segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Uma Vila Iluminista. Manique do Intendente. «A constituição do Palácio de Manique lembra, salvaguardadas as devidas diferenças (sobretudo em termos de escala), o palácio-convento de Mafra, pela colocação da Igreja a marcar o eixo central»

jdact e wikipedia

Uma Vila Iluminista. A Casa de Câmara e Cadeia
«(…) Em Linhares (com inicio de construção provável no século XVII, mas de conclusão no reinado de dona Maria), em Arouca (século XIX), em Macieira de Cambra (cerca de 1820) e em Santiago do Cacém (1781) foram construídos edifícios bastante simples, de planta rectangular e dois pisos, com escada interior. Linhares, Macieira de Cambra e Santiago do Cacém mostram disposição interna semelhante à Casa de Câmara de Manique: entrada a eixo dando acesso a um átrio. Neste piso surgem mais dois compartimentos. A escada está localizada no eixo da entrada. Em Linhares e Santiago do Cacém, a entrada encontra-se associada e uma janela no piso superior. Todos os exemplos mostram cornijas e pilastras a marcar os cantos e em Santiago do Cacém, o exemplo mais a Sul, vê-se um frontão polilobado a reforçar o eixo da entrada e pináculos a encimar os cunhais das extremidades. Em Arouca, Linhares e Santiago do Cacém, o piso superior é constituído por três compartimentos, dos quais se salienta o salão nobre ou sala das sessões. Disposição semelhante tem a Câmara de Manique do Intendente.
Segundo Varela Gomes a Casa de Câmara é aparentada com soluções usadas no Arsenal do Alfeite em Lisboa, no antigo celeiro público e na cordoaria velha, essa escola sobriamente barroca que surge ligada aos arquitectos e engenheiros portugueses na ponta final do século XVIII. Dos dois últimos diz que se pode detectar uma escola de um tardoclassicismo militar e austero que não fugia a soluções barroquizantes. A Casa de Câmara e Cadeia funcionou enquanto tal até à extinção do concelho de Manique do Intendente, corria o ano de 1835. A localidade passou de sede de freguesia, primeiro pertencendo a Alcoentre e mais tarde à Azambuja (1855), situação que se mantém actualmente. A Casa de Câmara funciona actualmente como quartel da GNR, estando prevista a curto prazo a instalação de um Centro de Dia na ala Oeste.

O Palácio do Intendente
Do Palácio, infelizmente muito degradado (apesar de estar classificado como Imóvel de Interesse Público pela DGEMN), apenas podemos ver duas fachadas incompletas, a principal e uma das laterais (a Poente). Ao centro do palácio está a Igreja, à qual se acede por uma escadaria e galilé abobadada formada por três arcos de volta-perfeita. Esta, ligeiramente saliente, dá espaço, no piso superior, a uma varanda com balaustrada, que serve três janelas de sacada encimadas por frontão triangular. A terminar esta secção temos um frontão curvo, ligeiramente abatido, onde se eleva um obelisco piramidal de grandes dimensões. As alas laterais, simétricas, são animadas por um conjunto porta (com rusticado) e varanda balaustrada, saliente, ao centro, e no extremo existente ergue-se semelhante conjunto. O palácio tem dois pisos e um meio piso, sendo a divisão entre os dois primeiros feita por intermédio de um friso em pedra. Os vãos são janelas altas, de peitoril no piso térreo e de avental trabalhado no segundo piso. O meio piso tem óculos elípticos, que irrompem na linha da cornija. Coroando a fachada corre uma balaustrada pontuada por estátuas sobre socos, representando as existentes a forma de Elmo e Couraça, do século XVII, com bandeiras pendentes nos espaldares da armadura. Esta composição, com igreja ao centro e dois arremedos de torreões aos extremos, é estranha à tradição dos palácios e casas nobres portugueses. Estes, na generalidade dos casos, possuem apenas capelas familiares, com papel importante no desenho dos edifícios, é certo, mas surgindo usualmente numa extremidade, como prolongamento dos mesmos. A constituição do Palácio de Manique lembra, salvaguardadas as devidas diferenças (sobretudo em termos de escala), o palácio-convento de Mafra, pela colocação da Igreja a marcar o eixo central. Segundo Varela Gomes o Palácio terá semelhanças com desenhos de Fabri para a Ajuda, pela clara opção neoclássica, e reminiscências de fontanários de José Manuel Negreiros, pela solução fortemente ecléctica patente no frontão quebrado e obelisco». In Cátia Gonçalves Marques, Departamento de Arquitectura da FCTUC, Junho de 2004.

Cortesia de FCTUC/JDACT