segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Hyssope. As Edições. Apontamentos Bibliográfico. Francisco Augusto Martins Carvalho. «Tenho estudado tudo isto por meudos, mas tenho topado grandes difficuldades, que vejo vencidas, e saiba que n’essa Relação Metropolitana…»

Cortesia de wikipedia

NOTA: De acordo com o original

Outra edição principiada, da qual se composeram 16 paginas e se imprimiram apenas 8
«(…) O dr. Francisco Paula Santa Clara, distinctissimo latinista, projectou publicar uma edição annotada do Hyssope, na qual lidou com verdadeiro empenho e interesse, consumindo muito tempo em buscas e indagações importantes, para poder redigir não só grande numero de notas biographicas dos principaes personagens a que Diniz se refere no seu poema, mas tambem por lhe encontrar paralelos em Virgílio; para ornar a edição de estampas e monumentos, etc, etc. Foi um auxiliar valioso do dr. Santa Clara, o seu velho compadre e amigo e considerado escriptor, o António Francisco Barata, então empregado na biblioteca de Évora. Em 1906 enviou-nos o Barata um desenvolvido e curioso artigo intitulado O Hyssope annotado pelo dr. Francisco Santa Clara, que publicámos nos n.os 6158, 6159 e 6160, do jornal O Conimbricense, que então dirigíamos, e no qual se encontram extractos de algumas cartas muito interessantes do dr. Santa Clara, referentes á sua projectada edição annotada do Hyssope, e a vários outros assumptos.
São d'essas cartas os períodos que em seguida transcrevemos:
10 de Outubro de 1899
... Com o tempo quente que faz, não posso trabalhar itterariamente, e com respeito aos reflexos de Virgilio no Hyssope, completei os cantos 2.° e 3.° e agora por estes dias fica revisto o 4.º, e depois irei percorrendo outros cantos, para que seja publicado esse trabalho, que será novo, visto que nunca outros o tentaram. E os que maltratam com dente malévolo o poeta Diniz, que se encosta a Boilean, verão que o poeta francez, tirando tudo a Virgilio, foi espelho muito secundário para António Diniz.

25 de Outubro de 1899
Eu vou resistindo, e quando posso, vejo antigas cartas das sessões do senado de Elvas, e lá desentranho uma ou outra explicação para o Hyssope. … Afinal cá achei que é de Évora uma das figuras cantadas pelo poeta. Essa figura é o cocheiro de sua excellencia o bispo Lourenço Lencastre. Do cocheiro diz o poeta:

e um grande Lacaio da liteira
famoso Rodomonte das tavernas.
A voz tomando a todos, d’esta sorte
seu conselho propoz; tão grande caso,
senhor, se leva em paz; eu tenho um raio
da sege, ha muito já exp’rimentado
em funcções similhantes, eu com elle
de sua Senhoria tal vingança
hoje espero tomar, que de escarmento
a todos sirva.

Não havia uma noticia d’este heroe, e somente dizia uma nota, dada na edição que fez Ramos Coelho, que o cocheiro do bispo se chamava Bento. Agora, depois de longo trabalho achei que assim é. Chamava-se Bento Silva, e nasceu em Évora, onde foi baptisado na parochia de Santo Antão, em 3 de Novembro de 1709. Era a mãe d’elle estalajadeira da rua de S. Francisco d’essa cidade. D’esta escola passou a aprender o officio de sapateiro com o mestre Luiz Lopes. Sendo depois preso veio d’ahi n’uma leva de soldados para o regimento de infantaria de Estremoz, que estava n’esse tempo de guarnição em Elvas, e casou aqui em Elvas em 1733, com Josepha Encarnação, viuva de um soldado, fallecido em Mafra, etc, etc. Tinha portanto 55 annos de edade, quando se offereceu para ir com o raio da roda da sege esmagar o espinhaço do deão Lara. Que comedia!

9 de Julho de 1902

Tenho estudado tudo isto por meudos, mas tenho topado grandes difficuldades, que vejo vencidas, e saiba o meu compadre, que n’essa Relação Metropolitana, não chegou a ser decidido o pleito. A decisão é ficção do Diniz Cruz. Creia isto, e não siga o que proclamam os arautos, que não investigam a verdade. […]

Em 1907 publicámos no Conimbricense unia outra série de cartas do dr. Santa Clara, referentes á sua livraria. Na que tem a data de 10 de Novembro de 1899, lê-se o seguinte: Hoje vi também as provas da 2.ª folha do Hyssope. Traz a vista da casa onde eu nasci, na praça d’esta cidade, porque na dita casa habitou o deão Lara no tempo em que se desfazia em obséquios ao bispo. A primeira folha do poema não tem frontispicio, que só deveria ser feito quando terminasse a impressão. Na folha do rosto lê-se apenas o seguinte: O Hyssope. Poema heroi-comico. 8.º grande. (Uma folha de 8 paginas, única que se imprimiu, embora chegasse a compôr-se a segunda folha, e a ser vista a prova pelo auctor). Não tem a indicação de terra, typographia e anno, mas sabe-se que foi impressa em Elvas em 1899, na Typographia de António José Torres Carvalho. A primeira pagina é occupada pelo titulo que acabamos de transcrever; a segunda pelo Argumento; e na terceira principia o Canto I do poema, tendo no alto da pagina um pequeno retrato do bispo Lourenço Lencastre. A segunda folha inseria a vista da casa do dr. Santa Clara, a que se refere o trecho da carta de 10 de Novembro de 1899, acima transcripto». In Francisco Augusto Martins Carvalho, As Edições do Hyssope, Apontamentos Bibliográficos, (tiragem limitada, só para ofertas), Editor o Autor, Casa Tipographica, Coimbra, 1921.

Cortesia de Casa Tipographica/Coimbra/JDACT