terça-feira, 29 de junho de 2021

A Pintura do Azulejo em Portugal (1675-1725). Maria do Rosário S C C Carvalho. «… as primeiras produções azulejares integralmente executadas a azul e branco…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia à Doutora Maria do Rosário

Autorias e biografias, um Novo Paradigma

«A cronologia da presente dissertação remonta ao último quartel do século XVII, assim incluindo as primeiras produções azulejares integralmente executadas a azul e branco, e prolonga-se pelos primeiros vinte e cinco anos do século XVIII, que correspondem, sensivelmente, ao Ciclo dos Mestres, período assim designado em função da qualidade pictórica e de integração arquitectónica então alcançadas. Na primeira parte reúnem-se as informações conhecidas e descobertas ao longo deste estudo sobre os diversos intervenientes activos na concepção, produção e aplicação de um revestimento cerâmico, ou seja, azulejadores, oleiros e pintores. No que diz respeito aos pintores, pretendeu-se reavaliar a sua obra e as atribuições que a História da Arte portuguesa tem vindo a fazer. Para tal, os conjuntos azulejares assinados ou documentados foram objecto de um estudo pormenorizado, que constituiu a base de apreciação das obras atribuídas, propondo-se então um modelo flexível que arrume os revestimentos identificados num sentido mais amplo e aberto, e que não faça corresponder à força os painéis de azulejo aos pintores conhecidos. Até porque os artistas eram certamente muitos mais do que os nomes que hoje se conhecem, e os colectivismos e colaborações verificados, as réplicas, as variantes temáticas, as receitas permanentemente retomadas, etc., dificultam em muito uma compartimentação por autores. Por fim, discutem-se algumas questões relativas à pintura do período em estudo. A segunda parte, que resulta da análise e discussão dos dados da primeira parte e anexos, acompanha o processo de realização de um revestimento cerâmico, desde a encomenda, passando pelo projecto, continuando na feitura e preparação dos azulejos, na pintura, e na aplicação, terminando com a recepção da obra. Discute-se ainda o papel do azulejador, como se processava a pintura, quais as fontes de inspiração, nomeadamente a gravura e a sua utilização, explorando-se também a ligação do azulejo à arquitectura e a narratividade inerente aos conjuntos cerâmicos. Em suma, pretende-se obter uma visão global do que foi a produção azulejar do final do século XVII e do primeiro quartel do século XVIII, nas suas diversas vertentes». In Resumo

«A escolha destes cerca de cinquenta anos, 1675-1725, como época privilegiada da presente dissertação de doutoramento prende-se com a investigação que temos vindo a desenvolver na área da azulejaria, mas também com a possibilidade de analisar este período de uma forma global, tomando como ponto de partida um inventário ou registo alargado da produção da época, associado a dados documentais mais ou menos directos. A cronologia definida prende-se, essencialmente, com a história da azulejaria portuguesa. Não é, todavia, estanque, e as datas propostas são apenas indicativas. Na verdade, a pintura em azulejo a azul e branco manifesta-se sensivelmente a partir da década de setenta do século XVII, configurando o que a historiografia designou por período de transição, que antecede e prepara o ciclo seguinte, correspondente ao primeiro quartel do século XVIII e conhecido por Ciclo dos Mestres, devido à importância e qualidade da pintura que então era realizada na cidade de Lisboa (muito embora tivessem existido outros centros produtores de azulejos no período em estudo, caso de Serpa com o pintor Manuel Vaz, cunhado de António Oliveira Bernardes, ou de Coimbra, cuja produção está a ser estudada numa tese de doutoramento da autoria de Diana Gonçalves Santos, ou ainda do Porto, a verdade é que era em Lisboa que se situavam as principais olarias e era na capital que viviam os mais conhecidos pintores e azulejadores, razão pela qual cingimos o objecto do nosso estudo à produção que tem vindo a ser considerada como oriunda da cidade de Lisboa). A geografia deste estudo inclui apenas a produção da capital, mas a aplicação de revestimentos cerâmicos em todo o continente e ilhas (Açores e Madeira) ampliou a investigação ao actual território português, apenas deixando de fora os antigos territórios ultramarinos, para onde se exportaram, igualmente, largos conjuntos de azulejos.

Com pequenas variações, o período cronológico escolhido encontra correspondência em ciclos artísticos de outras modalidades, caso da talha de estilo nacional ou proto-barroca, da pintura de tectos de brutesco nacional, dos embutidos marmóreos, da pintura a óleo que se afasta do tenebrismo reflectindo a influência nórdica e italo-francesa, da arquitectura proto-barroca que antecede o eclectismo barroco importado de Itália, entre outros. É o tempo do barroco pedrino-joanino que congregou muitas destas diversas manifestações artísticas, criando verdadeiras obras de arte total, um bel composto, do qual resultou uma experiência nacional de grande originalidade, no contexto da qual os revestimentos azulejares a azul e branco são um dos exemplos mais significativos». In Maria do Rosário Salema C. C. Carvalho, A Pintura do Azulejo em Portugal (1675-1725), Autorias e biografias, um Novo Paradigma, Teses de Doutoramento, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Departamento de História, 2012.

Cortesia de UL/FL/DHistória/JDACT

JDACT, Maria do Rosário Salema, Azulejo, História, Caso de Estudo, Cultura e Conhecimento,