segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Poetisas Portuguesas. Antologia contendo dados acerca de cento e seis poetisas. Nuno Catarino Cardoso. «Desejando prestar a minha homenagem a tantas ‘Senhoras Portuguesas’ que, de meados do século findo, até hoje, se têm notabilizado como poetisas, abro três justas excepções, tratando da marquesa de Alorna, da viscondessa de Balsemão e de D. Francisca Possolo da Costa…»



Cortesia de libraryuniversityoftoronto

«É deste modo que, aos dezassete anos de idade, Publia Hortencia de Castro, que não pertencia à falange nobre dirigida pela Infanta D. Maria, tendo cursado filosofia, humanidades e teologia, defende teses em Évora, em 1563. A sua erudição era tal, que Filippe II, que assistiu a uma prova publica em que Publia Hortencia de Castro sustentou das mais difíceis teses teológicas, lhe concedeu uma pensão vitalícia. Não nos deverão, todavia, admirar em extremo estes factos, se atendermos a que Joanna Vaz, filha do licenciado João Vaz e uma das três damas da Infanta D. Maria, escrevia em árabe, hebraico, grego e latim, ao papa Paulo III.
No século seguinte, apesar da decadência que já se nota na Literatura Portuguesa, ainda se distinguem, entre outras, soror Violante do Ceu, auctora das ‘Rimas Várias’ e do ‘Parnaso dos Divinos e Humanos versos’; soror Mariana, autora dessas admiráveis cartas dirigidas ao cavaleiro de Chamilly; e a condessa de Ericeira, D. Joanna de Menezes, muito versada em castelhano, latim, italiano e francês e que escreveu catorze volumes em que tratou assuntos vários.
Desejando prestar a minha homenagem a tantas ‘Senhoras Portuguesas’ que, de meados do século findo, até hoje, se têm notabilizado como poetisas, abro três justas excepções, tratando da marquesa de Alorna, da viscondessa de Balsemão e de D. Francisca Possolo da Costa, que viveram num período anterior à data marcada para início deste trabalho, ou que simplesmente têm versejado com felicidade, e que tão nobremente têm sabido continuar as gloriosas tradições literárias de suas antecessoras, resolvi consagrar às ‘poetisas portuguesas’ o primeiro volume desta Antologia, na qual, portugueses, brasileiros e estrangeiros encontrarão inúmeras jóias dispersas do nosso vasto tesouro poético.
Da inteligência, saber e mérito de cada uma das ‘Musas’ de que se ocupa este livro, mais do que eu possa dizer, falam as suas composições poéticas, nas quais, a cada passo, encontramos sentimento, graça, lirismo e beleza que nos seduz e encanta.
Como poderiam deixar de ser notáveis as ‘senhoras’ que nasceram na Pátria que se honra de contar no número de seus filhos insignes:
  • Garrett, Herculano, Castilho, João de Deus, Antero do Quental, Camilo Castelo Branco, Eça de Queiroz, Ramalho Ortigão, Fialho d'Almeida, Júlio Dinis, Gonçalves Crespo, Thomaz Ribeiro, Bulhão Pato, conde de Monsaraz, Fernando Caldeira, João da Câmara, Sousa Monteiro, João de Lemos, Faustino Xavier de Novaes, Xavier Cordeiro, Soares de Passos, Gomes de Amorim, […] Mendes Leal, Pinheiro Chagas, Latino Coelho, Oliveira Martins, Silva Pinto, Sousa Viterbo, Consiglieri Pedroso, Inocêncio F. da Silva, Aníbal Fernandes Thomaz, Rodrigues Sampaio, Teixeira de Vasconcelos, António Enes, Mariano de Carvalho, […] Teófilo Braga, Xavier da Cunha, Fernandes Costa, Guerra Junqueiro, Gomes Leal, Adolfo Coelho, Júlio Dantas, Eugénio de Castro, António Corrêa de Oliveira, Afonso Lopes Vieira, Alberto Bramão, Augusto Gil, Júlio Brandão, Alfredo da Cunha, Marcelino Mesquita, Lopes de Mendonça, Alberto Pimentel, Carlos Malheiro Dias, João de Barros, etc, etc.
Muitas das poetisas de que trato, por demasiadamente conhecidos seus nomes e apreciadas suas obras literárias, não careciam de apresentação, se desse modo não desejasse reunir muitos elementos dispersos, duma matéria que entre nós tem sido pouco versada, e tornar mais útil e mais interessante esta obra que, pelas notas biográficas e bibliográficas que insiro, fornece os elementos necessários para se poder proceder a um balanço do movimento intelectual feminino em Portugal, a partir de meados do século XIX, até nossos dias, desígnio que, embora não completamente, penso ter realizado.
Se não fosse um tanto ou quanto rebelde a classificações e se uma vez estas estabelecidas, não trouxessem melindres (razão porque resolvi, para os evitar, seguir a ordem alfabética), dividiria as poetisas a que me refiro, em: ‘poetisas falecidas e poetisas vivas’.
Estas últimas, subdividi-las-ia em dois grupos. Como esta “Antologia, pela sua própria natureza, não é um livro de critica literária, embora algumas das poetisas citadas tenham, é certo, mais merecimento que outras, abstenho-me de tais classificações que deixo ao critério. Concluindo estas explicações, resta-me apresentar a todas as ‘senhoras’ e Pessoas a quem tive a honra de entrevistar e a todas as damas e cavalheiros que tiveram a amabilidade de me prestarem esclarecimentos, a expressão mais sincera do meu grande e profundo reconhecimento pela forma cativante com que umas e outros se dignaram anuir aos meus pedidos.
Às senhoras D. Mecia Mouzinho de Albuquerque, D. Zulmira Franco d’Almeida Teixeira, D. Maria Jacinta Bastos, D. Ester Amália da Cunha Belém, D. Maria Figueiredo Feio Rebelo Castelo Branco, D. Lia de Magalhães Colaço, D. Branca da Silveira Silva, D. Alda Guerreiro Machado, D. Emília Adelaide Moniz Maia, D. Maria O’Neill, D. Rosalinda Celeste Figueiredo Santos, e D. Rosa Varela que quiseram enriquecer esta “Antologia”, cedendo-me valiosos inéditos, aqui deixo expresso o preito da minha maior gratidão (Lisboa, em Junho de 1917)». In Nuno Catarino Cardoso, Poetisas Portuguesas, Prefácio, Antologia contendo dados de 106 poetisas, Livraria Scientífica, Lisboa, 1917, Library University of Toronto, 1969.

Cortesia de Livraria Scientífica/Paulo Cardoso/JDACT