Timor e a Geo-Política Regional. Até ao início da II Guerra Mundial
«(…) A existência de uma
grande potência regional, de tendências expansionistas e imperialistas, a única
da área capaz de ter acompanhado a revolução industrial, o Japão. Um
gigante adormecido, explorado por todos, difícil de controlar, essencialmente religioso,
agrícola e comerciante, a China. A presença das grandes potências
imperiais, o Reino Unido, a França, a Holanda, os EUA, a
União Soviética, mas também parte do Império Português de então em
Macau e Timor. A expansão das superpotências que vieram a dominar a segunda
metade deste século para a costa da Ásia, os EUA pelo mar e a URSS
à custa de sucessivos povos por terra. Um SE asiático pobre, colonizado,
essencialmente agrícola. Um relacionamento privilegiado de cada parcela da área
com a metrópole colonial em detrimento da relação com o vizinho e com a região.
O poder económico e militar do
cristianismo sobre o islão, o budismo, o hinduísmo e outras religiões locais.
O Final da II Guerra Mundial e as suas consequências
A super-potência
regional, o Japão, foi completamente aniquilada e vai-se reconstruir à
custa dos EUA, quer sob o ponto de vista de arquitectura política quer
sob o do financiamento. O seu alinhamento político tornou-se marcadamente
pró-americano. Não tendo já o domínio dos mares, o novo Japão teve de se aliar
à Potência Marítima dominante. As potências europeias exaustas pela II Guerra Mundial
concederam independências, afastando-se da região. Apenas com alguma
importância e através de outros se manteve o Reino Unido. Por interesse
próprio, mas também para fazer face ao vazio deixado pelas potências europeias
e à crescente influência comunista, os EUA alargaram a sua influência na
região, que se tornou num lago americano. Em consequência, os EUA criaram uma
série de alianças políticas e militares de carácter bilateral e multilateral. A
União Soviética expandiu-se ainda mais para leste, apoiou a guerra da Coreia e
diferentes movimentos pró-comunistas na região. A vitória comunista na guerra
civil chinesa apresentou duas consequências fundamentais: a unificação do país
e o receio de que a sua sombra se projectasse sem resistência em todo o SE
asiático. Por outro lado os seus líderes sempre foram profundamente
nacionalistas. A China tornou-se num modelo mais atractivo do que a União
Soviética para os países do Terceiro Mundo. Diversas lutas pela independência,
choques étnicos e religiosos, guerrilhas comunistas e guerras civis, marcaram
os anos 50 e parte dos anos 60 nos países mais pequenos da região. O Canadá, a
Austrália e a Nova Zelândia estiveram de certo modo afastados deste jogo
mantendo as suas ligações preferenciais com o Reino Unido.
A década de 60 até ao
final da guerra do Vietname
O contínuo desenvolvimento tecnológico e o crescimento económico do
Japão. O envolvimento dos EUA no SE asiático, principalmente no Vietname e no
Camboja. Apoio americano ao desenvolvimento económico e estabilidade de alguns
países como modo de barrar o caminho para a sua comunização, casos da Coreia do
Sul e de Taiwan. O conjunto de resultados das lutas anti-comunistas no SE
asiático desde o final da II GM apresentou-se equilibrado, mas com base em
regimes ditatoriais de esquerda ou de direita. Ocorreram vitórias da direita na
Malásia, na Indonésia e nas Filipinas e derrotas no Vietname, Camboja e Laos. Na
Península Coreana houve que optar pela sua divisão. Surgiu um conjunto de
países do Sul que criaram em 8 de Agosto de 1967 a ASEAN (Association of the
South East Asian Nations) querendo formar uma zona de paz fora destes
conflitos, mas eles próprios com grandes problemas internos. De qualquer modo,
e embora recusando uma aliança militar, estes países estavam alinhados pelos
EUA (Filipinas, Tailândia, Singapura, Malásia e Indonésia). Ocorreu também a
retracção do dispositivo militar britânico e a sua entrada para o Mercado
Comum. Foi ainda marcante na época o radicalismo do regime chinês durante a revolução
cultural (1966-1976), que correspondeu aos últimos anos do maoísmo,
antecipados pela ruptura com a URSS em 1961.
O post-Vietname/Camboja em 1975 teve consequências geopolíticas e geoestratégicas
que alteraram todo o equilíbrio regional
Foi a época em que se atingiu o pico mais elevado da influência
comunista no mundo. Neste período ocorreu A revolução portuguesa de 1974 e as suas consequências em Macau e
Timor abalaram a região, tendo este último sido invadido pela Indonésia em 27
de Dezembro de 1975, após uma guerra
civil iniciada em Agosto e a saída do governador para a Ilha do Ataúro. A
retracção do dispositivo americano cedendo bases no continente e a consequente
quebra de prestígio, que em ligação ao caso Watergate provocaram a perda de
força dos executivos americanos. Regimes comunistas radicais implantados no
Laos, Vietname e Camboja. Posições de apoio para as frotas russas nas antigas
bases americanas do Vietname (Danang e Camrhan)». In Garcia Leandro, Timor e a
Geo-Política Regional, Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão
Portuguesa, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, Roberto Carneiro, nº 7,
Timor Hoje, 2001.
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