Lisboa
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de wikipedia
«Forma-se
em Medicina na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, iniciando a sua carreira
profissional como Cirurgião-Médico em 1849, e em 1853 é promovido a
Cirurgião-Mór. A par da sua carreira militar, Teixeira de Aragão desempenhou os
cargos de Secretário Geral do Governo da Índia e Director do Gabinete
Numismático de Luís I.
Teixeira
de Aragão foi um dos principais vultos da numismática portuguesa, mas a sua
obra, que varia entre a historiografia de divulgação e a erudita, não se
restringiu apenas a esta área do saber. Teixeira de Aragão era sobretudo um
erudito, influenciado pela interpretação histórica nacional de Herculano, a
quem designava como “mestre”. Em 1850, iniciou a sua colecção e estudo sobre
moedas antigas, motivado talvez pelo destaque crescente que a numismática
alcançara em Portugal no decorrer do século XIX, sobretudo devido às
repercussões positivas de 1801, data a partir da qual a cadeira de Diplomática
da Universidade de Coimbra que funcionava na Torre do Tombo, contou com a
implementação da numismática no seu programa; acresce a este facto a criação do
Gabinete de Moedas e Medalhas na Torre do Tombo em 1836 e o crescente número de
publicações sobre numismática, Dicionário de História de Portugal, 1968.
Com o passar dos anos, a sua colecção de moedas e medalhas enriqueceu
quantitativamente e qualitativamente.
No
ano de 1867, vende algumas das suas valiosas moedas a Luís I e com esse gesto ‘caiu nas boas graças do monarca,
ficando numa ‘excelente posição social
[...] como conservador do gabinete real, e amigo do rei, o que lhe granjeava
influência e [...] o punha em circunstâncias de puder dedicar-se a frutíferas
investigações científicas’, conforme “Da Numismática em Portugal,
1923”.
Durante a
sua estada em Paris, vê o seu primeiro trabalho publicado, ‘Description dês
monnaies, médailles et autres objects d`art concernant l´histoire portugaise du
travail’, tinha então quarenta e cinco anos. Em 1868, surge o seu primeiro
trabalho sobre arqueologia intitulado ‘Relatório sobre o cemitério romano
descoberto próximo da cidade de Tavira em 1868’, onde o autor critica
abertamente a falta de apoio aos estudos arqueológicos e chama a atenção para o
abandono do património português, em especial dos monumentos edificados, ‘Relatório
sobre o cemitério...,1868’. Em 1871, Teixeira de Aragão faz publicar a
primeira edição da obra “Vasco da Gama e a Vidigueira”. Inicialmente
prevista para ser um artigo de jornal, rapidamente alcança a forma de livro
tendo conhecido três edições, 1871,1886 e 1898. As edições revistas e
aumentadas revelam a preocupação do autor pela busca da verdade e a sua
consciência das limitações que esta contém. Para o autor,
- ‘o escritor consciencioso vai estudando e emendando; a crítica auxilia a investigar a verdade, e esta é o único alicerce da História, Vasco da Gama e a Vidigueira..., 1898’.
A verdade
encontra-se nos documentos, nos monumentos e nos artefactos. Assim, afirmava
que as fontes deveriam ser alvo de uma forte inquisição por parte do
investigador; porém, tendo sempre em atenção que:
- ‘os cronistas narraram principalmente os grandiosos feitos dos príncipes e dos altos personagens, deixando de mencionar muitas coisas que julgavam secundárias e de que a história hoje não pode prescindir, Idem, 1898’.
Entre 1875
e 1880, é publicada, em três tomos, a ‘Descrição geral e história das moedas
cunhadas em nome dos reis, regentes e governadores de Portugal’, embora a
obra se encontre incompleta, Antologia da historiografia portuguesa de Herculano
aos nossos dias, 1975, vol. 2, é, ainda nos nossos dias, uma das obras
incontornáveis da história da numismática em Portugal.
Dos três
tomos publicados,
- o primeiro refere-se ao estudo das moedas das primeiras dinastias (1128-1640) e às dos governadores do reino;
- o segundo tomo é dedicado ao estudo das moedas da dinastia de Bragança até ao monarca Luís I, (1640-1877);
- o último tomo publicado dedica-se ao estudo das moedas da Índia e da África Oriental;
- deveria, ainda, ter sido publicado um quarto tomo, que seria dedicado às moedas do Brasil e da África Ocidental, Da Numismática em Portugal, 1923.
Uma
parcela desse tomo foi publicada sob o título Breve noticia sobre o
descobrimento da América e encontra-se numa compilação de estudos denominada
Centenário do descobrimento da América. Esta obra foi elaborada no
âmbito das comemorações do IV Centenário do Descobrimento da América, onde
Teixeira de Aragão participou na categoria de Tesoureiro da comissão portuguesa
e como autor de dois textos contidos na obra acima referida. Os seus trabalhos
foram recebidos pelos intelectuais da época com grande apreço. Das inúmeras
congratulações que obteve, destacam-se as de Alexandre Herculano e Manuel
Pinheiro Chagas. Este elogiou as suas capacidades como investigador mencionando
que:
- ‘era necessário [...] que se multiplicassem os homens como o Sr. Teixeira de Aragão e que os nossos arquivos fossem revolvidos por esquadrinhadores da sua têmpera e do seu critério, Vasco da Gama e a Vidigueira...,1898’.
Para Teixeira
de Aragão, a História não era entendida apenas como um estudo de reis e
dinastias, mas como o estudo de toda a sociedade em várias perspectivas.
Acreditava na História como ciência reveladora do passado e das suas várias
realidades, que deveria utilizar os resultados de outros campos de estudo,
cruzando informações, aproveitando, desse modo, toda a potencialidade da
História. Considerava as moedas como evidências materiais, as quais, quando
analisadas por si só transmitem um número limitado de informações. Ciente desta
limitação, utilizava as moedas como uma fonte de estudo, integrando-as no seu
contexto histórico, com o objectivo de alcançar uma maior amplitude de
conhecimento, tanto do objecto como do contexto.
Participou assiduamente no meio intelectual português, fazendo parte de
várias sociedades culturais e comissões científicas». In Miguel Pimenta Silva,
Dicionário de Historiadores Portugueses, Academia Real das Ciências ao final do
Estado Novo, Biblioteca Nacional de Portugal, Fundação Luso-Americana, Fundação
para a Cultura e a Tecnologia.
Cortesia da BNP/JDACT