terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Jorge de Sena: Independência


Recuso-me a aceitar o que me derem.
Recuso-me às verdades acabadas;
recuso-me, também, às que tiverem
pousadas no sem-fim as sete espadas.
Recuso-me às espadas que não ferem
e às que ferem por não serem dadas.
Recuso-me aos eus-próprios que vierem
e às almas que já foram conquistadas.

Recuso-me a estar lúcido ou comprado
e a estar sozinho ou estar acompanhado.
Recuso-me a morrer. Recuso a vida.

Recuso-me à inocência e ao pecado
como a ser livre ou ser predestinado.
Recuso tudo, ó Terra dividida!

Jorge de Sena, (1919-1978) in "Coroa da Terra"

Escritor português, natural de Lisboa.

Desenvolveu uma actividade académica intensa na área da literatura e cultura portuguesa.

Jorge de Sena foi poeta, dramaturgo, ficcionista e historiador de cultura. Não se filiou em nehuma escola literária e foi influenciado por várias correntes, nomeadamente pelo surrealismo em aspectos técnicos e numa tentativa de superar as tendências da época que passou por várias formas de experimentalismo. A sua obra considera-se, simultaneamente clássica e revolucionária: a poesia era uma forma de testemunhar e transformar o mundo. A poesia era assim, uma forma de intervenção.
JDACT

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