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Política exterior. O drama de Inês de Castro
«Foi para o impedir que Afonso
IV decidiu a morte de D. Inês de Castro, que foi degolada em 7 de Janeiro de
1355, nos paços de Sana Clara, em Coimbra, numa ocasião em que o infante estava
ausente. Este não acatou a justiça mandada fazer pelo rei e declarou-se em
revolta. Durante meses, o País foi assolado pelas tropas do infante, formadas
sobretudo por nobres portugueses e galegos (entre estes últimos, os Castros).
Chegaram a cercar o Porto durante duas semanas, cobiçosos das riquezas dos
moradores. Estes defenderam-se colmatando as brechas das muralhas com os pendões
das naus que estavam ancoradas no Douro. O estranho pormenor, revelado pelo “Livro de Linhagens do Conde D. Pedro”, parece
mostrar a adesão das forças populares à causa do rei.
O conflito terminou com uma reconciliação: ‘E vendo os povos de
Portugal os estragos da terra disseram que se conviessem, se não que os não
podiam sofrer’. Esta passagem de Acenheiro, que trabalhou em papéis anteriores,
parece indicar a exigência das forças populares no sentido do restabelecimento
da paz.
Apesar de todos os perdões solenemente jurados, o infante Pedro, logo que
subiu ao trono, conseguiu que o rei de Castela lhe entregasse os conselheiros
de Afonso IV que tinham decidido a morte de D. Inês e fê-los executar com um
rigor atroz, que impressionou os contemporâneos. Em 1360, anunciou formalmente
que chegara a casar secretamente com D. Inês de Castro e, pela mesma ocasião, mandou
construir os monumentais túmulos de Alcobaça, que são os mais notáveis
exemplares de arte tumular existentes em Portugal. Logo que ficou concluído o
que se destinava a D. Inês de Castro, realizou-se a trasladação desde Coimbra.
Estes factos, o desvario amoroso do infante, o conflito com o rei, a
imolação de D. Inês à razão política, a solidariedade de uma grande parte da
nobreza, a guerra civil, a ferocidade da vingança, a pompa da trasladação, a própria
grandeza e o valor artístico dos túmulos, fizeram nascer uma lenda de origem
provavelmente erudita, mas que não tardou a passar às camadas populares. Nessa lenda
incluíam-se pormenores sem qualquer fundamento, como o da coroação e do
beija-mão do cadáver. Ficaram célebres a peça de António Ferreira “A
Castro” e sobretudo as comovidas estrofes d’Os Lusíadas que
contribuíram muito para a popularização e internacionalização do episódio. Só
em língua italiana foram recenseados, no início do século passado, cento e
vinte e seis composições musicais ou baléticas sobre o tema. Da literatura passou
ao cinema e às artes plásticas e deixou profunda marca no teatro de origem popular.
Progressos da economia monetária
Ao longo dos séculos XIII e XIV desenvolve-se o comércio interno e
externo e progride a articulação da actividade comercial com a agricultura. Não
é um fenómeno apenas português, mas uma tendência verificada em toda a Europa
ocidental. A evolução portuguesa neste período é, sob esse aspecto, uma inserção
da produção e do consumo nacionais no quadro da economia europeia.
O número de feiras aumentou rapidamente depois da crise política de
1245-1247. Entre os meados e os finais do século XIII são criadas cerca de
trinta feiras. Os documentos relativos à sua instituição apresentam-nas sempre
como sendo da iniciativa do rei.
Num documento de 1269, os burgueses de Coimbra reuniram-se ‘não por
força, nem por engano, mas de sua livre vontade’ e aprovaram a decisão de
Afonso III que mandava fazer uma feira na cidade, no bairro de Almedina». In
José Hermano Saraiva, História Concisa de Portugal, Publicações Europa América,
1995.
continua
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