«Seja como for, a cópia
do original francês exportada para a Inglaterra, se existiu, mais o manuscrito
original do tradutor inglês e quaisquer outras cópias feitas desse documento excepto
aquela agora conhecida como Manuscrito Alfield também desapareceram em
circunstâncias de que não podemos, até agora, fazer a menor ideia.
O autor
O autor da crónica em
francês chamava-se ‘Thomas Lelillois’,
ou ‘Lemeschin’, monge cisterciense do
convento de Dannemarie, em Níniva. ‘Lelillois’ foi contemporâneo dos homens e
mulheres cuja história se propôs a contar em sua crónica: vivera no meio dessas
pessoas antes de entrar para a vida monástica, e tinha propósito não só
político mas moralizante ao escrever sobre elas. Por sorte nossa, espargiu ao
longo das páginas da crónica algumas ralas mas importantes informações autobiográficas.
Pelo seu sobrenome já se podia inferir que era natural da cidade de Lille, e
ele mesmo confirma que nasceu e se criou na Picardia, região ao norte da França
de que Lille era uma das principais cidades. Durante algum tempo serviu como
escudeiro na casa do conde de Níniva, e o uso ocasional dos pronomes eu ou
nós na narrativa indica a sua presença em cena. Tornou-se monge em 1354,
e narra-nos ele próprio as dramáticas circunstâncias de sua ordenação. Um de
seus irmãos, Guillaume de Prunes, cavaleiro de Níniva, fez os votos na mesma
ocasião que ele, mas deixou o convento um ano depois e foi morto em 1359,
defendendo contra os ingleses o castelo de Cernay.
Em dois pontos da crónica
Lelillois refere-se a si mesmo como autor da ‘Vida de Roger Amigo de Deus’.
Esse Roger, monge do convento de Dannemarie, falecido em 1356, destaca-se
dentre os principais personagens da crónica, pois era filho primogénito de
Roger de Giac, senhor de Malemort. Não se descobriu até agora nenhuma cópia
dessa obra em qualquer língua.
Quanto à data de
composição da crónica, podemos situá-la com certa precisão com base no próprio
texto. Ao relatar, no livro 2, capítulo 32, um episódio ocorrido em 1347, ‘Lelillois’
informa de passagem que está escrevendo vinte e cinco anos após o facto, o que
nos permite datar a obra como em progresso em 1372.
Quaisquer outras informações
provavelmente existentes sobre o nosso autor se terão perdido no incêndio do
convento ocorrido em 1488.
O códice
A versão inglesa da crónica
de ‘Thomas Lelillois’ foi feita no final do século XV, pouco antes de se
promover na Inglaterra a mudança dinástica da Casa de York para a de Tudor.
Pouco sabemos a este respeito, sabemos porém o nome do tradutor, Bennet Hatch,
e a data exacta em que concluiu sua tradução, 1 de Junho de 1483, porque os
apôs na página final de seu trabalho e o copista quinhentista os reproduziu:
- “Foi traduzido [‘o livro que Thomas Lelillois fez’] do francês para nossa maternal língua inglesa por mim, Bennet Hatch, pessoa simples, que o acabou e terminou no primeiro dia de Junho, ano de Nosso Senhor 1483, primeiro ano do reinado do rei Ricardo III, na cidade de Londres.”
Nada mais se sabe até o momento sobre o tradutor dessa crónica. A cópia
manuscrita em meu poder, em que se preservou o texto de Hatch, foi feita em
1516. Suas especificações são as seguintes:
- papel acetinado de alta qualidade;
- 320 mm x 220 mm;
- 166 folhas, escritas recto e verso em aproximadamente 32 linhas;
- uma só mão (excepto quatro linhas em latim ao final do manuscrito), caligrafia Bastarda Secretária, minúscula, bastante regular;
- tinta preta, bem preservada;
- sem iluminuras;
- ambas as capas se perderam.
Há muitas anotações marginais, algumas da
época do manuscrito, outras, a maioria, de séculos posteriores.
Os primeiros livros
contêm poucos erros de cópia, que se multiplicam a partir do livro 5, alguns
deles corrigidos à margem pelo próprio copista. A numeração actual, à margem superior
direita de cada página recto, está sobreposta a outra mais antiga: a
folha 1 actual corresponde à folha 36 do manuscrito supostamente completo». In Alan Dorsey Stevenson, O Manuscrito
Alfield, A Folha de Hera, Jazzseen, Julho de 2012, Vitória Secretaria de Estado
da Cultura do Espírito Santo, Biblioteca Pública do Espírito Santo, 2011.
Cortesia de
Jazzseen/JDACT