Nossa Senhora de Guadalupe. Possíveis Origens do seu
Culto
«(…) Há
notícias de peregrinações dos nossos maiores ao grande Mosteiro do país
vizinho, tanto no século XV como no século XVI (na Chorographia faz o rol das dádivas feitas pelos portugueses à
Virgem; o culto de Nossa Senhora, que excitou sempre a devoção dos portugueses,
recebia novas consagrações em toda a cristandade nos séculos XIV e XV. [...]; um
dos mais notáveis santuários consagrados à virgem na Península era o da Santa
Maria de Guadalupe, que atraía grande número de fiéis; lá foi Afonso V ao
regressar de África; Assembleia Geral Ordinária de 20 de Julho de 1962, Acta in Boletim-Academia Portuguesa da História, 1962. Nesta acta consta que Alberto
Iria citou o regresso dos expedicionários do desastre de Tânger (1437) que foram em romaria a Guadalupe;
e, em romaria ou não, ao Santuário de Guadalupe, pagaram as suas promessas ou
votos: Afonso V, Manuel I, Afonso de Albuquerque, João III, Nuno Cunha,
Sebastião I). Na época do Infante Henrique, encontram-se inúmeras
referências à Ermida, de Nossa Senhora de Guadalupe a única desta invocação no
Algarve, embora haja muitas espalhadas pelo país. O nome de
Guadalupe deve ter emanado após renovação do seu culto (fr. Agostinho de
Santa Maria, Santuário Mariano, 1712,
cavando no mesmo em que a vaca estava morta, descubrirão nelle huma Imagem sua;
& que lhe edificassem nelle huma casa, aonde ella fosse servida, &
buscada de todo o mundo; fez-se isto como a Senhora mandou, & se descubrio
a Imagem da Senhora, a quem derão o titulo do mesmo lugar do seu aparecimento.
[...] estes são em breve os principios da Senhora de Guadalupe, & não de
Agua de Lupe, como alguns erradamente dizem, & esta he a origem deste
celebre titulo) como consequência do local da sua aparição que, segundo uns
viria de Agua de lupe ou augua
de lupe (Zurara, Crónica dos Feitos da Guiné, Lisboa, 1949, … dos outros
Mouros que filharam en Tider, envyarom Lançarote e os outros capitães, [...] e
a Santa Marya de augua de Lupe, hua ermida que está naquelle termo de Lagos. Repetido
por Mário Martins em Peregrinações e Livros de Milagres na Nossa Idade Média,
Coimbra, 1951, Peregrinações a Nossa Senhora, no séc. XV [...] pescadores e
marinheiros faziam promessas a algum santuário da Mãe de Deus. E assim, escreve
Zurara que Gil Eanes, Lançarote e outros capitães, de volta da Ilha Tider,
mandaram um escravo para se vender, a Santa
Marya da augua da Lupe, hua ermida que está naquelle termo de Lagos)
e, segundo outros, teria tido, embora não baseado em qualquer estudo
etimológico, a seguinte evolução: Agua
de luce, Agua de lupe, Agualupe, Guadalupe (que
quer dizer Guadalupe. Não
tenho qualquer contribuição filológica sobre este interessantíssimo assunto. O
nosso povo, por vezes simplificador em assuntos de etimologia, diz Agua de Lupe. Será Lupe a contrafacção de lúcida? [...] Lupe seja a contrafacção
de lúcida, límpida, saborosa, pura, água santa, [...] não estou, reafirmo,
documentado para essa afirmação, positiva. Mas é de admitir esta ginástica
vocabular: Aguadeluce, Água de Lupe,
Agualupe, Guadalupe). Numa das nossas deslocações de estudo à ermida da Raposeira,
encontrámos um emigrante da terra, em oração, que nos testemunhou ser
frequente, quando era jovem, ir em peregrinação a esta ermida, em anos de seca
e noites de luar, com o povo da região, acompanhados pelos respectivos animais
de ajuda no campo (mulas, cavalos, burros, vacas, etc.), pedir à Virgem
a água que tanta falta lhes fazia. Enquanto os crentes entravam no templo, os
animais mantinham-se no exterior, à porta.
História e Proposta Interpretativa
A este objecto que conseguiu resistir aos
terramotos que assolaram a região (Raposeira,
aldeia pequena e pobre, da qual só 13 casa ficarão de pé, e essas arruinadas
pelo terramoto, tendo então 90 fogos [...] entre esta aldeia e a Figueira,
pouco distante na estrada a N., está a igreja de Nª. Sª. da Guadalupe, mui
antiga e que se diz foi dos Templários, a qual nada sofreo no terramoto e, em Portugal
Antigo e Moderno, 1873, esta egreja [N. S. Da Guadalupe] e umas casas que lhe
ficam próximo, nada soffreram com o referido terramoto [1755], o que o povo
attribui a milagre da Senhora), onsiderado monumento nacional, têm sido
atribuídas diversas paternidades. Todas as fontes o classificam como romano-gótico.
Alguns pensam-no como pertença dos Templários, datando-o do século XIII». In Ana Maria Passos Parente, Ermida de Nossa
Senhora de Guadalupe na Raposeira, Excerto da dissertação de Mestrado de
História da Arte, Escultura Figurativa
na Arquitectura Religiosa do Algarve, na Baixa Idade Média, Lisboa,
Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, 1987, Revista
Medievalista, director Luís Krus, Ano 1, Nº 1, Instituto de Estudos Medievais,
FCSH-UNL, FCT, 2005, ISSN 1646-740X.
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