segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Grandes de Portugal no século XVIII. Inventários da Casa de Távora, Atouguia e Aveiro (1758-1759). Manuel B. Rodrigues. «A condessa de Atouguia nas suas célebres memórias conta de forma emocionada, o período que mediou entre o atentado ao rei e a morte do marido»

Cortesia de wikipdia

Casas de Távora, Atouguia e Aveiro em 1758. Marqueses de Távora
Francisco Assis, 3º marquês de Távora, 3º conde de Alvor (1703-1759)
«(…) Ainda na Índia, inventou um engenho para moer pólvora com grande perfeição, o que implicou na queda do seu preço, passando o barril a custar 33$000 reis, quando até aí custava 56$000. Regressado ao reino em 1754, apercebe-se que muita coisa tinha mudado. O rei além de não o tratar com o merecimento que lhe seria devido, tomara Teresa Tomásia, sua nora e irmã!, para amante. Carvalho Melo cava um fosso intransponível entre si e uma parte da alta nobreza, em grande parte à custa da guerra sem quartel que move aos jesuítas, protagonistas no Brasil, da situação de ruptura entre o governo da colónia e os índios. O marquês de Távora vai ser uma das grandes bandeiras da oposição a Carvalho Melo, o Sebastião José, como desdenhosamente o tratava, a nobreza oposicionista da época.
Com o reatar de relações com o seu cunhado duque de Aveiro, e a frequência dos seus salões pelos jesuítas, torna-se também um alvo a abater. A 13 de Dezembro de 1758, estando num baile da Feitoria Inglesa, nota um inusitado movimento de tropas que era suposto estarem sob o seu comando. Dirige-se ao paço, onde o próprio Carvalho Melo lhe dá ordem de prisão. Finalmente a 13 de Janeiro de 1759, e após sempre ter negado quaisquer responsabilidades no atentado, Francisco Assis, que foi marquês de Távora, depois de lhe despedaçarem os ossos, é morto no cadafalso em Belém. Após a queda de Pombal, na revisão do processo requerida pelo seu genro, marquês de Alorna, saído ele também das masmorras da Junqueira em 1777, foi declarado inocente, bem como toda a sua família.

Conde de Atouguia
Jerónimo Ataíde, 11º conde de Atouguia (1721-1759)
Era filho de Luís Peregrino Ataíde, 10º conde de Atouguia e da condessa Clara Assis Mascarenhas, filha do conde de Óbidos. Era fidalgo da Casa Real. Teve cinco filhos do seu casamento com dona Mariana Bernarda Távora, filha dos marqueses de Távora, e por esse motivo foi envolvido no processo do atentado contra o rei José I, de que era acusada a família de sua mulher. Sendo preso junto com os outros réus e levado para o pátio dos Bichos em Belém, dali apenas saiu para o cadafalso. Os seus bens foram sequestrados e a casa demolida sendo torturado e morto em 13 de Janeiro de 1759, em Belém. Em 1779 quando o processo do atentado ao rei foi revisto, foi declarado inocente. A condessa de Atouguia nas suas célebres memórias conta de forma emocionada, o período que mediou entre o atentado ao rei e a morte do marido.

Duque de Aveiro
José Mascarenhas Silva Lencastre, 8º duque de Aveiro, 5º marquês de Gouveia, 8º conde de Santa Cruz (1708-1759)
Toda a grandeza da Casa de Aveiro veio parar as mãos de José Mascarenhas Silva Lencastre mais tarde duque de Aveiro, um pouco por acaso. Na verdade era apenas o filho secundogénito de Martinho Mascarenhas e Inácia Rosa Távora e estava-lhe destinada a vida eclesiástica. Sucedeu que o primogénito, João Mascarenhas após casar com uma tia, Teresa Moscoso, perdeu-se de amores por Maria da Penha França Mendonça, dama do paço e casada com Lourenço Almada, mestre de sala de el-rei. Esta abandonou o marido e uma filha, fugindo com João Mascarenhas, sendo mais tarde presos em Tuy. Maria da Penha foi metida em clausura e João Mascarenhas homiziou-se para não sofrer os rigores da lei, renunciando a todos os títulos e à Casa de Gouveia e Santa Cruz a favor de seu irmão José de Mascarenhas. Este aliás só ganhou o título de duque de Aveiro num pleito que o tribunal resolveu a seu favor em 1752 e reconhecido pelo rei em 1755, após litígio com o duque de Baños, António Lencastre Ponce Leon, dado o 7º duque de Aveiro, Gabriel Lencastre Ponce Leon ter morrido sem descendência.
Doutorado em cânones pela Universidade de Coimbra, nem por isso se poderia considerar um homem culto, bem pelo contrário. Rude e altivo, característica que ao que parece era apanágio da família Mascarenhas, pretensioso, pouco inteligente e ingénuo, homem poderoso mas sobreavaliando o seu poder, ter-se-á malquistado com o rei por se ter gorado o enlace do seu filho primogénito, com a irmã do duque de Cadaval, além de lhe serem recusadas determinadas comendas administrativas dos duques de Aveiro seus antecessores, mas que lhes não eram pertencentes. Temido e odiado devido à sua maneira de ser, mantinha um relacionamento frio e distante com os marqueses de Távora». In Manuel Benavente Rodrigues, Grandes de Portugal no século XVIII, Inventários da Casa de Távora, Atouguia e Aveiro (1758-1759), revista Pecvnia, nº 11, 2010, APOTEC-Lisboa.

Cortesia de Pecvnia/Apotec/JDACT