«São pouco posteriores (entre 1947 e 1950) os trabalhos de Luís Afonso
Ferreira, que fez do que chamou O Livro
de virtuosa bemfeyturia o tema da sua tese de licenciatura (Biblioteca
Central da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, cota C-3-3-20),
infelizmente não publicada, e se preparava para fazer uma já então necessária
edição crítica da obra. Os numerosos problemas codicológicos e textuais são abordados
lucidamente não só nessa tese, mas também na recensão crítica à edição de 1946,
publicada na ‘Biblou’ e, em 1950, num desenvolvido artigo intitulado Algumas considerações à volta dos
manuscritos do “Livro de Virtuosa Bemfeyturia”. Este artigo é a primeira
abordagem séria do núcleo de manuscritos existente, e das características
textuais de cada um, embora aplicada a uma extensão limitada do texto.
Vinha esse último trabalho a propósito de um acontecimento de invulgar
interesse na história do texto. Américo da Costa Ramalho descobrira na ‘Bodleian
Library’, de Oxford, mais um manuscrito da obra, que deu a conhecer
publicamente num artigo inserto no suplemento literário do jornal ‘Novidade’,
em 6 de Novembro de 1949 e, com mais pormenores, no ‘Boletim de Filologia’,
saído em 1950. Tratava-se de um manuscrito cartáceo do século XV e a sua
importância para a fixação do texto parecia evidente, não obstante faltar-lhe a
dedicatória e alguns fólios que conteriam os três últimos capítulos.
Mas há mais trabalhos importantes, os de António José Saraiva, no mesmo
ano, na História da cultura em Portugal,
e de Robert Ricard, em 1953, L’infant D.
Pedro de Portugal et “O Livro da Virtuosa Benfeitoria”. Em 1956 e 1957 cabe
ao pe A. Dias Dinis contribuir para um conhecimento documental da personalidade
de frei João Verba com dois artigos:
- Quem era fr. João Verba, colaborador literário de EI-Rei D. Duarte e do Infante D. Pedro,
- Ainda sobre a identidade de Frei João Verba.
Anteriormente só se sabia dele o que constava da dedicatória ao infante
Duarte, que era licenciado, e confessor do infante Pedro. Passou-se então a
saber mais, que foi capelão pontifício por nomeação do papa Martinho V desde l8
de Fevereiro de 1423 e prior do mosteiro de S. Jorge de Coimbra entre 1423 e
1435, não obstante ser dominicano. Tudo isto é comprovado pela primeira vez por
documentos então trazidos a público.
Aparecem poucos anos depois os trabalhos do pe Mário Martins, produto
de um vasto e profundo conhecimento da prosa medieval portuguesa, neles são
dilucidados passos importantes como as alegorias e as paráfrases. E em 1981,
Maria Helena Rocha Pereira publica o artigo Helenismos
no Livro da Virtuosa Benfeitoria, que constituía o primeiro trabalho de carácter
linguístico sobre a obra.
Nos últimos anos, a investigação não cessou, antes se enriqueceu com
novas perspectivas e novas análises de ideias. Têm de ser mencionados os
estudos levados a cabo por Saúl António Gomes, novamente António José Saraiva,
Luís Sousa Rebelo e João Gouveia Monteiro. E, em 1992, o Congresso Comemorativo
do 6º Centenário do Infante Pedro, realizado pela Faculdade de Letras da Universidade
de Coimbra, deu ocasião a que vários trabalhos de elevado nível se ocupassem do
“Livro da virtuosa benfeitoria”. Mencionemos, pelo seu interesse específico:
- A “Virtuosa Benfeitoria” e o pensamento político do Infante D. Pedro, de João Abel Fonseca;
- O conceito de ordem natural no “Livro da Virtuosa Benfeitoria”, de Pedro Calafate;
- A “Virtuosa Benfeitoria”, primeiro tratado da educação de príncipes em português, de Nair Castro Soares;
- A alegoria final do “Livro da Virtuosa Benfeitoria”, de Luís Sousa Rebelo; Hermenêutica e poder no “Livro da Virtuosa Benfeitoria”, de F. Gama Caeiro;
- O pensamento político-social na “Virtuosa Benfeitoria”, de Amândio Coxito.
Naturalmente, após este rápido inventário do que de mais relevante se
escreveu sobre a obra que aqui nos ocupa, poderíamos ainda mencionar as
referências que lhe são feitas em quantos manuais, tratados e dicionários de
literatura portuguesa foram produzidos. Está fora de causa uma prospecção de
todos eles, mas temos de fazer uma j usta excepção para referir, num plano de
síntese didáctica e bibliográfica, o capítulo ‘A prosa doutrinal de corte’ da História da literatura portuguesa de
António José Saraiva e Óscar Lopes». In Infante D. Pedro e Fr. João Verba,
Livro da Vertuosa Benfeytoria, introdução de Adelino A. Calada, Universidade de
Coimbra, 1994, ISBN 972-616-137-1.
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