terça-feira, 1 de março de 2016

Eve e as Trevas. Sylvia Day. Bebiam cerveja e devoravam nachos, acenando com gigantescos dedos de esponja. Tratava-se, na realidade, de um jogo de futebol americano no Estádio de Qualcomm»

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«O Diabo está nos detalhes. Rodeada de milhares de seguidores de Satanás, Evangeline Hollis entendia agora a verdadeira essência do adágio. Alguns usavam bonés de basebol dos Seattle Seahawks, outros, camisolas dos San Diego Charger, mas todos eles tinham intrincados padrões, semelhantes a tatuagens tribais, desenhados na pele, que denunciavam não apenas a espécie de ser amaldiçoado que eram, mas também a sua posição na hierarquia infernal. Com a sua visão apurada, Eve encarava tudo aquilo como um maldito festival de pecadores. Bebiam cerveja e devoravam nachos, acenando com gigantescos dedos de esponja. Tratava-se, na realidade, de um jogo de futebol americano no Estádio de Qualcomm. O dia estava soalheiro e quente, um perfeito clássico do Sul da Califórnia. Vinte e seis graus, temperados por uma brisa deliciosamente fresca. Os Mortais misturavam-se com seres Infernais, num estado de abençoada ignorância, desfrutando simplesmente de uma tarde de desporto de bancada. Eve achava a cena macabra. Era como ver lobos esfaimados a apanharem sol junto de cordeiros. Sangue, violência e morte seria o resultado inevitável de qualquer interação entre ambas as partes. Pára de pensar neles. Estremeceu por dentro ao ouvir a voz gutural e sensual de Alec Caim, porém, limitou-se a dirigir-lhe um olhar sentido por cima dos óculos de sol. Ele passava a vida a dizer-lhe que ignorasse as presas quando não estivessem a caçar. Como se fadas degeneradas, demónios, magos, lobisomens, dragões e os milhares de variantes dos ditos fossem fáceis de ignorar. Está uma mulher a amamentar o filho ao lado de um incubo, murmurou. Meu anjo, o epíteto percorreu-lhe a pele como uma carícia. A voz de Alec poderia converter meras orientações de estrada em preliminares. Já te esqueceste que estamos de folga?
Ela bufou e desviou o olhar. Com um pouco mais de um metro e oitenta, Alec fora brindado com um peito robusto e um abdómen firme, sulcado de músculos, que se adivinhavam mesmo por cima da camisola de alças branca e justa. Tinha umas pernas longas e musculosas, agora em exposição, sob um par de Dickies até ao joelho, e uns bíceps tão maravilhosamente definidos que eram alvo da cobiça de homens e mulheres. De vez em quando..., era seu amante. Como todos os doces, Alec era delicioso e gratificante, mas se saboreado em demasia provocava-lhe hipoglicemia, deixando-a aturdida e vacilante. Também lhe arruinara a vida tal como a concebia. A sua ambição, em termos de carreira, era ser designer de interiores e não caçadora de prémios. Como se fosse assim tão simples, resmungou Eve. Como posso sentir-me em férias se estou rodeada de trabalho? Além disso, fedem, mesmo quando os ignoro. Eu só sinto o teu cheiro, ronronou ele, inclinando-se e roçando-lhe o nariz na face. Hummm... Apavora-me que estejam por toda a parte. Ontem fui ao McDonald's e a pessoa que me serviu à janela era uma fada. Não consegui sequer comer o meu Big Mac. Aposto que comeste as batatas fritas. Alec puxou os óculos escuros para baixo e fitou-a com uma expressão sombria. Há uma diferença entre estar atento e entrar em paranóia. Sou cautelosa, mas não sou um caso perdido. Farei o melhor que puder até descobrir a forma de me libertar desta história da marca. Estou orgulhoso de ti. Eve suspirou. Ter Alec como mentor era uma péssima ideia e não apenas pelo facto de ser o equivalente ao teste do sofá em Hollywood, aos olhos da maioria dos Marcados. Pouco importa que o verdadeiro teste do sofá consistisse na troca de favores sexuais por uma posição desejada. Ninguém jamais desejaria a Marca de Caim.
A hierarquia dos Marcados começava nas bases, com os recém-chegados, e culminava em Alec, o primeiro e o mais duro de todos os Marcados. Não havia forma de o superar nem de trabalhar com ele. Ele era a quinta-essência do solitário, no sentido mais literal da palavra. E, no entanto, ali estava Eve, uma recém-chegada, há seis semanas no terreno, firmemente empoleirada no topo, porque ele não confiava em ninguém para a proteger. Ela era importante para ele. Para os outros Marcados, trabalhar com o principal executor de Deus só podia ser sinónimo de férias, e embora fosse verdade que os Infernais não se metiam com Alec, a menos que desejassem morrer, isso não facilitava nada as coisas. Para piorar a situação, Alec fora marcado há tanto tempo que já não se lembrava o que era ser um recém-chegado, em estado de confusão. Isso era algo que ele esperava simplesmente que ela soubesse e ficou frustrado quando percebeu que não. Apertou-lhe a mão. O que é feito da rapariga que apenas desejava esquecer tudo durante algumas horas?» In Sylvia Day, Eve e as Trevas, 2009, tradução de Leonor Marques, Porto Editora, 5 Sentidos, 2015, ISBN 978-989-745-017-4.

Cortesia de 5Sentidos/PEditora/JDACT