Estudar não é só ler nos livros
que há nas escolas.
É também aprender a ser livre,
sem ideias tolas.
Ler um livro é muito importante,
sem ideias tolas.
Ler um livro é muito importante,
às vezes urgente,
mas livros não são o bastante
para a gente ser gente.
É preciso aprender a escrever,
mas também a viver,
mas também a sonhar.
É preciso aprender a crescer,
aprender a estudar.
[…]
Estudar também é repartir
também é saber dar
o que a gente souber dividir
para multiplicar.
Estudar é escrever um ditado
sem ninguém nos ditar;
e se um erro nos for apontado
é sabê-lo emendar.
É preciso, em vez de um tinteiro,
ter uma cabeça que saiba pensar,
pois, na Escola da vida,
primeiro está saber estudar.
[…]
Estudar é muito
mas pensar é tudo!
In Ary dos Santos
«O facto de se
“acreditar” que a escolarização massificada, orientada por políticas que tendiam
a garantir a escolaridade básica obrigatória e que propunham planos de
alfabetização e educação recorrente, tenderam para uma escolarização, que para
muitos seria incansável sem este impulso. Criou-se então a ilusão de que os
problemas do analfabetismo tinham sido ultrapassados, à excepção do 3.º Mundo.
No entanto, depressa se desfez essa ideia, com o conhecimento de “percentagens
significativas” da população dos países desenvolvidos que, demonstravam
“dificuldades na utilização de material escrito, apesar de escolaridades
obrigatórias relativamente longas”. Irrompeu então um novo tipo de
analfabetismo que denunciava que, apesar do aumento da escolarização, existiam
incapacidades do domínio da leitura e da escrita, diminuindo assim a
capacidade, de alguns indivíduos, obterem a mesma participação na vida social,
relacionando este fenómeno com aprendizagens insuficientes, mal sedimentadas e
pouco utilizadas na vida social.
O termo literacia surge
assim, como complemento da definição “alfabetização funcional” que equaciona
precisamente, as “competências necessárias à execução de novas tarefas, de modo
a que o indivíduo assegure o seu desenvolvimento e o da comunidade”, 2005. Todavia
o conceito de literacia centra-se sobretudo no uso de competências mais do que
na sua obtenção, tornando assim, evidente a distinção entre níveis de literacia
e níveis de instrução formal, que os indivíduos possuem, podendo estas ser ou
não competências reais.
A rápida transformação
da sociedade tem feito emergir novas necessidades, mais complexas e
multifuncionais, relativas às competências exigidas para a sobrevivência tanto
na vida privada, como social e profissional. “As competências que correspondem
a uma plena alfabetização ultrapassam largamente o domínio da tradicional
capacidade de leitura, escrita e aritmética e desafiam até o conceito mais
contemporâneo de literacia funcional”, 2002.
Neste ciclo de mudanças
que o mundo percorre, o conceito de literacia tradicional, está
também em transformação, adquirindo novas e múltiplas dimensões que implicam
aspectos económicos, visuais, científicos, multiculturais, podendo mesmo
designar-se como “literacia global”, 2002.
Em Portugal, no que diz
respeito à legislação, “na sequência da publicação do D.L. nº 6/2001 de 1 de
Janeiro, que estabelece os princípios da organização curricular do ensino
básico, bem como a avaliação das aprendizagens e do processo de desenvolvimento
do currículo nacional (art. 1º), é afirmada, em documento homologado pelo
despacho de 21 de Outubro de 2001, a noção que deverá orientar os três ciclos,
incluídos neste nível de escolaridade: trata-se da noção de competência que
tem, aliás, estado presente em revisões de outros sistemas de ensino, sobretudo
na Europa”, 1993. Assim, de acordo com o descrito, são desenvolvidos em Portugal
e por todo o continente Europeu, estudos sobre literacia, bem como dos níveis
da mesma na população».
In David Olson, Jacinta
do Céu Laranjo Conceição, A Literacia é um Profundo Envolvimento com a Tradição
Escrita, Faculdade de Economia, Universidade de Coimbra, Fontes de Informação
Sociológicas, 2005.
Cortesia da U. de
Coimbra/JDACT