quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Os Mais Antigos Documentos escritos em Português. Avelino J. Costa. «… facetado das letras, substituído por traços arredondados, o que denota acentuada evolução da gótica. O conjunto das particularidades paleográficas referidas prova que o “Auto de partilhas” não é um original de 1192»



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In Memoriam de JLT

«As mesmas razões levam a rejeitar a hipótese de se poder tratar de um original da Era M.CCC.XXX (ano de 1292) sugerida na observação do organizador dos ‘Documentos para a Historia Portugueza’.
  • O “Auto de partilhas” não é um original de 1192.
Examinando o traçado geral da escrita do “Auto de partilhas”, verifica-se que ele, com as suas formas cheias, arredondadas e compassadas, se afasta das escritas comuns entre nós nos fins do séc. XII - inícios do XIII e se aproxima da escrita (a que alguns chamam semi-gótica) que começou um século mais tarde, evoluindo depois para a redonda dos livros do séc. XV.
Encontram-se, com efeito, as seguintes particularidades.

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Todavia, o facetado das letras (outra característica da gótica) está, em muitos casos, substituído por traços arredondados, o que denota acentuada evolução da gótica. O conjunto das particularidades paleográficas referidas prova que o “Auto de partilhas” não é um original de 1192 e que deve ter sido escrito em fins do séc. XIII - inícios do XIV. A tinta nele usada também é diferente da dos outros documentos de Vairão dos finais do séc. XII.
L. F. Lindley Cintra, por sua vez, alega contra a autenticidade as seguintes particularidades gráficas e linguísticas:
  • a) O seu aspecto gráfico geral, quase estabelizado, está em oposição à variedade de grafias da ‘Noticia de torto’ e dos primeiros documentos galegos da colecção de Martínez Salazar, sendo esta variedade explicável por os escribas não estarem habituados a transcrever os sons romances;
  • b) O emprego do ll com valor de lh na palavra uallam  (linha 11) só começa a aparecer na outra documentação depois de 1255;
  • c) O emprego do n depois de oe para representar a nasalidade em particoens neste documento (linha l0) e em moensteyro, no Testamento de 1193, não se encontra nos outros documentos da época e é de estranhar que, sendo nasal apenas a primeira vogal,. o n se pusesse depois da segunda». 
In Avelino de Jesus da Costa, Os Mais Antigos Documentos Escritos Em Português, Revisão de um problema Histórico linguístico, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Revista Portuguesa de História, Coimbra, 1979.

continua
Cortesia da U. de Coimbra/JDACT