quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O Perdurar das Colecções. Preparação para a Exposição. Laura P. Romão. «As patologias mais recorrentes eram a acumulação de poeiras e sujidades aderentes em praticamente todo o espólio, a desidratação de elementos de madeira…»


Cortesia de pfrobison e jdact

«Momentos como este que o Museu Municipal viveu recentemente, em que um espaço museológico se encontra encerrado ao público para obras de requalificação, são excelentes para trabalhar o seu espólio, uma vez que todas as peças são retiradas do seu local de exposição sendo possível fazer uma profunda avaliação do seu estado de conservação e intervir ao nível da conservação e restauro sempre que se revele necessário. Do vasto núcleo que constitui o Museu, poucas peças foram intervencionadas anteriormente, registando-se apenas dois tratamentos no Instituto José de Figueiredo, relevo de São Bernardo, em madeira policromada e dourada do século XVIII, para integrar a XVII Exposição Europeia de Arte, Ciência e Cultura (Lisboa, 1983) e o relevo de Pietá, flamengo, em madeira policromada e dourada do século XVI, quando foi solicitado para ser exposto na Europália (Bélgica, 1991); em 2004 foi assinado um protocolo entre a Câmara Municipal e o Instituto Politécnico de Tomar, que possibilitou a intervenção de quatro pinturas, quatro esculturas e um conjunto de doze pequenos relevos em terracota policromada.
A Fundação Robinson, através da Rede de Património, acompanhou o processo de desmontagem, trabalhos de conservação e restauro realizados durante o período de obra e a remontagem do espaço. Assim que as peças foram retiradas do edifício iniciou-se o processo de desinfestação de praticamente todas as peças em madeira, uma vez que a presença de insecto xilófago, em muitos dos casos activo, era evidente. Dada a enorme quantidade de peças recorreu-se à desinfestação por tecnologia de atmosfera controlada (CAT). Depois de anos em exposição, sem qualquer tipo de intervenção, depois de terem estado em reserva durante os quatro anos de obra (2009-2012), era notório que muitas das peças necessitavam de intervenção. Assim, das 686 peças actualmente expostas, 322 foram alvo de tratamento durante este período. Se nalguns caso essa acção foi apenas uma limpeza superficial, a aplicação de uma cera, a colagem de uma fractura, outros casos houve em que foi necessário realizar um tratamento completo de conservação e restauro.
As patologias mais recorrentes eram a acumulação de poeiras e sujidades aderentes em praticamente todo o espólio, perdas de cor e rasgões nos estofos das cadeiras e canapés, a desidratação de elementos de madeira, o escurecimento de vernizes e lacunas nas molduras das pinturas, destacamentos de policromias, pequenas fracturas, abertura de fendas e desunião de elementos de junta nas esculturas. Nenhum tratamento de conservação e restauro tem como objectivo restituir a aparência inicial de uma peça, o que é impossível e contraria a ética profissional, no entanto a consciência da perspectiva de futuro e a necessidade de contemplação obrigam-nos a Conservar e Restaurar as obras de arte para que se proceda à sua plena fruição. Assim o objectivo de uma intervenção de conservação e restauro, conscienciosa e respeitadora da obra deve ser uma intervenção essencialmente conservativa, regida por critérios de intervenção mínima e reversibilidade dos materiais e técnicas a utilizar de forma a retardar o processo de envelhecimento, restituindo à obra de arte a sua estabilidade química/física e a harmonia estética estritamente necessária para uma correcta interpretação e leitura da composição artística.
Dada a imensa quantidade de peças, o tempo reduzido e a equipa limitada optou-se por realizar as operações urgentes, estabilizando as peças que se encontravam em risco, travando o processo de degradação que algumas peças apresentavam, restabelecendo o seu equilíbrio de forma a poderem ser expostas. Deseja-se que este seja um trabalho de continuidade, esperando-se concluir alguns tratamentos iniciados e realizar outros que embora não tão urgentes são essenciais». In Laura Portugal Romão, O Perdurar das Colecções. Preparação para a Exposição, Publicações da Fundação Robinson, nº 27, 2013, ISSN 1646-7116.

Cortesia FRobinson/JDACT