quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Povos e Cultura nº 7. 2001. Timor Hoje. Garcia Leandro. «… o radicalismo do regime chinês durante a revolução cultural (1966-1976), que correspondeu aos últimos anos do maoísmo, antecipados pela ruptura com a URSS em 1961»

Cortesia de wikipedia

Timor e a Geo-Política Regional. Até ao início da II Guerra Mundial
«(…) A existência de uma grande potência regional, de tendências expansionistas e imperialistas, a única da área capaz de ter acompanhado a revolução industrial, o Japão. Um gigante adormecido, explorado por todos, difícil de controlar, essencialmente religioso, agrícola e comerciante, a China. A presença das grandes potências imperiais, o Reino Unido, a França, a Holanda, os EUA, a União Soviética, mas também parte do Império Português de então em Macau e Timor. A expansão das superpotências que vieram a dominar a segunda metade deste século para a costa da Ásia, os EUA pelo mar e a URSS à custa de sucessivos povos por terra. Um SE asiático pobre, colonizado, essencialmente agrícola. Um relacionamento privilegiado de cada parcela da área com a metrópole colonial em detrimento da relação com o vizinho e com a região.  O poder económico e militar do cristianismo sobre o islão, o budismo, o hinduísmo e outras religiões locais.

O Final da II Guerra Mundial e as suas consequências
A super-potência regional, o Japão, foi completamente aniquilada e vai-se reconstruir à custa dos EUA, quer sob o ponto de vista de arquitectura política quer sob o do financiamento. O seu alinhamento político tornou-se marcadamente pró-americano. Não tendo já o domínio dos mares, o novo Japão teve de se aliar à Potência Marítima dominante. As potências europeias exaustas pela II Guerra Mundial concederam independências, afastando-se da região. Apenas com alguma importância e através de outros se manteve o Reino Unido. Por interesse próprio, mas também para fazer face ao vazio deixado pelas potências europeias e à crescente influência comunista, os EUA alargaram a sua influência na região, que se tornou num lago americano. Em consequência, os EUA criaram uma série de alianças políticas e militares de carácter bilateral e multilateral. A União Soviética expandiu-se ainda mais para leste, apoiou a guerra da Coreia e diferentes movimentos pró-comunistas na região. A vitória comunista na guerra civil chinesa apresentou duas consequências fundamentais: a unificação do país e o receio de que a sua sombra se projectasse sem resistência em todo o SE asiático. Por outro lado os seus líderes sempre foram profundamente nacionalistas. A China tornou-se num modelo mais atractivo do que a União Soviética para os países do Terceiro Mundo. Diversas lutas pela independência, choques étnicos e religiosos, guerrilhas comunistas e guerras civis, marcaram os anos 50 e parte dos anos 60 nos países mais pequenos da região. O Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia estiveram de certo modo afastados deste jogo mantendo as suas ligações preferenciais com o Reino Unido.

A década de 60 até ao final da guerra do Vietname
O contínuo desenvolvimento tecnológico e o crescimento económico do Japão. O envolvimento dos EUA no SE asiático, principalmente no Vietname e no Camboja. Apoio americano ao desenvolvimento económico e estabilidade de alguns países como modo de barrar o caminho para a sua comunização, casos da Coreia do Sul e de Taiwan. O conjunto de resultados das lutas anti-comunistas no SE asiático desde o final da II GM apresentou-se equilibrado, mas com base em regimes ditatoriais de esquerda ou de direita. Ocorreram vitórias da direita na Malásia, na Indonésia e nas Filipinas e derrotas no Vietname, Camboja e Laos. Na Península Coreana houve que optar pela sua divisão. Surgiu um conjunto de países do Sul que criaram em 8 de Agosto de 1967 a ASEAN (Association of the South East Asian Nations) querendo formar uma zona de paz fora destes conflitos, mas eles próprios com grandes problemas internos. De qualquer modo, e embora recusando uma aliança militar, estes países estavam alinhados pelos EUA (Filipinas, Tailândia, Singapura, Malásia e Indonésia). Ocorreu também a retracção do dispositivo militar britânico e a sua entrada para o Mercado Comum. Foi ainda marcante na época o radicalismo do regime chinês durante a revolução cultural (1966-1976), que correspondeu aos últimos anos do maoísmo, antecipados pela ruptura com a URSS em 1961.

O post-Vietname/Camboja em 1975 teve consequências geopolíticas e geoestratégicas que alteraram todo o equilíbrio regional
Foi a época em que se atingiu o pico mais elevado da influência comunista no mundo. Neste período ocorreu A revolução portuguesa de 1974 e as suas consequências em Macau e Timor abalaram a região, tendo este último sido invadido pela Indonésia em 27 de Dezembro de 1975, após uma guerra civil iniciada em Agosto e a saída do governador para a Ilha do Ataúro. A retracção do dispositivo americano cedendo bases no continente e a consequente quebra de prestígio, que em ligação ao caso Watergate provocaram a perda de força dos executivos americanos. Regimes comunistas radicais implantados no Laos, Vietname e Camboja. Posições de apoio para as frotas russas nas antigas bases americanas do Vietname (Danang e Camrhan)». In Garcia Leandro, Timor e a Geo-Política Regional, Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, Roberto Carneiro, nº 7, Timor Hoje, 2001.

Cortesia do CEPCEPortuguesa/JDACT