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Documento II
«Para a confecção da parte náutica do Regimento real, a entregar a
Cabral para a sua viagem, foi ouvido Vasco da Gama, a cuja experiência de 1497
a 1499 muito convinha atender. O secretário Alcáçova Carneiro foi quem, ouvindo
o Gama, escreveu as suas instruções. Ainda se conserva o ‘borrão original’ da
primeira folha dessas instruções, ditadas por Vasco da Gama.
Varnhagen, depois visconde de Porto Seguro, adquiriu na quinta década
de ‘oitocentos’, talvez em Madrid, o precioso Documento; publicou-o em
fac-simile na sua ‘História do Brasil’, e ofereceu-o à Torre do Tombo, depois
de 1854, onde se julgou perdido. Em 1921 foi reproduzido por Malheiro Dias,
também em fac-simile, servindo-se do publicado por Varnhagen, acompanhado da
respectiva leitura por António Baião.
O documento original, com a carta de Varnhagen (sem data) oferecendo-o
à Torre do Tombo, foi encontrado em 1934 por Baião num envelope ao canto duma
das gavetas das numerosas mesas daquele Arquivo. Em sessão da Academia das
Ciências, de 19 de Abril do mesmo ano, António Baião comunicou o seu achado do
Documento, o qual está hoje conservado no referido Arquivo.
Em 1938 foi ele publicado em tradução inglesa pelo professor americano Morison
e por Greenlee.
A forma porque termina a segunda página do ‘borrão original’ mostra que
as instruções conservadas tinham seguimento, tendo-se perdido as outras páginas
em que Alcáçova Carneiro as escrevera. Os traços que se vêm nas ‘linhas de
borrão’, texto e notas marginais, indicam que ele foi passado a limpo, isto é,
os conselhos do Gama foram depois utilizados na confecção do Regimento real,
mas, até hoje, ainda não foi encontrado o original, ou mesmo qualquer cópia
desta parte de tão notável Documento.
As instruções do grande Gama são as primeiras conhecidas, para a
navegação duma armada em conjunto. Elas marcaram nos conhecidos ‘Regimentos
reais’ dados a Francisco Almeida em 1505, a Fernão Soares em 1507, a Diogo
Lopes Sequeira em 1508 e Gonçalo Sequeira em 1510.
Documento II, página 2
Leitura de AntonioBaiao
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Também a rota esboçada pelo Gama, desde as ‘Ilhas de Cabo Verde’, para
ir dobrar o ‘Cabo da Boa Esperança’, mostra que ele conhecia os ventos e talvez
mesmo as correntes do Atlântico, Norte e Sul.
Este Documento, deve ter sido escrito em Lisboa na última quinzena de
Fevereiro de 1500, entre 1 de Fevereiro, data do Documento I, e 1 de Março,
data do Documento V. É ele o mais antigo original português que contém o nome do ‘Cabo da
Boa Esperança’». In Fontoura Costa, Os Sete Únicos Documentos de 1500,
conservados em Lisboa referentes à viagem de Pedro Álvares Cabral, Torre do
Tombo, 1968.
continua
Cortesia da Torre do Tombo/JDACT