quarta-feira, 30 de junho de 2021

A Tábua de Flandres Arturo Pérez-Reverte. «Só nesse momento compreendeu que A partida de xadrez ia ser algo mais do que simples rotina profissional»

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Os segredos de Mestre Van Huys

Deus move o jogador e este move a peça. Que Deus por trás de Deus o jogo começa? In J. L. Borges

«Um envelope fechado é um enigma que contém outros enigmas no seu interior. Aquele era grande, grosso, de papel manila, com o timbre do laboratório impresso no ângulo inferior esquerdo. E antes de o abrir, enquanto o segurava na mão procurando ao mesmo tempo uma espátula entre os pincéis e frascos de tinta e de verniz, Júlia estava muito longe de imaginar até que ponto esse gesto ia transformar a sua vida. Na realidade, já conhecia o conteúdo do envelope. Ou, como mais tarde veio a descobrir, julgava que conhecia. Talvez por isso não sentiu nada de especial até retirar as cópias fotográficas e estendê-las em cima da mesa, fitando-as vagamente aturdida e retendo a respiração. Só nesse momento compreendeu que A partida de xadrez ia ser algo mais do que simples rotina profissional. Na sua profissão, eram frequentes as descobertas insuspeitadas em quadros, móveis ou encadernações de livros antigos. Seis anos restaurando obras de arte proporcionavam uma vasta experiência de traços e correcções originais, retoques e pinturas sobrepostas, até falsificações. Mas nunca, até àquele dia, uma inscrição oculta sob a pintura de um quadro: três palavras reveladas pela fotografia com raios X.

A garrou no amachucado maço de cigarros sem filtro e acendeu um, incapaz de afastar os olhos das cópias fotográficas. Não havia qualquer dúvida, estava tudo ali, nos positivos das chapas radiológicas de 30 x 40. O desenho original da pintura, uma tábua flamenga do século XV, revelava-se nitidamente no seu pormenorizado desenho com verdaccio, tal como os veios da madeira e as junções coladas das três pranchas de carvalho que formavam a tábua que servia de suporte aos sucessivos riscos, pinceladas e esbatidos que o artista fora aplicando até criar a sua obra. E, na parte inferior, aquela frase oculta que a radiografia trazia para a luz cinco séculos mais tarde, com os caracteres góticos destacando-se nitidamente no branco e negro do fundo: QUIS NEGAVIT EQUITEM.

Júlia sabia latim suficiente para poder traduzir sem dicionário: quis, pronome interrogativo, quem. Necavit, derivava de neco, matar. Eequitem era o acusativo singular de eques, cavaleiro. Quem matou o cavaleiro. Com interrogação, tornada evidente pelo uso do quis, que dava um certo ar de mistério à frase: QUEM MATOU O CAVALEIRO.

Era, no mínimo, desconcertante. Aspirou longamente o cigarro, segurando-o entre os dedos da mão direita, enquanto com a esquerda reordenava as radiografias em cima da mesa. Alguém, talvez mesmo o próprio pintor, inscrevera no quadro uma espécie de enigma, cobrindo-o depois com uma camada de pintura. Ou talvez tivesse sido feito por outra pessoa, mais tarde. Havia aproximadamente uma margem de quinhentos anos para estabelecer a data e esta ideia fez com que Júlia sorrisse interiormente. Podia resolver a incógnita sem grande dificuldade. Aliás, era esse o seu trabalho. Pegou nas cópias fotográficas e levantou-se. A luz acinzentada que entrava pela grande clarabóia do tecto amansardado iluminava directamente o quadro colocado no cavalete. A Partida de  Xadrez, óleo sobre madeira pintado em 1471 por Pieter Van Huys... Estacou à sua frente, observando-o durante longo tempo. Era uma cena doméstica pintada com minucioso realismo quatrocentista: um interior daqueles com que os grandes mestres flamengos, aplicando a inovação do óleo, tinham criado as bases da pintura moderna. O motivo principal era constituído por dois cavaleiros de meia idade e nobre aspecto, um de cada lado de um tabuleiro de xadrez sobre o qual se desenrolava um jogo. Em segundo plano, à direita e junto a uma janela ogival que emoldurava uma paisagem, uma dama vestida de negro lia um livro poisado sobre o regaço. A cena era completada pelos cuidados pormenores próprios da escola flamenga, representados com uma perfeição que raiava o obsessivo: os móveis eenfeites, o lajeado branco e negro do chão, o desenho do tapete e até uma pequena fenda na parede ou a sombra de um minúsculo prego numa das vigas do tecto. O tabuleiro e as peças de xadrez tinham sido executados com idêntica precisão, tal como as feições, mãos e roupagens dos personagens, cujo realismo contribuía para a extraordinária qualidade do acabamento, juntamente com a vivacidade das cores, ainda notável apesar do escurecimento provocado pela oxidação do verniz original com o passar do tempo.

Quem matou o cavaleiro. Júlia olhou a radiografia que tinha na mão e depois o quadro, sem conseguir detectar neste, à vista desarmada, o menor vestígio da inscrição oculta. Um exame mais pormenorizado, com lupa binocular com o poder de ampliar 7 vezes, também não revelou nada de novo. Correu então a grande persiana da clarabóia, escurecendo o quarto para aproximar do cavalete um tripé com uma lâmpada Wood de luz negra. Quando incidiam sobre um quadro, os raios ultravioletas tornavam fluorescentes os materiais mais antigos, tintas e vernizes, deixando a escuro ou a negro os modernos, revelando assim as pinturas e retoques aplicados depois da criação. Mas a luz negra revelou apenas uma superfície fluorescente homogénea que incluía a parte da inscrição oculta. Isto significava que fora tapada pelo próprio artista ou numa data imediatamente posterior à realização da pintura». In Arturo Pérez-Reverte, A Tábua de Flandres, 1990, Edições ASA, 2009, ISBN 978-989-230-61-1.

Cortesia de EASA/JDACT

JDACT, Arturo Pérez-Reverte, Literatura, Xadrês,

O Advogado do Diabo. Morris West. «O dedo insensível do cirurgião deteve-se um instante no centro da mancha cinzenta e, em seguida, moveu-se para fora, traçando a difusão do tumor…»

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«Sua profissão era preparar os outros para a morte; chocava-o, no entanto, o facto de estar tão pouco preparado para a sua própria. Era um homem sensato, e a razão dizia-lhe que a sentença de morte de um homem já está escrita na palma da sua mão no dia do seu nascimento; era um homem frio, que a paixão pouco inquietava e que, de modo algum, se molestava com a disciplina. Não obstante, seu primeiro impulso fora o de agarrar-se cegamente à ilusão da imortalidade. Fazia parte da decência da morte surgir sem se fazer anunciar, o rosto coberto e as mãos ocultas, num momento em que era menos esperada. Vinha lenta e suavemente, como seu irmão, o sono, ou, então, rápida e violentamente, como a consumação do acto do amor, de modo que o momento da rendição fosse uma quietude e uma saciedade, em vez da dilacerante separação do espírito e da carne. A decência da morte. Era a coisa que os homens esperavam, vagamente, a coisa pela qual rezavam, se estavam dispostos a rezar, ou que lamentavam amargamente, ao saber que isso lhes era negado. Blaise Meredith lamentava-o agora, sentado sob o ténue sol de Primavera, a observar os cisnes lentos, processionais, sobre o Serpentine, os casais em idílio sobre a relva, os poodles, ajoujados em suas trelas, a caminhar entediados pelas alamedas, junto às saias esvoaçantes de suas donas. Em meio a toda aquela vida, a relva a germinar, as árvores estuantes de seiva nova, os açafrões e os narcisos a inclinar-se nos ramos, o lânguido namoro dos jovens, o vigor dos passeantes mais velhos, somente ele, parecia, tinha sido assinalado para morrer. Não havia dúvida quanto a urgência ou à finalidade do mandato. Fora escrito, para que todos o lessem, não há palma de sua mão, mas no rectângulo de uma chapa fotográfica, onde uma pequena mancha cinzenta enunciava a sentença a que ele estava condenado. Carcinoma. O dedo insensível do cirurgião deteve-se um instante no centro da mancha cinzenta e, em seguida, moveu-se para fora, traçando a difusão do tumor: de desenvolvimento lento, mas bem nítido. Vi demasiados deles, para que me engane com este. Enquanto observava a pequena tela translúcida e o dedo espatulado que se movia sobre ela, Blaise Meredith foi assaltado pela ironia da situação. Passara toda a sua vida a fazer com que os outros se defrontassem com a verdade acerca de si próprios, as culpas que os atormentavam, as concupiscências que os degradavam, as loucuras que os diminuíam. Agora, olhava suas próprias entranhas, onde um pequeno tumor maligno se desenvolvia como uma raiz de mandrágora, estendendo-se na direcção do dia em que o destruiria. Perguntou, bastante calmo: é operável? O cirurgião apagou a luz atrás do quadro de exames e a pequena morte cinzenta se extinguiu, opaca; depois sentou-se, ajustando a lâmpada de mesa, de modo a que o seu próprio rosto ficasse na sombra e o de seu paciente, iluminado, como uma cabeça de mármore num museu. Blaise Meredith notou o pequeno ardil e compreendeu. Eram ambos profissionais. Cada qual, na sua própria profissão, lidava com animais humanos. Cada qual devia conservar um certo desprendimento clínico, para que não se desgastasse muito e não ficasse tão fraco e medroso como os seus pacientes. O cirurgião recostou-se na sua cadeira, apanhou um corta-papel e segurou-o no ar tão delicadamente como se fosse um bisturi. Esperou um momento, reunindo as palavras, escolhendo esta, descartando aquela, e juntando-as, depois, numa forma verbal meticulosamente exacta. Posso operar, sem dúvida. Se eu o fizer, o senhor estará morto dentro de três meses. E se não o fizer? Viverá um pouco mais e morrerá de maneira um pouco mais dolorosa. E quanto tempo mais terei de vida? Seis meses. Talvez um ano, no máximo. É uma escolha sombria. Que o senhor mesmo terá de fazer. Compreendo perfeitamente. O cirurgião sentou-se mais à vontade na sua cadeira. O pior já tinha passado. Não se enganara com respeito àquele homem. Era inteligente, ascéptico, senhor de si mesmo. Sobreviveria ao choque e procuraria conformar-se diante do inevitável. Quando chegasse a agonia, suportá-la-ia com certa dignidade. Sua Igreja atenderia às suas necessidades e o sepultaria com honra, quando morresse; e, se não houvesse ninguém para chorá-lo, isso também poderia ser contado como uma recompensa final do celibato: sair furtivamente da vida, sem lamentar seus prazeres nem temer as obrigações não cumpridas. A voz calma, seca, de Blaise Meredith interrompeu-lhe o pensamento». In Morris West, O Advogado do Diabo, 1959, Publicações Europa-América, 1993, ISBN 972-102-640-9.

 Cortesia de PEAmérica/JDACT

JDACT, Morris West, Literatura, Religião,

terça-feira, 29 de junho de 2021

Poesia. Gilka Machado. «De súbito, houve um pasmo de esplendor, uma ebriez de beleza... E nossas almas se chocaram vertiginosamente…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Viagem ao Sétimo Céu

«Viagem de nossas almas,

galgando alturas,

vencendo longes,

na noite quente

que milhões de luzes

abrasavam ainda mais

Por entre céus,

subíamos

ao Silvestre;

a cidade,

lá em baixo,

era um céu infernal

e o céu dilatava os olhos

enamoradamente

para as estrelas

que bailavam no abismo

Que silêncios

e que ermos,

e que distâncias

incomensuráveis

entre nossos destinos!

Nossas almas viajavam

e as mãos afrodisíacas do vento

afagavam as ervas do caminho

e misturavam nossos cabelos

De súbito,

houve um pasmo de esplendor,

uma ebriez de beleza...

E nossas almas se chocaram

vertiginosamente,

num beijo sem lábios...

Chegaremos um ao outro

A cidade estendia

um tapete de sóis

aos nossos pés;

e nos olhares das estrelas

havia vontades longas

de escorregar para a terra;

e em toda a espiritualidade

do infinito

vislumbrei o desejo humano

de se precipitar

sobre o céu novo da cidade

infernalmente iluminada

E em meus membros senti

uma súbita fuga,

um desagregamento

de mim mesma,

uma ânsia de adormecer

nos seus braços

esta velha fadiga de ser alma».

Poema de Gilka Machado, in Wikipedia

Cortesia de wikipedia/JDACT

Poesia, JDACT, Gilka Machado, Brasil, 

A Pintura do Azulejo em Portugal (1675-1725). Maria do Rosário S C C Carvalho. «… as primeiras produções azulejares integralmente executadas a azul e branco…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia à Doutora Maria do Rosário

Autorias e biografias, um Novo Paradigma

«A cronologia da presente dissertação remonta ao último quartel do século XVII, assim incluindo as primeiras produções azulejares integralmente executadas a azul e branco, e prolonga-se pelos primeiros vinte e cinco anos do século XVIII, que correspondem, sensivelmente, ao Ciclo dos Mestres, período assim designado em função da qualidade pictórica e de integração arquitectónica então alcançadas. Na primeira parte reúnem-se as informações conhecidas e descobertas ao longo deste estudo sobre os diversos intervenientes activos na concepção, produção e aplicação de um revestimento cerâmico, ou seja, azulejadores, oleiros e pintores. No que diz respeito aos pintores, pretendeu-se reavaliar a sua obra e as atribuições que a História da Arte portuguesa tem vindo a fazer. Para tal, os conjuntos azulejares assinados ou documentados foram objecto de um estudo pormenorizado, que constituiu a base de apreciação das obras atribuídas, propondo-se então um modelo flexível que arrume os revestimentos identificados num sentido mais amplo e aberto, e que não faça corresponder à força os painéis de azulejo aos pintores conhecidos. Até porque os artistas eram certamente muitos mais do que os nomes que hoje se conhecem, e os colectivismos e colaborações verificados, as réplicas, as variantes temáticas, as receitas permanentemente retomadas, etc., dificultam em muito uma compartimentação por autores. Por fim, discutem-se algumas questões relativas à pintura do período em estudo. A segunda parte, que resulta da análise e discussão dos dados da primeira parte e anexos, acompanha o processo de realização de um revestimento cerâmico, desde a encomenda, passando pelo projecto, continuando na feitura e preparação dos azulejos, na pintura, e na aplicação, terminando com a recepção da obra. Discute-se ainda o papel do azulejador, como se processava a pintura, quais as fontes de inspiração, nomeadamente a gravura e a sua utilização, explorando-se também a ligação do azulejo à arquitectura e a narratividade inerente aos conjuntos cerâmicos. Em suma, pretende-se obter uma visão global do que foi a produção azulejar do final do século XVII e do primeiro quartel do século XVIII, nas suas diversas vertentes». In Resumo

«A escolha destes cerca de cinquenta anos, 1675-1725, como época privilegiada da presente dissertação de doutoramento prende-se com a investigação que temos vindo a desenvolver na área da azulejaria, mas também com a possibilidade de analisar este período de uma forma global, tomando como ponto de partida um inventário ou registo alargado da produção da época, associado a dados documentais mais ou menos directos. A cronologia definida prende-se, essencialmente, com a história da azulejaria portuguesa. Não é, todavia, estanque, e as datas propostas são apenas indicativas. Na verdade, a pintura em azulejo a azul e branco manifesta-se sensivelmente a partir da década de setenta do século XVII, configurando o que a historiografia designou por período de transição, que antecede e prepara o ciclo seguinte, correspondente ao primeiro quartel do século XVIII e conhecido por Ciclo dos Mestres, devido à importância e qualidade da pintura que então era realizada na cidade de Lisboa (muito embora tivessem existido outros centros produtores de azulejos no período em estudo, caso de Serpa com o pintor Manuel Vaz, cunhado de António Oliveira Bernardes, ou de Coimbra, cuja produção está a ser estudada numa tese de doutoramento da autoria de Diana Gonçalves Santos, ou ainda do Porto, a verdade é que era em Lisboa que se situavam as principais olarias e era na capital que viviam os mais conhecidos pintores e azulejadores, razão pela qual cingimos o objecto do nosso estudo à produção que tem vindo a ser considerada como oriunda da cidade de Lisboa). A geografia deste estudo inclui apenas a produção da capital, mas a aplicação de revestimentos cerâmicos em todo o continente e ilhas (Açores e Madeira) ampliou a investigação ao actual território português, apenas deixando de fora os antigos territórios ultramarinos, para onde se exportaram, igualmente, largos conjuntos de azulejos.

Com pequenas variações, o período cronológico escolhido encontra correspondência em ciclos artísticos de outras modalidades, caso da talha de estilo nacional ou proto-barroca, da pintura de tectos de brutesco nacional, dos embutidos marmóreos, da pintura a óleo que se afasta do tenebrismo reflectindo a influência nórdica e italo-francesa, da arquitectura proto-barroca que antecede o eclectismo barroco importado de Itália, entre outros. É o tempo do barroco pedrino-joanino que congregou muitas destas diversas manifestações artísticas, criando verdadeiras obras de arte total, um bel composto, do qual resultou uma experiência nacional de grande originalidade, no contexto da qual os revestimentos azulejares a azul e branco são um dos exemplos mais significativos». In Maria do Rosário Salema C. C. Carvalho, A Pintura do Azulejo em Portugal (1675-1725), Autorias e biografias, um Novo Paradigma, Teses de Doutoramento, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Departamento de História, 2012.

Cortesia de UL/FL/DHistória/JDACT

JDACT, Maria do Rosário Salema, Azulejo, História, Caso de Estudo, Cultura e Conhecimento,

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Poesia. Gilka Machado. «Pensa que, só por teu sabor de um dia glória de uma conquista singular minha vida perdeu toda a alegria, é uma morte que vivo devagar!»

Cortesia de wikipedia e jdact

[…]

Voz feminina de alta categoria poética, Gilka Machado está entre as mulheres que, durante o

tempo em que construíram suas obras, não tiveram o justo reconhecimento de seu valor. Felizmente, o facto de ter alcançado a idade de 87 anos, permitiu-lhe conhecer em vida a consagração dos meios oficiais. De família de poetas, músicos e artistas, Gilka Machado revelou muito cedo sua atracção pela poesia. Estreia em livro, com Cristais partidos, poesia que expressa o sincretismo finissecular (fusão de parnasianismo, decadentismo e esteticismo d’annunziano), e a ousada temática do desejo erótico ou de desafio ao interdito ao sexo, mas sempre em conflito com uma funda ânsia de pureza. É em Gilka Machado que se expressa com mais evidência o conflito entre o pecado e o desejo de pureza, impulsos que a tradição estigmatizara como contraditórios e excludentes».

A vez primeira em que fitei Tereza

«A vez primeira

em que te vi comigo,

de olhos voltados para

os olhos meus,

ante o impossível

de seguir-te, amigo,

tive desejos

de dizer-te adeus

Passaram meses...

Nosso amor crescia

(e assim o houvesse

conservado Deus!)

Naquela sereníssima agonia

trocando olhares

e dizendo adeus!

Tentei fugir,

mas fui por ti vencida,

e, um dia,

presa entre os braços teus,

tive a impressão

da extrema despedida...

Primeiro beijo, derradeiro adeus!...

Veio-te a saciedade

do desejo;

teceu o fado

os labirintos seus...

Tão perto ainda

e já quão longe vejo

o teu amor

a me dizer adeus!

Passou depressa...

Como que se evade

teu lindo vulto,

entre os soluços meus...

Vieste para deixar

esta saudade

a me acenar,

num imortal adeus!...»


Meu Glorioso Pecado

«Se te injuriei, por uma rebeldia

dos meus nervos exaustos de pesar,

pensa com que perversa hipocrisia

tu me agastaste para me magoar!

 

Pensa que, só por teu sabor de um dia

glória de uma conquista singular

minha vida perdeu toda a alegria,

é uma morte que vivo devagar!

 

Sempre a revolta vem de uma agonia:

a injúria ser um beijo poderia,

teu beijo envenenou-me o paladar


Medita alma volúvel, alma fria:

Quanta vez uma ofensa acaricia!

Como um carinho sabe nos matar!»

Poema de Gilka Machado, in Wikipedia

Cortesia de wikipedia/JDACT

Poesia, JDACT, Gilka Machado, Brasil,

Gilka Machado. Poesia. «Alegria de amar, inquietação que tento em vão refrear, volúpia que em meus membros tumultua, de sair pela rua…»

Cortesia de wikipedia e jdact

[…]

Gilka Machado foi a maior figura feminina de nosso Simbolismo, em cuja ortodoxia se encaixa com seus dois livros capitais, Cristais Partidos e Estados de Alma. Nem sua ousadia tinha impureza, mas punha à mostra a riqueza dos seus sentidos, especialmente de um pouco explorado em poesia, o tacto. Sua sensibilidade é requintada, algo excêntrica, mas profundamente feminina. Se é intensiva a experiência de Gilka Machado, como poetisa e mulher reivindicadora, há outras barreiras a vencer entre a militância poética e a militância doméstica. Havia uma distância, na sua época, entre o campo da sacralidade da arte e certos aspectos da vida rotineira, que o simbolismo intensifica, o modernismo desenvolve e autoras mais contemporâneas, como Adélia Prado, consumam. Gilka Machado, a viúva do poeta Rodolfo Machado, a mulher dona de pensão que cozinhava para tantos poetas de sua época, como Tasso Silveira e Andrade Muricy, por exemplo, enquanto fazia poesia, esta ainda habita os porões do cenário poético. Já fizera emergir dos porões, no entanto, um dos monstros proibidos: o modo de representação da ansiedade erótica que delineia um projecto novo ou um novo jeito de querer ser mais mulher; e que justifica, penso eu, o considerar a poesia de Gilka Machado como precursora na luta pelos direitos de acesso à representação do prazer erótico na poesia feminina brasileira.

[…]

Alegria de Amar

«Alegria de amar

 anseio de apertar

nos meus braços o mar,

de desfolhar

as rosas com meus beijos!...

Alegria de amar

desejo de, num grito,

ascender,

ascender,

para o azul do infinito

e espreguiçar-me

pelas curvas de éter!...

Alegria de amar

vontade de escrever

nos longes do ar,

para que de onde estás

pudesses lê-las,

estas estrofes,

mas com o fogo das estrelas!

Alegria de amar,

inquietação

que tento em vão

refrear,

volúpia

que em meus membros

tumultua,

de sair pela rua

em desatino,

como se houvesse marcado

um encontro com o Destino!...

Alegria de amar

necessidade de desabafar

recalcada tristeza,

de te sonhar disperso

na beleza,

de te afagar

em toda a natureza,

como se, por milagre,

me chegasses!

Alegria de amar

que me transborda

em lágrimas nas faces

Alegria de amar

na manhã transparente,

na tarde azul,

na noite cheia de fulgor;

alegria de amar

indefinidamente,

à criação,

às criaturas,

ao Criador!...

Alegria de amar

que me alvoroça a mente

e o sangue me acelera,

que me faz caminhar

alucinadamente,

com todo o corpo

de saudade doente,

na esperança infantil

de saber que

alguém me espera!...»

Poema de Gilka Machado, in Wikipedia

Cortesia de wikipedia/JDACT

Poesia, JDACT, Gilka Machado, Brasil,

domingo, 27 de junho de 2021

Fernando Campos. A Casa do Pó. «Meu padre, dizia eu a frei Bonifácio, a quem muito reverenciava, não achais que toda esta pompa e sumptuosidade nada têm a ver com o Senhor Jesus Cristo?»

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Roma... Veneza... Trento

«(…) Não fica, todavia, por aqui o bom acolhimento que a Senhoria faz aos peregrinos. Todos os anos os incorpora na triunfal e soleníssima procissão de Corpus Christi. Este ano de sessenta e dois, depois de escolhida a família franciscana, dirigimo-nos a Veneza a fim de providenciar-lhe a partida. Assistimos então àquela opulentíssima cerimónia, que caiu a quatro de Maio. Tantas e tão momentosas eram as solicitações que me faziam aos sentidos as imagens da cidade em festa que se me torna difícil captar todas as minúcias. Pareciam ganhar vida e ao mesmo tempo insistir comigo, chamar-me, puxar-me pela dobra da manga, ínsinuar-se-me nos ouvidos, no olfato e gritar-me: olha-me! Escuta-me! Aprecia a minha forma, a minha cor, o meu gosto, o meu brilho, o meu som, o meu aroma!...

Linda é Veneza, a dos palácios de fachadas rendilhadas e varandins de nobres e formosas damas, a espelhar-se ondulante nas águas verde-negras de canais por onde vogam gôndolas esbeltas; das finas pontes solícitas, em que suspiram amantes enlaçados; das arcadas debruando praças; das torres altaneiras que espreitam o Adriático e as ilhas dispersas da laguna; das líquidas ruas angustiadas entre paredes lavradas; dos sinos que ressoam e tangem pratas na atmosfera húmida; do suave marulhar das águas nas noites calmas de luar! Mas em festa atavia-se até ao pormenor requintado, até à orquestração delirante das formas. Paganiza-se, paganiza a festa litúrgica que, por excelência, não deverá de ser paganizável. Ao meu espírito de franciscano é uma demonstração de fausto e de riqueza que ofende a humildade e a pobreza cristã, não obstante a argumentação de frei Bonifácio procurando convencer-me do contrário e até da necessidade da pompa para dignificar a Igreja e os seus ministros.

Meu padre, dizia eu a frei Bonifácio, a quem muito reverenciava, não achais que toda esta pompa e sumptuosidade nada têm a ver com o Senhor Jesus Cristo? O meu pensamento está-me dizendo que toda esta luxúria, este fausto, esta opulência e ostentação exterior de riqueza desviam as almas do verdadeiro espírito de cerimónia tão santa. A Igreja, visse o seu bom Pantaleão, tinha necessidade de dar de si uma alta imagem, à altura se possível, e oxalá pudesse!, da majestade divina.

Cristo era pobre ..., e era Deus... O anel que o imperador, o rei, o príncipe, oferecia à desposada não era, não podia ser, de modo algum, igual àquele outro, de ouropel ou latão, que o mesteiral, o camponês, entregava à namorada. Cristo era o esposo dos esposos. Que espanto que a Igreja, sua desposada, fosse procurar aos mais remotos confins do mundo a jóia mais rara, o marfim mais branco, o mármore mais puro? Nenhum ouro, nenhuma prata podiam ser bastantes a celebrar a majestade das majestades.

Nosso padre São Francisco não pensava assim... Nosso padre São Francisco comporia um hino em que cantariam os louvores do Criador a safira de azul mais imaculado, o rubi de vermelho mais sanguíneo, grande e invulgar, o topázio cor de laranja, a verde esmeralda, o peridoto, o diamante, a opala, o ónix, a ágata, a cornalina, restituindo, devolvendo assim a Deus estas maravilhosas obras de Deus. A argumentação de frei Bonifácio apanhava-me como em ratoeira construída por mim próprio. Calava-me, mal convencido no plano do raciocínio, mas agradado da ideia, que tão bem me quadrava». In Fernando Campos, A Casa do Pó, Difel, 1986, Editora Objectiva, Alfaguara, 2012, ISBN 978-989-672-114-5.

Cortesia de Difel/Alfaguara/JDACT

A Arte da Escrita, Fernando Campos, JDACT, Literatura,

A Casa do Pó. Fernando Campos. «Partimos de Roma e fomos correr algumas províncias franciscanas mais cercãs buscando frades»

 

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Roma... Veneza... Trento

«(…) Mas eu, reverendíssimo padre, não estou para ir à Terra Santa!, exclamei. Não desejais ir? Por Deus, sim! Quem o não deseja? Também eu gostaria, mas o pastor não deve abandonar as suas ovelhas e este é o meu cuidado de dia e de noite. Logo que possa regresso a Braga. Vós, porém, não tendes rebanho. Podereis ir à Terra Santa. Ireis certamente, não é verdade? Quem dera! Ireis. Tornava eu a sentir que o barco da minha vida era governado por um invisível timoneiro e que me rodeavam pessoas sabedoras da minha identidade. Que espécie de sigilo calaria as suas bocas? Punha-me a seriar os géneros de sigilos que conhecia: o da confissão, o de certas profissões como a do médico e do advogado, o da razão de Estado, certos sigilos morais, casuísticos... E que quereria dizer essa antecipada certeza numa minha peregrinação à Terra Santa?... Dias depois a certeza confirmava-se e de que maneira! Uma viagem que eu tinha por impossível poder para mim alcançar me chegou em condições de a poder facilmente negociar para outros. O nosso reverendíssimo padre geral, frei Francisco Zamora, nomeara guardião de Monte Síão ao insigne padre frei Bonifácio Aragusa, pregador apostólico e leitor de sagrada Teologia, e havia necessidade de revezar a família de frades que estavam na Terra Santa, como era costume de três em três anos, a fim de que pudessem regressar às suas províncias. Frei Bonifácio, veio à Cúria procurar-me. Era um homem de grande estatura e muito venerável presença e acatamento. Olhos enormes e formosos. A barba muito comprida e quase toda branca. Conversação delicada e afável, ainda que temeroso quando mostrava gravidade. Amado de quase todos, de muitos temido. Não poucas vezes mais tarde, lembra-me bem, indo ele na rua, ao passar eu surpreendia pessoas que o ficavam a ver exclamando. Oh! Que bel’ fradaço!

Insistiu comigo para que aceitasse ser seu companheiro nas diligências que se impunha fazer por conventos franciscanos de Itália para constituir a nova família de frades. Antes, porém, dizia-me ele, iríamos tomar a bênção a Sua Santidade Pio IV, que teria certamente recomendações a fazer-nos. Não lhe iria frei Pantaleão dizer que não, verdade? Frei Bonifácio,-respondi eu, não sei a que devo uma tão imerecida atenção e tenho o vosso convite por uma bem particular mercê, como cada uma das muitas que da Divina Majestade tenho recebido. Sua Santidade acolheu-nos com mostras de entranhável amor, deu-nos a sua bênção e, quando nos despedindo dele, pôs a mão familiarmente no ombro de frei Bonifácio e recomendou: não era a primeira vez que frei Bonifácio se encarregava da guardíania de Monte Sião. Sabia como confiava no saber e experiência, na diplomacia dele para tratar não só com os turcos, que por mal de nossos pecados têm em seu poder aquele chão sagrado, mas também, o que por vezes era ainda mais difícil, com as outras comunidades cristãs que têm assento junto do túmulo de Cristo. Recordava-lhe que não ordenasse cavaleiros do Santo Sepulcro senão a pessoas muito nobres e ilustres.

Depois de o investir de toda a autoridade para o tocante ao cristianismo de Terra Santa, acrescentou-nos grandes ofertas da sua parte e mandou que nos fosse entregue um rico ornamento para as cerimónias solenes da Semana Santa em Jerusalém. A mim fez-me confessor apostólico. Entrava Março de quinhentos e sessenta e dois e a natureza benigna começava a anunciar a Primavera. Não havia tempo a perder. Partimos de Roma e fomos correr algumas províncias franciscanas mais cercãs buscando frades. Não se tornava fácil a escolha, dado o particular teor da missão a que se destinavam. Cumpria que fossem os mais devotos, virtuosos e quietos que se podiam achar. Portanto, sobre o seu feitio e comportamento se fazia secreto exame com que muito se sobrecarregavam as consciências dos prelados locais e padres velhos dos conventos. Fomos assim juntando até cerca de sessenta frades. Dávamos-lhes as obediências para que com elas nos fossem esperar a Veneza, onde se estava preparando a nau dos peregrinos que haviam de ir à Terra Santa. É este um velho costume da Senhoria de Veneza, o de todos os anos mandar aparelhar uma nau das melhores que tem, para, juntamente com ir negociar seus tratos a terras do Oriente, levar também os peregrinos que vão a Jerusalém. Ordinariamente está a nau prestes por alturas da Ascensão, mas as mais das vezes não parte antes do São João. Nesta nau dos peregrinos havia de seguir também, este ano, a família dos franciscanos que frei Bonifácio e eu tínhamos reunido». In Fernando Campos, A Casa do Pó, Difel, 1986, Editora Objectiva, Alfaguara, 2012, ISBN 978-989-672-114-5.

Cortesia de Difel/Alfaguara/JDACT

A Arte da Escrita, Fernando Campos, JDACT, Literatura,

 

sábado, 26 de junho de 2021

Domingos Amaral. Por Amor a uma Mulher. «No presente, as abadias de Cluny, Cister e Claraval limitavam-se a defender Paio Mendes, arcebispo de Braga, contra as ambições hegemónicas do prelado de Compostela…»

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1126

Viseu, Sexta-Feira Santa, Abril de 1126

«(…) Num dos cantos da igreja, logo à direita da porta e bem longe do altar do prior Teotónio, um homem velho e de longas barbas brancas estava ajoelhado em silenciosa reza, de olhos cerrados e apoiado com a mão direita na sua imponente espada. No entanto, o que mais o distinguia não era a singular postura, mas sim o manto branco que o envolvia totalmente, fazendo-o parecer um boneco de neve. Ninguém tivera a ousadia de interromper o seu retiro e a cerimónia de representação da morte de Cristo tinha decorrido sem que o importunassem, e também sem que ele mudasse de posição. Só se mexeu quando dona Teresa se aproximou, acompanhada de Fernão Peres Trava, de Paio Soares e de seu filho Ramiro. Levantou-se, sempre apoiado na espada, e enfrentou-os sério e mudo. Eis o cavaleiro de que vos falei, estimado Paio Soares, anunciou dona Teresa. Chama-se Gondomar e veio de Jerusalém.

Paio Soares esboçou um subtil sorriso ao ouvir aquele estimado. A rainha estava a esforçar-se para recuperar o seu afecto. Observou o visado com curiosidade. O regresso da Terra Santa e o manto branco que o cobria conferiam-lhe uma aura calma e pura. É uma honra, declarou Paio Soares. Os que vão à cidade do Santo Sepulcro são mais santos do que os que ficam. O velho Gondomar retorquiu-lhe: um dia podereis ir também, quem sabe numa gloriosa cruzada. Paio Soares ergueu a sobrancelha, interessado. Prepara-se nova cruzada e pretendem a minha ajuda? A rainha portucalense atrapalhou-se, ligeiramente nervosa. A seu lado, Fernão Peres esclareceu o equívoco: não. A Ordem de Gondomar vai instalar-se no Condado para lutar contra os infiéis. Dona Teresa admirou-o, orgulhosa. O amante expressava-se melhor do que ela. Contudo, era imperativo que falasse, queria cativar Paio Soares, dando um primeiro passo para recuperar o apoio dos relutantes portucalenses.

Vou doar Soure à Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo, informou. Paio Soares revelou o seu espanto: para que quereis Soure? Só há lá feras, lobos e ursos! A sua pergunta foi dirigida a Gondomar, que suspirou, como se carregasse às costas o peso de décadas de lutas com os mouros. É a primeira linha do combate. Há que afastar os sarracenos dessas terras, tão ricas e espirituais. Como defende o abade de Claraval, não se combatem os infiéis apenas em Jerusalém! Paio Soares conhecia a influência de Bernardo Claraval na cristandade e sabia igualmente que os franceses haviam sempre apoiado o conde Henrique contra Afonso VI. Porém, humilhado e depois falecido o seu paladino, o partido francês quase desaparecera. No presente, as abadias de Cluny, Cister e Claraval limitavam-se a defender Paio Mendes, arcebispo de Braga, contra as ambições hegemónicas do prelado de Compostela, mas tinham-se alheado das bulhas sangrentas entre os reinos hispânicos. Estariam agora a regressar? Virando-se para a rainha, Paio Soares questionou-a: dona Teresa, quereis que vá batalhar para Soure? A mãe de Afonso Henriques soltou uma curta gargalhada. Cruzes, nem pensar! Queremos o vosso bem! É tempo de vos casardes de novo e de fazer um filho varão! A seu lado, o sagaz Fernão Peres murmurou: vi-vos há pouco a falar com a minha sobrinha Chamoa. Excitado, Paio Soares confirmou o seu encantamento: é muito graciosa e gentil!

O pobre Ramiro, que um dia me reportou esta conversa, estremeceu, aterrado. O pai estava claramente entusiasmado com Chamoa, e ele, que em Ponte de Lima se enamorara, aterrorizou-se com a possibilidade de o progenitor tomar a sua amada e começou a sentir náuseas. Durante muito tempo, ficava assim na presença do pai, o coitado do Ramiro. À sua frente, dona Teresa animou-se: é meu desejo arranjar-vos bom casamento e um cargo honroso! Com fabricada humildade, adiantou: faz-me falta um mordomo-mor. Paio Soares piscou os olhos, confundido. O posto de mordomo-mor era o mais importante na corte e estava vago. Aquele convite significava que o casal régio queria o principal nobre portucalense numa posição de destaque! E a contrapartida era um enlace religioso com aquela belíssima galega... Que vos parece?, inquiriu Fernão Peres Trava». In Domingos Amaral, Assim Nasceu Portugal, Por Amor a uma Mulher, Casa das Letras, LeYa, 2015, ISBN 978-989-741-262-2.

Cortesia de CdasLetras/LeYa/JDACT

JDACT, Domingos Amaral, A Arte, Literatura,