«Viana do Castelo é um concelho rico de tradições, mas também de amor e
de dedicação ao que de mais genuíno tem. Por todo o concelho são muitos os que,
de forma arreigada e anónima, se entregaram à preservação e divulgação das
nossas tradições e do Traje à vianesa, com especial destaque de Amadeu Costa, Francisco
Sampaio e das Comissões de Festas de Nossa Senhora d’Agonia.
O Museu do Traje traz ao público uma exposição que recorda o que de mais
tradicional Viana do Castelo tem, reconhecendo a importância das nossas raízes
culturais, do imaginário do fantástico do Alto Minho.
Muito devemos também, neste trabalho de preservação e divulgação pelo país
e pelo mundo do Traje à vianesa da recolha, da autenticidade, do brilho e da
alegria dos nossos grupos etnográficos e folclóricos.
Assim como o Museu, o Traje tem uma identidade própria sob formas diferentes
de se apresentar e, nesta mostra, voltam a conhecer-se as formas de ser e estar
dos vianenses através do estudo e divulgação da etnografia vianense. Muitos
foram os que contribuíram, ao longo dos anos, com o seu estudo, pesquisa,
recolha e trabalho para que esta exposição e catálogo fossem possíveis, com
especial relevo para os contributos de António Medeiros, Benjamim Pereira e
João Alpuim Botelho, com o livro ‘Traje à Vianesa, Uma Imagem da Nação’.
Este é o primeiro catálogo do espólio do Museu, que dá a conhecer a enorme
riqueza e beleza das suas colecções, principalmente das peças de Traje, mas
também de outros objectos que tanto contribuíram para divulgar a imagem do
Traje à vianesa como verdadeiro símbolo da região e, por que não dizê-lo, de
Portugal inteiro. O Traje usado pelas raparigas das aldeias ao redor de Viana
do Castelo até meados do século XX, conhecido como traje à vianesa ou à
lavradeira, tem um ousado colorido e uma enorme profusão de elementos decorativos
que lhe conferem um aspecto exuberante. Estas características tornam-no único
no panorama da indumentária popular em Portugal, sendo facilmente reconhecido e
identificado com a região de origem. Esta foi a principal razão de o Traje se
transformar num símbolo da identidade local.
Maria José Cerqueira trajada para uma actuação.
Menina com traje de lavradeira, 1927. Arquivo anavale.
Grupo folclorico de Carreço, 1938, ManuelFontes
jdact
A sua originalidade e riqueza plástica fizeram com que fosse, desde finais do século XIX, objecto de olhares atentos e de admiração de viajantes e estudiosos e também motivo de orgulho dos vianenses. O primeiro impacto do traje é de espanto pela sua beleza, mas não podemos esquecer que está integrado num contexto sócio cultural em que faz sentido: uma economia próxima da auto suficiência, que recorria a trabalhos recíprocos, colectivos e gratuitos, com uma forte carga lúdica e de sociabilidade integrada. Este contexto é uma chave fundamental para compreendermos este traje e o relacionarmos com o seu ambiente: muitas vezes a mesma rapariga que cultivou o linho (e criou as ovelhas que deram a lã), foi quem o fiou e teceu e depois executou as peças de roupa que tingiu e decorou com bordados e outras aplicações. E não seria raro que fosse essa mesma rapariga a usar o traje, adaptando-o aos ritmos e momentos da vida rural de trabalho quotidiano, dos momentos de descanso, nomeadamente o dominical, e de festa, onde a rapariga se mostra orgulhosamente no seu esplendor.
Foi neste contexto que o traje evoluiu e desenvolveu as características
que o individualizam e é por esta razão que é entendido como um espelho de um
modo de vida tradicional e da identidade alto minhota. Desde que o traje
começou a desaparecer do uso quotidiano, ao longo do século XX, eruditos e
autoridades locais e nacionais criaram e apoiaram diversas práticas
performativas para o manter: grupos folclóricos, recriações de ambientes
tradicionais, concursos, exposições, festivais, etc.
Lavradeira de Afife em dia de festa, 1909, JoaodeAzevedo
jdact
Foi neste âmbito que se desenvolveu em Viana do Castelo o desejo de um Museu dedicado ao traje que encontramos desde os anos 1920 e que só em 1997 se realizou. O traje é o mais relevante e reconhecido elemento da cultura alto minhota, por isso a designação de Museu do Traje homenageia-o como símbolo de identidade, mas não esquece todo o seu enquadramento sócio cultural na vida rural tradicional, bem como a sua projecção nos nossos dias e as pistas que permitem pensar o seu futuro.
Este primeiro catálogo do Museu do Traje de Viana do Castelo mostra uma
parte significativa do acervo e procura contribuir para uma definição do que é
este traje, qual o seu percurso desde o tempo em que era usado quotidianamente
até aos nossos dias e dos novos significados que ganhou». In Museu do Traje de Viana
do Castelo, Câmara Municipal de Viana do Castelo, 2010, ISBN 978-972-588-221-4.
A amizade da Isabel e António
Cortesia da CM de Viana do Castelo/JDACT