sábado, 26 de junho de 2021

Poesia. Gilka Machado. «E, mesmo assim, como te amamos, Vida, quando sentimos que nos vai deixar!»

Cortesia de wikipedia e jdact

«Sonhei em ser útil à humanidade. Não consegui, mas fiz versos. Estou convicta de que a poesia é tão indispensável à existência como a água, o ar, a luz, a crença, o pão e o amor. Essas palavras ecoaram pelo Rio de Janeiro, na segunda metade do século XX. Foram proferidas pela poetisa Gilka Machado, no crepúsculo de sua vida, toda dedicada à poesia.

Gilka da Costa de Mello Machado nasceu no Rio de Janeiro no dia 12 de Março de 1893. Casou-se com o poeta Rodolfo Melo Machado em 1910. Teve dois filhos: Helio e Eros. O marido, Rodolfo, faleceu em 1923.Viúva aos 30 anos, lutou, arduamente, para sobreviver e educar os filhos, sem atender às soluções que repugnavam o seu pudor. Em 1965, ano do cinquentenário da sua estreia, inseriu na antologia Velha Poesia, grande número de inéditos que falavam dos seus desenganos e na proximidade da morte. Seu interesse pela poesia começou na infância, mas sempre precisou conciliar a vida difícil com a actividade literária. Já casada e com filhos, trabalhou como diarista na Estrada de Ferro Central do Brasil, recebendo um magro salário. Estreou nas letras vencendo um concurso literário do jornal A Imprensa, dirigido por José Patrocínio Filho. Na ocasião, houve manifestação negativa, qualificando o seu trabalho como próprio de uma matrona imoral. Os críticos mais novos, porém, reconheceram a importância da sua proposta, que pretendia a libertação dos sentidos e dos instintos. A obra de Gilka Machado pertence à escola poética do Simbolismo, e dela adopta as imagens mais recorrentes. Contudo, Gilka caminhou para a ruptura com seus contemporâneos, não só pela ênfase na temática do erotismo, mas também pela referência a aspectos sociais que oprimem a mulher. Utilizou-se, quase sempre, de um conjunto de elementos simbólicos com os quais introduz a sua mensagem: a flor, os gatos, a noite, o vento. Seu objectivo é discutir o desejo feminino; executa o seu propósito empregando recursos de linguagem que invocam sensações.

[…]

Olhos

«Ante pálpebras, que são níveos tabernáculos

sitos no rosto seu, vai ó Musa, depor

mil oblações, com fé, sem prever os obstáculos,

a esses olhos, que são dois altares imáculos,

onde a Esperança acende um círio ao nosso Amor».

Canção do Fim

«Vejo com mágoa

de despedida

tudo quanto atraia

meu olhar

Porque te amamos

muito mais,

ó Vida,

quando sentimos

que nos vai deixar?

Sempre versátil,

sempre fingida,

custa um sorriso teu

quanto pesar!

E, mesmo assim,

como te amamos,

Vida,

quando sentimos

que nos vai deixar!

Se de alegrias

tu me foste avara,

quero-te confessar

humilhada, baixinho:

levo saudade,

não de teu carinho, mas de teu mau trato

a que me acostumara»

Poema de Gilka Machado, in Wikipedia

Cortesia de wikipedia/JDACT

Poesia, JDACT, Gilka Machado, Brasil,