segunda-feira, 28 de junho de 2021

Poesia. Gilka Machado. «Pensa que, só por teu sabor de um dia glória de uma conquista singular minha vida perdeu toda a alegria, é uma morte que vivo devagar!»

Cortesia de wikipedia e jdact

[…]

Voz feminina de alta categoria poética, Gilka Machado está entre as mulheres que, durante o

tempo em que construíram suas obras, não tiveram o justo reconhecimento de seu valor. Felizmente, o facto de ter alcançado a idade de 87 anos, permitiu-lhe conhecer em vida a consagração dos meios oficiais. De família de poetas, músicos e artistas, Gilka Machado revelou muito cedo sua atracção pela poesia. Estreia em livro, com Cristais partidos, poesia que expressa o sincretismo finissecular (fusão de parnasianismo, decadentismo e esteticismo d’annunziano), e a ousada temática do desejo erótico ou de desafio ao interdito ao sexo, mas sempre em conflito com uma funda ânsia de pureza. É em Gilka Machado que se expressa com mais evidência o conflito entre o pecado e o desejo de pureza, impulsos que a tradição estigmatizara como contraditórios e excludentes».

A vez primeira em que fitei Tereza

«A vez primeira

em que te vi comigo,

de olhos voltados para

os olhos meus,

ante o impossível

de seguir-te, amigo,

tive desejos

de dizer-te adeus

Passaram meses...

Nosso amor crescia

(e assim o houvesse

conservado Deus!)

Naquela sereníssima agonia

trocando olhares

e dizendo adeus!

Tentei fugir,

mas fui por ti vencida,

e, um dia,

presa entre os braços teus,

tive a impressão

da extrema despedida...

Primeiro beijo, derradeiro adeus!...

Veio-te a saciedade

do desejo;

teceu o fado

os labirintos seus...

Tão perto ainda

e já quão longe vejo

o teu amor

a me dizer adeus!

Passou depressa...

Como que se evade

teu lindo vulto,

entre os soluços meus...

Vieste para deixar

esta saudade

a me acenar,

num imortal adeus!...»


Meu Glorioso Pecado

«Se te injuriei, por uma rebeldia

dos meus nervos exaustos de pesar,

pensa com que perversa hipocrisia

tu me agastaste para me magoar!

 

Pensa que, só por teu sabor de um dia

glória de uma conquista singular

minha vida perdeu toda a alegria,

é uma morte que vivo devagar!

 

Sempre a revolta vem de uma agonia:

a injúria ser um beijo poderia,

teu beijo envenenou-me o paladar


Medita alma volúvel, alma fria:

Quanta vez uma ofensa acaricia!

Como um carinho sabe nos matar!»

Poema de Gilka Machado, in Wikipedia

Cortesia de wikipedia/JDACT

Poesia, JDACT, Gilka Machado, Brasil,