segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Manique do Intendente. Uma Vila Iluminista. «… a reforma dos serviços do correio, em 1797, e o sistema de transportes públicos na cidade de Lisboa, assim como a sua iluminação nocturna (responsabilidade do Intendente Pina Manique)»

jdact e wikipedia

Arquitectura e Urbanismo em Portugal e na Europa. Contextualização Histórica
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«(…) Desta maneira, o despotismo iluminado tendia a nivelar todas as classes perante o poder real, a abolir quaisquer privilégios baseados na hereditariedade e na tradição, a rejeitar todos os organismos políticos e sociais de controle à administração central, e a fomentar o surto de uma Igreja nacional independente de Roma. Havia de favorecer o industrialismo e as novas técnicas, no seu combate às importações do estrangeiro; apoiaria monopólios e proteccionismos económicos; desenvolveria a burocracia. No campo cultural, tinha de adoptar a secularização mediante uma intervenção directa no ensino público e no sistema cultural, e mediante uma censura do Estado. Favoreceria igualmente a assistência pública organizada, em oposição à caridade religiosa.
A subida ao poder da rainha dona Maria I, em 1777, ditou o afastamento do marquês de Pombal e de muitos dos seus apoiantes. Mas não se verificaram transformações de vulto, as políticas adoptadas no anterior governo prosseguiram no seu essencial e a burguesia e a nova aristocracia encontravam-se firmemente instaladas nos seus altos cargos. Assim, as reformas instituídas pelo marquês, ao contrário do que se poderia esperar com a sua queda, não foram abandonadas. Ele acabou por ser dos poucos homens no poder a ser afastado e o caminho que preparou foi seguido e deu frutos. Portugal teve no reinado de aona Maria I um dos seus melhores períodos a nível económico. O fim do despotismo trouxe grandes benefícios na medida em que o Estado, menos interventivo, deu lugar à dinâmica dos vários sectores de actividade (prenúncio do liberalismo).
Com a economia mantendo-se favorável e uma certa estabilidade social, foi uma época de florescimento das artes, atendendo-se a variadas influências, sem primazia de nenhuma delas. O período auspicioso revelou-se, por outro lado, fundamental para, a partir de finais de Setecentos, se começar a tentar uma séria infra-estruturação do território. Foram realizados reconhecimentos cartográficos e empreendeu-se, a partir de 1790, a triangulação do país. Em alvarás de 28 de Março de 1791 e 11 de Março de 1796 tomam-se disposições quanto à construção e conservação de estradas, nomeadamente as estradas entre Lisboa e Santarém, Lisboa e Caldas da Rainha, Porto e Coimbra, Porto e Foz e a estrada do Alto Douro. Também as infra-estruturas marítimas e fluviais foram melhoradas (faróis, portos, barras, canais). Foram renovados equipamentos civis, como Câmaras Municipais (como Aveiro e Vila do Conde) e Alfândegas. Tudo isto com o objectivo de melhorar as comunicações internas, indispensáveis para o desenvolvimento das actividades económicas. Outros aspectos foram a reforma dos serviços do correio, em 1797, e o sistema de transportes públicos na cidade de Lisboa, assim como a sua iluminação nocturna (responsabilidade do Intendente Pina Manique).
Foi neste período de acalmia que uma nova ameaça à estabilidade do país surgiu. A França de Napoleão exigia a cessação de relações com a Inglaterra. Entre a espada e a parede, pois da aliança com os ingleses dependia a manutenção dos territórios ultramarinos, Portugal hesitou em ceder às exigências francesas e deu-se a Invasão. A família real fugiu para o Brasil. A regência que havia ficado no país foi dissolvida por Junot. Por todo o país ocorreram pilhagens e destruições, penalizando irremediavelmente o património artístico e cultural existente. O período de guerra deixou a economia de rastos, com a agricultura, a indústria e o comércio gravemente afectados. A situação política também não era auspiciosa. A família real mantinha-se no Brasil, agora Reino uno com Portugal e, após a expulsão dos franceses, o país ficou com o exército controlado pelas forças inglesas. Brevemente este estado de coisas tornaria a situação insuportável, conduzindo a diversos movimentos de rebelião, em várias zonas do país, que culminaram com a Revolução Liberal em 1820». In Cátia Gonçalves Marques, Departamento de Arquitectura da FCTUC, Junho de 2004.

Cortesia de FCTUC/JDACT