o interesse manifestado pela Austrália, Nova Zelândia e Canadá em se integrarem no conjunto. Na RP da China ocorreram grandes alterações, com a liberalização económica do sistema, a abertura ao investimento e ao know-how estrangeiros, bem como ao turismo. Foi feita uma revisão dos princípios económicos da doutrina marxista-leninista-maoísta, procurando corresponder à satisfação das necessidades das populações. Foram anunciadas as grandes metas de modernização da China para o ano 2000 na agricultura, indústria, Forças Armadas e na tecnologia. A RP da China tornou-se menos internacionalista. Ocorreu a emergência do Japão como uma superpotência económica, não o desejando ser em termos militares. Em 1987, 7 dos 10 maiores bancos mundiais eram japoneses, e em 1988, dos 7 maiores, 6 eram nipónicos. O reforço dos interesses da União Soviética com ambições no Pacífico e um crescimento do seu poder aeronaval. A quebra dos EUA como superpotência económica, com a necessidade de tomar medidas proteccionistas. O Japão tendeu a ocupar o papel de auxílio financeiro desempenhado pelos EUA até então. Agudizou-se o conflito económico Japão-EUA. Os EUA finalmente perceberam que não se resolvem problemas económicos e sociais com ditaduras familiares ou militares e que nem tais sistemas defendiam convenientemente os seus interesses; assim, apoiaram a transição para regimes democráticos. A excessiva influência soviética ocorrida nos anos 75/79 teve agora o seu reflexo, pois a URSS mostrou-se incapaz de manter o apoio económico aos seus satélites, Coreia do Norte, Vietname, Cuba, Nicarágua, etc., face às suas dificuldades internas. Manteve-se o desenvolvimento estável da zona da ASEAN, onde apenas o caso das Filipinas foi excepção.
Singapura, Malásia, Tailândia surgiram com as suas economias em grande expansão; o SE asiático apresentava crescimentos do PNB sem competição em todo o mundo. E a Indonésia emergia como uma potência regional de peso. Registou-se a fulgurante entrada em cena dos 4 tigres asiáticos (Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong, Singapura). Iniciou-se o retorno da influência dos países europeus (França, Reino Unido, mas também a Alemanha, a Itália, entre outros). Em 10 anos o comércio da CEE com o Pacífico triplicou. Entretanto mantinham-se e foram desenvolvidos grandes dispositivos militares. Dez das maiores Forças Armadas do mundo estavam no Pacífico: EUA, URSS, RP China, Japão, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Taiwan, Indonésia, Vietname, Tailândia. Necessidade de serem revistos os sistemas político-económicos dos países comunistas do SE asiático, que estavam à beira da falência, no sentido da sua liberalização e na sequência das tentativas da URSS e da RP da China. Tendência progressiva para a democratização dos regimes (em dez anos doze Nações modificaram os seus sistemas e aceitaram o final do monopólio dos regimes de partido único), sendo de salientar os casos da Coreia do Sul, Taiwan e Filipinas. Iniciaram-se processos negociados no sentido da resolução pacífica de certas situações e de alguns conflitos: A China, perante os casos de Hong Kong, Macau e Taiwan; As questões que opunham a Rússia à China e ao Japão (problemas territoriais); O problema interno do Camboja; Os desentendimentos entre a China e o Vietname; A eventual reunificação da península coreana. Os EUA mantinham o controlo sobre todo o conjunto de Arquipélagos do Pacífico interior situados no hemisfério norte.

A década de 90
Apesar do que disse inicialmente, não se pode analisar a Bacia do Pacífico sem a integrar na aceleração da História que ocorreu após a queda do muro de Berlim. Foi neste contexto que nos encontrámos na década de 90. Como fiz para as fases anteriores tentarei caracterizar o comportamento dos actores durante esse período, introduzindo agora na perspectiva geopolítica a questão de Timor. Com o golpe de Estado falhado na URSS em Agosto de 1991 pôs-se um final à Guerra Fria, ou à III Guerra Mundial como lhe chamou Richard Nixon, mas a Federação Russa não perdeu importância no Extremo Oriente e no Pacífico. Tem passado por enormes dificuldades, mas nunca deixou de ser uma potência a considerar e ainda não aceitou as reivindicações territoriais do Japão». In Garcia Leandro, Timor e a Geo-Política Regional, Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, Roberto Carneiro, nº 7, Timor Hoje, 2001.

Cortesia do CEPCEPortuguesa/JDACT