segunda-feira, 31 de maio de 2010

António Tavares Jacob: Um homem Bom! Um Portalegrense pugnador entusiasta da República. Faz 10 dias que faleceu

(1923-2010)
António Tavares Jacob

Vaga, no Azul Amplo Solta
Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.

O que choro é diferente.
Entra mais na alma da alma.
Mas como, no céu sem gente,
A nuvem flutua calma.

E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.

Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.

Não sei o que é nem consinto
À alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem.
Fernando Pessoa, in «Cancioneiro»
«Fazer qualquer coisa ao contrário do que todos fazem é quase tão mau como fazer qualquer coisa porque todos a fazem. Mostra uma igual preocupação com os outros, uma igual consulta da opinião deles - característica certa da inferioridade absoluta. Abomino por isso a gente como .... e outros que se preocupam com seres imorais ou infames, e com o impingir paradoxos e opiniões delirantes. Nenhum homem superior desce até dar à opinião alheia tal importância que se preocupe em contradizê-la.
Para o homem superior não há outros. Ele é o outro de si próprio. Se quer imitar alguém, é a si próprio que procura imitar. Se quer contradizer alguém, é a si mesmo que busca contradizer. Procura ferir-se, a si próprio, no que de mais íntimo tem... faz partidas às suas próprias opiniões, tem longas conversas cheias de desprezo e com as sensações que sente. Todo o homem que há sou Eu. Toda a sociedade está dentro de mim. Eu sou os meus melhores amigos e os meus verdadeiros inimigos. O resto - o que está lá fora - desde as planícies e os montes até às gentes - tudo isso não é senão paisagem...» In Fernando Pessoa, Reflexões Pessoais
Cortesia de O Citador (http://www.citador.pt/)

Poema do silêncio
Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
-Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!
(...)
José Régio
JDACT

domingo, 30 de maio de 2010

Nomes das tempestades tropicais 2010: Até 1978 apenas nomes de mulheres. De 1979 até aos nossos dias, nomes de homens que alternam com nomes de mulheres

Furacão Ike, 2008
Cortesia NOAA
In memoriam, para distinguir as tempestades tropicais e os furacões que podiam co-existir ao mesmo tempo numa mesma macro-região, um meteorologista australiano, no início do século XX, estabeleceu nomes para estes acontecimentos. A sua fonte de inspiração, dizem as crónicas da época, foi a crítica aos políticos que não conseguiam passar a mensagem das suas convicções. Desde 1953 que as tempestades tropicais recebem nomes por ordem alfabética e são estabelecidas listas pelo NHC. Estas listas de tempestades tropicais, quer se desenvolvem em furacões ou não, são estabelecidas por um comité da World Meteorological Organization que concebe anualmente seis listas de nomes. Até ao ano de 1978 houve a prática de nomear apenas listas com nomes de mulheres. De 1979 até aos nossos dias, foram introduzidos nomes de homens que alternam com nomes de mulheres. As seis listas são usadas em rotação. Cada lista é utilizada após seis anos, sendo retirado da lista os nomes dos furacões que originaram inundações e, consequentemente, perdas de vidas e estragos materiais. A lista de 2005 será usada novamente em 2011, sendo suprimidos, por exemplo, os nomes Dennis, Katrina, Rita, Stan e Wilma.

A altura da elevação do nível da superfície da água do mar, que consta da ESS, é devida à baixa pressão e aos ventos muito fortes inerentes aos furacões e serve de aviso para salvaguarda de vidas humanas e bens materiais nas zonas costeiras e ribeirinhas, pela probabilidade elevada de ocorrência de inundações, ampliada pela configuração dos litorais, aquando da aproximação do centro da tempestade tropical.
A designação de ciclone tropical, recebe o nome de furacão (hurricane), após ter passado por vários estágios de desenvolvimento e atingir a designação citada no Oceano Atlântico Norte, no Golfo do México e Caraíbas, no Oceano Pacífico Nordeste a leste da linha internacional de data e no Oceano Pacífico Sul a leste da longitude 160º E.
É um termo que define um centro de baixa pressão não-frontal, de escala sinóptica sobre águas tropicais ou sub-tropicais, com convecção organizada e intensa circulação ciclónica à superfície. A sua classificação está relacionada com o vento sustentável de superfície.

Furacão Noel, 2007
Cortesia NOAA
A temporada de tempestades tropicais será extremamente activa em 2010, assim dizem os técnicos da NOAA, para a região do Atlântico Norte, Caraíbas e Golfo do México. Nesta região do Atlântico, para a temporada de seis meses, que começa no dia 1 de Junho, e termina a 30 de Novembro, a NOAA projecta uma probabilidade de 70% dos seguintes limites:
  • 14-23 tempestades tropicais  (ventos até 119 km/h ), incluindo;
  • 8-14 furacões (ventos de 119 a 153 km/h), dos quais;
  • 3-7 poderão ser grandes furacões (categoria 3, 4 ou 5; ventos superiores a 178 km/h).
Segundo Jane Lubchenco da NOAA, «Se esta perspectiva é verdadeira, esta temporada pode ser uma das mais activas da história. A maior probabilidade de tempestades traz um risco acrescido para as regiões costeiras». Em suma, há necessidade de salvaguarda de vidas humanas e bens materiais.

Os nomes propostos para as tempestades tropicais no ano de 2010 são:
  • Alex;
  • Bonnie;
  • Colin;
  • Danielle;
  • Earl;
  • Fiona;
  • Gaston;
  • Hermine;
  • Igor;
  • Julia;
  • Karl;
  • Lisa;
  • Matthew;
  • Nicole;
  • Otto;
  • Paula;
  • Richard;
  • Shary;
  • Tomas;
  • Virginie;
  • Walter
JDACT

El Niño, Oscilação Sul (ENSO): Enfraquecimento do El Niño. Aumento da possibilidade do desenvolvimento da La Niña durante o segundo semestre de 2010

O fenómeno El Niño em 19 de Maio
Cortesia NOAA
Todos as previsões apontam para uma uma transição nas condições do El Niño, como estava previsto, para uma característica neutral em Junho de 2010 e assim continuará durante o Verão no Hemisfério Norte.

O fenómeno El Niño tem vindo a enfraquecer a sua actividade, com as anomalias das temperaturas da superfície do mar (doravante SST) a diminuinrem no Oceano Pacífico Equatorial. No entanto, as anomalias de SST ainda excedem +0,5ºC em grande parte do Oceano, mas o conteúdo calórico na sub-superfície tem diminuindo de forma constante. Os ventos alísios equatoriais de leste nos níveis baixos na troposfera mantiveram-se quase normais, enquanto que os ventos de oeste, anómalos nos níveis altos prevaleceram sobre o Oceano Pacífico Central durante a maior parte do mês de Abril. Assim sendo e colectivamente, estas anomalias oceânicas e atmosféricas reflectem o enfraquecimento do El Niño.
Quase na totalidade dos modelos prevêem uma diminuição das anomalias do SST na região Niño 3-4 durante o Verão de 2010 no H. N. No entanto, os modelos também afirmam que para o período de Julho - Setembro do ano em curso, haja o surgimento das condições da La Niña (fenómeno oposto). Deste modo, haverá um aumento crescente das anomalias negativas de SST na região Niño 3-4. Estes prognósticos, associados a vários indicadores oceânicos e atmosféricos, sugerem um aumento da possibilidade do desenvolvimento da La Niña durante o segundo semestre de 2010.
A próxima discussão sobre o ENSO está programada para a primeira semana de Junho, o mês em que se inicia a época dos ciclones tropicais no Atlântico Norte, Caraíbas e Golfo do México.
Richard Reynolds
Análise dos valores da temperatura da água  em 22 de Maio
Cortesia NOAA
Richard Reynolds
Anomalia dos valores da temperatura da água em 22 de Maio
Cortesia NOAA

Os valores médios da temperatura da água em Junho
Cortesia de Richard Reynolds
Se há o surgimento da La Niña no Pacífico Central e para que haja equilíbrio térmico, a temperatura da água superficial do Atlântico Norte irá registar um aumento do seu valor médio. Este facto implica, de entre outros fenómenos atmosféricos, que a actividade dos ciclones tropicais seja real e preocupante.
Na actualidade. O Golfo do México e Caraíbas.
Imagem de satélite das 17:45 UTC
Cortesia da NOAA/JDACT

Projecto Oralidades: Desenvolver actividades com o objectivo de aprofundar o diálogo intercultural e contribuir para a criação de uma cidadania europeia

Cortesia da CMÉvora
O Circuito Europeu de Música Tradicional e Popular, integrado no Projecto Oralidades, está a decorrer este fim-de-semana, com as actuações de «Os Caldeireiros» de S. João e os «Uxu Kalhus» na Praça 1º de Maio, no palco onde decorrerá por esses dias também a 10ª edição Feira do Livro de Évora.
O grupo coral «Os Caldeireiros» que actuaram ontem, é constituído por 20 elementos da Freguesia de S. João dos Caldeireiros, em Mértola, e foi fundado em 2003, baseando o seu cante em recolhas feitas do cancioneiro alentejano. “Os Caldeireiros” tem como objectivo divulgar e preservar o cante alentejano, através da recolha de modas do cancioneiro tradicional e a recolha etnográfica. Em 2007 registaram o seu trabalho em CD, sob o título «Modas do Cancioneiro Tradicional».

Cortesia de pedromestrecampanica
«... Hoje, dia 30 de Maio, pelas 21h30, o palco estará pronto para receber Uxu Kalhus, um grupo de Évora formado por Joana Margaça (voz), Paulo Pereira (sopros), André Lourenço (teclas), Tó Zé (guitarras), Eddy Slap (baixo) e Luís Salgado (bateria). Uxu Kalhus surgiram em 2000 com o objectivo inicial de divulgar as danças portuguesas em França e cedo revelaram a sua vocação de grupo folk português algures entre os universos da Fusão e das Músicas do Mundo. A sua maior força é a prestação contagiante ao vivo, que já incitou o público a dançar em Portugal, Espanha, França, Alemanha, Macau e Itália. Estes espectáculos fazem parte da programação do Projecto Oralidades, que é desenvolvido por uma rede de cidades europeias, mais concretamente Birgu (Malta), Évora, Idanha-a-Nova e Mértola (Portugal), Ourense (Espanha), Ravenna (Itália) e Sliven (Bulgária), que, na sua maioria, são cidades que integram a rede AVEC, na qual já desenvolvem acções de cooperação cultural. O Projecto Oralidades foi aprovado pelo Programa Cultura 2007-2013, da Education, Audiovisual & Culture Executive Agency, e está a desenvolver um conjunto de actividades que têm como objectivo aprofundar o diálogo intercultural e contribuir para a criação de uma cidadania europeia.
Cortesia de cronicasdaterra
O Projecto Oralidades tem uma execução de três anos e tem promovido a circulação transnacional de operadores, agentes culturais e grupos musicais e a cooperação e intercâmbio de experiências entre as cidades da rede. Está também em formação um Centro de Recursos da Tradição Oral, que pretende dar corpo ao legado cultural existente, recolhido a partir das Histórias de Vida, dos Contos Populares, dos Cancioneiros e dos Romanceiros, assim como da Música nas suas vertentes Tradicional e Popular e da Música Antiga, da Renascença e do Barroco». Com a Cortesia e amizade de RR

Feira do Livro de Évora: Até ao dia 6 de Junho na Praça 1º de Maio

Cortesia de AgendaCulturalÉvorafacebook
A Câmara Municipal de Évora realiza até ao pf dia 6 de Junho mais uma edição da Feira do Livro da cidade, que este ano se realiza na Praça 1.º de Maio, junto ao Mercado Municipal.
Trata-se da 10ª edição deste certame, que como sempre conta com a estreita colaboração dos livreiros locais e da Biblioteca Pública de Évora. Como nas edições anteriores, a Feira, para além dos livros, vai ser complementada por um programa cultural, que animará o recinto com espaços para a leitura, concertos de diversos géneros musicais e as habituais sessões de autógrafos dos escritores convidados.
O dia 1 de Junho terá uma programação especial, subordinada ao Dia Mundial da Criança, começando as actividades logo a partir das 10h, com um espectáculo pelo Eborae Mvsica, dos alunos do 1º ciclo do ensino básico.

Os stands da Feira do Livro estarão abertos ao público todos os dias entre as 10h e as 13h e entre as 17h e as 23h. No recinto estará disponível aos visitantes o programa cultural, com todas a calendarização dos eventos realizados no âmbito da Feira.
(http://www.cm-evora.pt/pt)
Cortesia de RR/JDACT

Município de Portalegre: Distinguido com o Prémio e-Municípios

Cortesia da CMPortalegre
A Câmara Municipal de Portalegre foi distinguida pelo Governo Português com o Prémio e-Municípios.

Este prémio foi atribuído pelo facto, de entre 308 municípios, Portalegre ter ficado no top-ten de três das quatro categorias em estudo:
  • Sofisticação;
  • Maturidade;
  • Disponibilidade;
  • Acesso e Navegação.
«... Este estudo anónimo, elaborado pelo Governo entre Maio e Junho de 2009, atribuiu ao Município de Portalegre o segundo lugar na categoria Sofisticação, o quarto lugar na categoria Maturidade e o oitavo lugar na categoria Disponibilidade.
Neste estudo foram avaliados individualmente dez tipos de serviços on-line, nomeadamente, feiras e mercados, taxas municipais, certidão para efeitos de IMI, consulta de informação georreferenciada, obras municipais, água e saneamento, execuções fiscais, cultura, trânsito, transportes e via pública e democracia participativa, prestados pelos 308 municípios portugueses, a partir dos quais foram distinguidos os top ten em cada uma das categorias.
A apresentação do estudo e a divulgação dos vencedores decorreu dia 20 de Maio de 2010, no Salão Nobre do Gabinete do Secretário de Estado da Administração Local, em Lisboa. Segundo José Fernando da Mata Cáceres, Presidente da Câmara Municipal de Portalegre, "Estou orgulhoso com este prémio e os funcionários da autarquia estão de parabéns. Este prémio é a prova da capacidade de realização e profissionalismo de toda uma equipa que todos os dias contribuem para melhor servir a população do Concelho". É significativo que Portalegre tenha sido reconhecida por uma entidade independente como a DGAL. Estamos, portanto, no bom caminho». Com a Cortesia e amizade de RR.

Agora Comunicação
Cortesia informativa de Cláudia Azedo e Ana Carvalho

RR/Ana Carvalho/JDACT

sábado, 29 de maio de 2010

Vivaldi: Músico italiano do estilo barroco. O padre «vermelho». Conhecido popularmente como autor de concertos para violino e orquestra. «As Quatro Estações»

Cortesia de pianoparadise



O cometa Halley: As órbitas e trajectórias são conceitos que são descritos matematicamente. Por equações e representações gráficas

O cometa Halley em 1835. Gravura do séc. XIX
Cortesia de astronomia-algarve
Com a devida vénia a Vieira Calado (astronomia-algarve).
«O cometa Halley é o mais célebre de todos os cometas. A sua história remonta ao ano de 239 a. C. Devemos aos remotos astrónomos chineses as observações que efectuaram nesses tempos recuados e também todos os registos de outros cometas, incluindo as 10 posteriores aparições do mesmo cometa, entre os anos de 760 e 66 d.C. Desde que Edmond Halley, um astrónomo inglês que viveu no século XVII, observou e estudou a trajectória dum cometa brilhante que se via nos céus, em 1682 e a que foi dado o seu nome. Baseando-se nos escritos enunciados no «Principia», de Newton, onde eram deduzidas as leis da mecânica celeste e nas leis que Kepler equacionara para descrever o movimento dos planetas em torno do Sol, Edmond Halley determinou a trajectória do cometa e foi capaz de prever o seu regresso. Essa órbita é uma elíptica muito alongada e, contas feitas, o cometa regressaria dentro de 75 ou 76 anos. E regressou. O astrónomo já não pertencia ao número dos vivos, para poder presenciar e rejubilar-se com a sua extraordinária previsão, mas o seu nome ficou para sempre ligado à astronomia e o feito serviu de prova complementar às leis de Kepler e à revolucionário teoria da gravitação de Newton.
É vasta a lista de desgraças e cataclismos atribuídas aos cometas, quer ao Halley, quer aos outros. Ainda em relação a este célebre «viajante interplanetário», lembremos Mehemed II e a queda de Constantinopla, em 1456. O responsável por essa calamidade, para os Cristãos e para toda a cristandade... fora o Halley, que, no entanto, só passou 3 anos depois! A última passagem do Halley, junto da Terra, verificou-se entre 1985 e 1986, como previsto. Mas as condições de visibilidade foram muito afectadas pela grande distância a que passou de nós, no seu caminho em direcção ao Sol, e também na sua rota de regresso aos confins do Sistema Solar. Na Europa, na maior parte do tempo ele aparecia-nos muito próximo da estrela, ao nascer ou por do Sol, sendo ofuscado pelo seu brilho. Mas no hemisfério austral – por exemplo, na África do Sul, o Halley manteve-se muito tempo ao alto, no céu nocturno e foi possível observá-lo sem dificuldade. Esta última aparição do célebre cometa terá sido uma das mais pobres de toda a História. A próxima passagem será no ano de 2061». In Vieira Calado

As órbitas e trajectórias são conceitos que podem ser facilmente descritos matematicamente por meio de equações e das suas representações gráficas. O estudo desses gráficos revela, por vezes, ciclos e períodos dessas trajectórias, o que deve ter acontecido no caso do cometa Halley.
Cortesia da semanadaastronomia
 Em cada aparição, o espectáculo da cauda do cometa Halley desvanece-se cada vez mais, como o evidenciou a sua última passagem em 1985-1986. A cauda é composta por gases e por pequenas partículas que são iluminadas pelo Sol. A órbita elíptica manter-se-ia inalterável se não fosse a influência gravitacional de Júpiter e de Saturno. Deste modo, a cada passagem, os cometas aproximam-se cada vez mais do Sol, originando a fusão de maior quantidade de gelo e o aumento da extensão dac sua cauda.
JDACT

Fascínios da Matemática: O Teorema de Pitágoras

Pitágoras
Cortesia de wikipédia
Todos os que estudaram álgebra ou geometria já ouviram falar do Teorema de Pitágoras. Este famoso teorema é utilizado em muitos ramos da matemática, na engenharia, na arquitectura e em medições nos mais diversos campos. Na Antiguidade, os egípcios recorreram ao seu conhecimento deste teorema para desenhar ângulos rectos. Usavam cordas com nós com espaçamentos de 3, 4 e 5 unidades e depois, utilizando as três cordas, esticavam-nas até formarem um triângulo. Sabiam que esse triângulo teria um ângulo recto oposto ao lado maior:
 
O Teorema de Pitágoras:
  • Dado um triângulo rectângulo, o quadrado do comprimento da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos comprimentos dos dois catetos.

A proposição inversa é também verdadeira:
  • Se a soma dos quadrados dos comprimentos de dois lados de um triângulo for igual ao quadrado do comprimento do terceiro lado, então esse triângulo é rectângulo.
Cortesia de Theoni Pappas
Apesar de este teorema ter recebido o nome do matemático grego Pitágoras (cerca de 540 a.C.), existem provas de que ele remonta aos babilónios do tempo de Hamurabi, mais de mil anos antes de Pitágoras. É provável que a referência a Pitágoras, seja devido ao facto de o primeiro registo escrito da sua demonstração ser proveniente da sua escola. O Teorema de Pitágoras e as suas demonstrações estão patentes em todos os continentes, culturas e épocas. Na realidade, este teorema reuniu maior número de demonstrações do que qualquer outro!

Com a devida vénia a Theoni Pappas, The Joy of Mathematics, Fascínios da Matemática, editora Replicação, Lda, 1ª edição, Junho de 1998, ISBN 972-570-204-2.
Cortesia de pitagoras-upt
JDACT

A Radiação Solar, Primeira Parte (1981): As suas medições. O Balanço da Radiação

Cortesia de wikipédia
Trata-se de um trabalho elaborado no final do ano de 1981. Foi escrito com máquina de escrever! 
Mesmo utilizando a técnica OCR (Optical Character Recognition, isto é, Reconhecimento Óptico de Caracteres)  as palavras truncadas eram imensas. Deste modo, página a página fui construindo a Primeira Parte da Radiação Solar e as Suas Medições
Começo com as noções gerais relativas à radiação solar, terrestre e total. Descrevo as medições da radiação solar, as escalas usadas, as unidades e a conversão de factores.


Cortesia de cienciomania
Refiro-me aos instrumentos de medida e respectivas aferições e descrevo a medição da radiação total, solar e terrestre. O balanço da radiação dará lugar à Segunda Parte.
Faço o estudo da radiação na proximidade da superfície terrestre e descrevo a calibração dos pirheliómetros e piranómetros e refiro-me à calibração das pilhas, inferior e superior, do instrumento de balanço do Professor Schulze e do registador potenciométrico. Descrevo a variação do albedo do solo nu ao longo do dia, tendo como referência o mês de Setembro de 1981 (na Segunda Parte).
Cortesia de kuuvikriver.info.science

(A RADIAÇÃO SOLAR E SUAS MEDIÇÕES. PRIMEIRA PARTE)
JDACT

sexta-feira, 28 de maio de 2010

João Villaret: Um «Notável» declamador. Os versos finamente medidos de Camões surgem na interpretação de Villaret rigorosamente clássicos

(1913-1961)
Cortesia de embaixada-portugal-brasil
João Henrique Pereira Villaret foi um actor, encenador e declamador português. Nos anos 50, com o surgimento da televisão, transpõe para este meio de comunicação a experiência que adquirira no palco e em cinema. Aos domingos declamava na RTP, com graça e paixão, poemas dos maiores autores nacionais.
Ficaram célebres, entre outras, as suas interpretações de:
  • Procissão, de António Lopes Ribeiro (1955);
  • Cântico negro, de José Régio;
  • O menino de sua mãe, de Fernando Pessoa.
«João Villaret deixou no mundo do Teatro e da Poesia um vazio que jamais voltou a ser preenchido. Aquela voz que para sempre deixou de dizer poesia, e que nos avassalou com interpretações de obras de tantos e tão grandes poetas como Camões, Pessoa e Régio, será seguramente recordada como um dos maiores talentos portugueses que continuará a orgulhar gerações vindouras. Assim, os versos finamente medidos de Camões surgem na interpretação de Villaret rigorosamente clássicos, os de Régio com toda a teatralidade e emoção de um místico para quem Deus simbolizava uma meta a atingir a todo o custo, e os de Pessoa com a alma e transcendência que o poeta lhes imprime. E isto sem esquecer a simplicidade quase infantil dessa obra-prima que é a Procissão, de António Lopes Ribeiro, recreada por esse mestre da palavra e declamação». Cortesia de cynergi.net










JDACT

Guillaume Dufay (1397-1474): Um compositor de vulto que reinventou a linguagem musical. Um modelo para as gerações seguintes

(1397-1474)
Cortesia de leiter.wordpress
Em momentos-chave da história, emergem compositores de vulto que reinventam a linguagem musical, clarificando-a e tornando-a um modelo para as gerações seguintes. Guillaume Dufay foi uma dessas figuras que surgiu no final do Renascimento






JDACT

As Maias: Uma tradição de «Maio» que perdura!

Estamos  quase no final do mês de Maio, sendo oportuno recordar As Maias. Trata-se de uma tradição que existe em quase todas as regiões do nosso belo país. Há locais onde se fazem bonecas de centeio que se colocam na praça, onde toda a noite se dança e canta. 
Noutras regiões, senta-se uma menina da aldeia, num tronco florido; esta tem uma coroa de flores na cabeça, sendo vestida de branco e venerada por todos os habitantes que dançam e cantam à sua volta. A menina em causa, recebe o nome de Rainha de Maio.
Cortesia da CMPortalegre
No Alentejo, a Maia é uma menina que se veste de branco enfeitada de malmequeres amarelos e adornada de jóias. As crianças pegam na orla da saia e percorrem as ruas, cantando:

Ó minha senhora
Chegue lá à janela
Para ver a Maia
Que parece uma donzela

Ó Maia ó Maia
Ó Maia das cachopas
Onde vai a Maia
Vai por essas barrocas.




Ó Maia, ó Maia,
ó Maia das cachopas,
onde vai a Maia,
vai por essas barrocas.

Diz a nossa Maia
que ela quer ir jantar
salada de alface
para à noite refrescar.

«E esta tão popular cantiga de autor ou autores desconhecidos – pois certamente os seus nomes se perderam através dos séculos – era cantada por grupos de meninas que, durante o mês de Maio, percorriam as ruas da cidade. Em Portalegre subsistia uma tradição que fazia a delícia das meninas: MAIA, assim se chamava a brincadeira usual no mês de Maio – o mês das flores». Com a devida vénia para eb1-n4-portalegre.rcts

Cortesia de eb1-n4-portalegre.rcts

Cortesia de eb1-n4-portalegre.rcts/JDACT

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Samuel Usque: «Consolação às Tribulações de Israel». Um catecismo judaico para uso de cristãos-novos em ruptura com a tradição judaica

Cortesia do Instituto Camões
Consolação às Tribulações de Israel, publicado em Itália, em Ferrara, em 1553, por um autor judeu português, Samuel Usque. Na forma de um diálogo pastoril ficcionado, o texto – que é de uma grande beleza poética – propõe-se «consolar» os judeus portugueses, mantendo viva, perante as tribulações sofridas pelos judeus em Portugal, a promessa messiânica de paz e libertação para o povo de Israel – hoje ainda, e de novo, tão ameaçadas.
Começando por evocar a história dessas tribulações ao longo dos tempos, o narrador descreve o modo específico delas pelo terrível tratamento dado aos judeus, ditos «Senhores do Desterro em Portugal» bem como noutros países europeus, durante a Inquisição e mesmo antes, no tempo de D. João II.
Trata-se, segundo Lúcia Liba Mucznik, de «um catecismo judaico para uso de cristãos-novos em ruptura com a tradição judaica», para o qual o Autor utiliza a sua melhor «arte de persuadir» com um propósito didáctico. O estilo de Usque repercute uma forte intertextualidade com textos bíblicos, mostrando ritmos, imagens, construções do discurso, que o ligam à literatura hebraica. Isso, juntamente com as formas da sua imaginação, confere ao texto, dentro do contexto da literatura portuguesa, uma posiçãosingular; conforme a expressão de Yosef H. Yerishalmi: «um clássico judaico em língua portuguesa». A Consolação parece condensar essa matriz futurante, utópica no sentido próprio, da cultura judeo-cristã e, nesse sentido, talvez possa dizer-se que neste texto de algum modo se enraíza o topos sebástico, que marcará a nossa cultura de quase todos os tempos. Samuel Usque escolheu escrever em português. E essa decisão é por si justificada no «Prólogo» da obra: «desconveniente era fugir da língua que mamei e buscar outra prestada pera falar aos meus naturais». In Fundação Calouste Gulbenkian 

Consideraremos à parte da prosa de ficção um conjunto de obras que, embora contenham elementos ficcionistas, tais como a alegoria, o diálogo e a descrição de visões, se caracteriza todavia pelo predomínio dos motivos religiosos. Não pode falar-se, na literatura portuguesa, de uma literatura propriamente mística, entendendo-se como tal aquela que exprime, por meios estilísticos tendentes à sugestão emocional, uma experiência imaginada ou experimentada de contacto directo com a divindade. Nada na literatura portuguesa se pode comparar às Moradas de St., Teresa de Ávila ou às obras de S. João da Cruz. Não parecem numerosas as obras que é usual classificar como ascéticas, isto é, as que se ocupam dos preceitos que levam à perfeição espiritual e preparam para o gozo da união com Deus (género que tem a sua melhor expressão na Imitação de Cristo). Deve todavia ressalvar-se que os textos de devoção não têm sido sistematicamente explorados pelos historiadores da literatura. O grande êxito que tiveram as obras de Frei Luís de Granada, autor de língua castelhana, mas que viveu e editou em Portugal, é significativo da existência de um público numeroso para este género de obras.
Entre as poucas obras de inspiração religiosa que seguidamente vamos examinar, inclui-se uma de cunho hebraico e publicada em Itália. Embora adoptando a ficção pastoril, a sua inspiração é fundamentalmente bíblica, e o seu tema nada tem que ver com o bucolismo, excepto a descrição idealizada de um lugar ameno campestre.

«Para uma visão completa, ainda que resumida, do Quinhentismo português, faltará dizer qualquer coisa da literatura doutrinária. Diferente da que se produziu na época anterior, dirige-se por vários caminhos e reflecte tendências nem sempre ortodoxas ou cortesãs. Podia-se dividi-las em dois tipos: laica e religiosa. A primeira é representada, especialmente, pela Consolação às Tribulações de Israel (1553), do judeu português Samuel Usque (nada se conhece de sua vida). Sendo de si pouco importantes como Literatura, pois seu objectivo não-ficcional situa-as fora do terreno literário propriamente dito, só encerra maior interesse, pondo de parte o valor documental, doutrinal ou estilístico, a primeira dessas obras. De facto, Samuel Usque impregna a obra de muita comoção, mercê de sua condição judaica, aliada a forte sentimentalidade e sensualidade de raiz artística. Essas qualidades servem de base a um escritor apaixonado, que se coloca inteiro na obra, onde procura retratar os horrores da perseguição a seus irmãos de sangue e religião. E, assim, fecha-se o Classicismo português, não sem deixar saldo credor para a época seguinte, graças às linhas cruzadas que lhe formaram a estrutura, e um imponderável conteúdo ideológico que transmite como herança para o século XVII, época do Barroco». In Massaud Moisés, A Literatura Portuguesa

Cortesia de Massaud Moisés
A Consolação às Tribulações de Israel (Ferrara, 1553), do judeu português emigrado em Itália Samuel Usque, é constituída por três diálogos entre pastores (Icabo, Numeu e Zicareu – anagramas de nomes judaicos) e tem como propósito rememorar as perseguições sofridas pelo povo bíblico e recordar-lhe as divinas promessas de resgate. Parece à primeira vista estarmos simplesmente em presença de um livro de forma bucólica e de fundo religioso: tudo são reflexões e queixumes acerca das matanças, das escravizações, vexames, padecimentos sofridos pelos Israelitas, em constante paráfrase de textos bíblicos e históricos, ou sobre recordações familiares, mitigando-se o sofrimento com a consolação das profecias e dos mistérios cabalísticos (a transmigração das almas, os poderes ocultos). No entanto, o pastoralismo de Usque vai talvez mais fundo do que o dos outros bucólicos portugueses, dado que a Bíblia, em que as suas alegorias se apoiam constantemente, elabora a história e as crenças de um novo nómada, ao passo que o bucolismo de Teócrito e Virgílio é muito mais evoluído em relação às raízes do género. A imaginação literária, o estilo de Usque constituem talvez por isso um caso único na nossa literatura quinhentista, se descartarmos um certo parentesco com a obra em prosa de Bernardim.

Depara-se-nos em Samuel Usque o estilo bíblico, em que o liame lógico é indirectamente dado por alegorias e metáforas simples (ao nível suposto de uma cultura de pastores), com repetições insistentes, com descrições pitorescas de circunstâncias que, logicamente, nada fazem ao caso, mas inculcam uma representação imaginosa das ideias. Este processo é sobretudo sensível no 1.° diálogo, Diálogo pastoril sobre as cousas da Sagrada Escritura, o mais abundante em descritivo campestre, traçando um quadro paradisíaco anterior às atribulações israelitas. Icabo (anagrama de Jacob), que no simbolismo bíblico se confunde corporeamente com o próprio povo judaico (também representado, aliás, pelas suas ovelhas), não entra na matéria histórica dos seus lamentos sem primeiro nos dar todo o lento desenrolar de um dia de pascigo, parece que hora a hora, rês a rês, numa contemplação logicamente preguiçosa que mal suporta substantivo sem adjectivação pitoresca, verbo sem adverbiação esmiuçadora, em longos períodos enumerativos que, ainda assim, não dispensam um espraiamento parentético de longe a longe.

Sannazzaro não deixou de concorrer para este pastoralismo, pois certas paráfrases suas já foram reconhecidas pelos eruditos. Mas, mais do que a écloga, domina a inspiração do autor o versículo imaginoso e ritmado dos cânticos das Escrituras, o que ainda mais se evidencia se desse trecho descritivo passarmos às lamentações. Aí parece até que a exigência de melopeia, o tom agridoce dos lamentos e interrogações, ritmo de balanceamento ou intensificação gradativa preexistem à própria significação das frases e a comandam: «...Quando cansarão meus males e fadigas, minhas enjúrias e ofensas, minhas saudades e misérias, as feridas n’alma e minhas magoas, as bem-aventuranças longas e tão cansadas? E quando terá paz tanta guerra contra o fraco sujeito, temor, suspeita, receios de minhas entranhas? Té quando gemerei, suspirarei, matarei a sede coas lágrimas de meus olhos?»
Cortesia de ruadajudiaria
(Quatro Escritores da Prosa Doutrinal Religiosa)
Cortesia dos Profs. António José Saraiva e Óscar Lopes/JDACT

A Doação de Guidintesta: O Castelo de Belver. Parte I

Cortesia de br.olhares
O Castelo de Belver tem na sua génese a concorrência de todo um conjunto de circunstâncias, que em si constituem o suporte da luta que os nossos primeiros monarcas encetaram pela consolidação da Independência e expansão do território português, no sentido do sul muçulmano. O movimento da «reconquista cristã» na Península Ibérica, inserido no quadro do desenvolvimento e expansão da Europa dos séculos XII e XIII (as Cruzadas), está na origem da fundação do reino de Portugal, cujo território, constituído na luta antimuçulmana para sul, até à conquista do Algarve por Afonso III, que marcaria o fim de praticamente cinco séculos de domínio árabe em território hoje português. A outra frente desta mesma luta pela autonomia, situou-se no eixo oriental, contra as quase constantes ambições de absorção de Portugal por parte dos reinos vizinhos de Leão e Castela, que iam mantendo vivo o velho ideal da unificação cristã peninsular.

Afonso Henriques, Sancho I, Afonso II, Sancho II, e Afonso III, são os monarcas que conduzem o processo de expansão e consolidação territorial, que se caracteriza essencialmente pelo primado da mobilização da máquina de guerra, em constante actividade, ora avançado para o sul, ora recuando, ao longo das linhas naturais que arduamente se defendiam. Fortificar, colonizar, seriam os vectores da política real, a melhorar a defesa seria a ocupação do solo por uma população estável, que a qualquer momento pudesse acorrer em sua defesa. Afonso Henriques havia conseguido notáveis progressos no avanço cristão em direcção ao sul, mas a ausência de uma política real de colonização tornou frágeis as possibilidades de defesa das praças conquistadas, nomeadamente no Alentejo. Assim sendo, a ofensiva árabe desencadeada por Iacub Al Mansur em 1190, fez recuar a presença cristã em solo alentejano até à linha do Tejo, com excepção de Évora.

Essencialmente a preocupação de Sancho I no aspecto militar é consolidar o território cristão ao longo da linha do Tejo, dando-lhe possibilidades de defesa e, por isso mesmo, promovendo o seu povoamento progressivo. Na zona compreendida entre Santarém, Abrantes e Vila Velha de Rodão, ao longo do Tejo, vão-se desencadear diversas acções de povoamento e fortificação, cabendo à zona hoje ocupada por Belver, um papel essencial na defesa do referido eixo.
Tal tarefa é atribuída pelo rei à Ordem Militar do Hospital, a quem faz a doação da zona chamada de Guidintesta, que se estendia pelas suas margens do rio Tejo, denominada estrategicamente pelo ponto onde Sancho I manda erguer o Castelo de Belver. A Carta de Sancho I em 13/06/1194) explica:
  • ...«Vobis clomno Alfonso Pelagii Hospitalis... terra que vocatur Guidintesta, in qua concedimus vobis ut faciatis castellum cui imponimus nomen Belver».
Iniciado logo a seguir à doação do rei, Afonso Pais, prior da Ordem dos Hospitalários, o castelo estaria concluído em 1212, passando a funcionar como Casa-Mãe daquela Ordem Militar, substituindo assim a anterior sede situada no Mosteiro de Leça. Segundo o testamento de Sancho I, citado na crónica de Rui de Pina, ficaria à guarda do prior do Hospital, na fortaleza de Belver, uma parte importante dos 500.000 maravedis de ouro e dos 1.400 marcos de prata destinados àquela Ordem, bem como as esmolas que o testamento previra.

Cortesia da CMBelver
Segundo os historiadores, Belver teria funcionado como Casa-Mãe dos Hospitalários durante praticamente um século, até que em 1350 a sede muda para o Crato, por determinação de D. Álvaro Gonçalves Pereira, que era então o prior daquela Ordem. Em 1390, D. Nuno Álvares Pereira, chefe militar do rei D. João I, encarregou-se da ampliação e melhoramento do Castelo de Belver, sendo a traça destas obras aquela que permaneceu até aos nossos dias, em que se procedeu ao restauro completo deste monumento por parte da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, nos anos 40.


Cortesia da CMBelver
Para fazer história deste Castelo, poder-se-á partir de três vectores fundamentais que determinaram a sua funcionalidade no tempo. Assim:
  • Em primeiro lugar, o Castelo de Belver encontra-se ligado ao sistema político-militar próprio do período inicial da História de Portugal, caracterizado pela conquista do território aos muçulmanos e implantação de sistemas defensivos nas zonas geograficamente estratégicas, de modo a consolidar pela defesa e pelo povoamento, o progressivo avanço do território português em direcção ao sul algarvio. A construção e a primeira fase da vida de Belver teriam estas características, que fundamentalmente dependiam do governo da Ordem Militar dos Cavaleiros do Hospital, que tal como as outras ordens religiosas militares se enquadra no espírito da reconquista e da cruzada próprios dos séculos XII e XIII;
  • Em segundo lugar ou o segundo vector que determina a História deste monumento incide já nos finais do século XIV, em que uma vêz estabelecidas as fronteiras definitivas do território português e dominado o perigo muçulmano, se torna necessário garantir a defesa do território face a Castela, sendo essa intenção de Nuno Álvares Pereira quando, em 1390, desencadeia as obras de melhoramentos no perímetro do Castelo. A guerra com Castela, iniciada em 1383, que levaria D. João I ao trono de Portugal por oposição nacional às ambições do rei de Castela, teria o seu lance decisivo na batalha de Aljubarrota, em 14 de Agosto de 1385, mas no entanto, até que a paz fosse assinada em 1411, foi preocupação do rei e do ajudante do campo garantir ao máximo a estabilidade das fronteiras luso-castelhanas, fortalecendo e melhorando o seu sistema defensivo, como será o caso do Castelo de Belver em 1390;
  • Finalmente, com o passar do tempo, o Castelo foi perdendo a função de centro vital na vida política nacional. Tal como no resto do país, a vida urbana viria a impor-se, a guerra ganharia novas facetas do ponto de vista táctico, alterando-se o terreno e os meios a pelejar. O Castelo de Belver terá sido palco, ainda no século XV, de disputas relacionadas com a política interna, como é o caso do confronto entre Afonso V e o regente D. Pedro.
No século XIV supõe-se que terá de algum modo tomado parte da resistência à ocupação filipina, ao lado de D. António que era o Prior do Crato. Daí em diante, o Castelo foi sendo progressivamente esquecido, até que nos nossos dias, em 1942, a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais procedeu ao restauro dos estragos que lhe causou o seu último e pior inimigo: o tempo.
Merece especial referência neste conjunto monumental, e dentro do seu perímetro, a Capela de S. Brás, erguida perto da torre que defende a fachada norte do castelo, sempre preservada devido ao carinho com que a população sempre a tratou. De estrutura arquitectónica modesta e de pequenas proporções, a Capela de S. Brás tem como principal atractivo o seu belo retábulo do século XVI, construído com a finalidade de abrigar as relíquias que se encontram distribuídas pelos vinte e quatro nichos. este conjunto de talha profusamente trabalhado, de influência nitidamente renascentista é, sem dúvida, um dos mais valiosos que se encontram nas igrejas portuguesas, quer pelo seu valor histórico como pelo seu elevado sentido estético.


Cortesia de castelosdeportugal
Cortesia da CMBelver/JDACT

O Plátano: Faz parte da história de Portalegre. Ponto de Encontro para muitos visitantes, amigos, quiçá, uma referência para um encontro casual

Cortesia de platanorevista
Um plátano plantado há 172 anos em Portalegre e que apresenta a maior copa da Península Ibérica, faz parte da história de Portalegre e é Ponto de Encontro para muitos visitantes, amigos, quiçá, uma referência para um encontro casual.
Em 2008, os serviços de arboricultura da Fundação Serralves fizeram trabalhos de manutenção e recuperação na sua estrutura em apoio às ramadas. 
Cortesia de platanorevista
«Desafiando a passagem do tempo, a árvore, que foi mandada plantar no rossio de Portalegre pelo botânico José Maria Grande há 172 anos, cresceu e desenvolveu-se, sendo já necessários 18 suportes para os seus largos ramos. O Plátano do Rossio está considerado de interesse público». In Câmara Municipal de Portalegre.
Situado no primitivo centro da cidade, muitos acontecimemtos ocorreram debaixo da sua sombra refrescante: 
  • Feiras e negócios;
  • Conversas de ocasião e encontros de namorados;
  • A primeira sede do Sport Clube Estrela;
  • Reuniões políticas.
Segundo os documentos existentes, a árvore aproveitou uma linha de água que passa no local e tem resistido ao tempo. Grande parte do tronco encontra-se soterrado, apenas 30 metros está visível.
Anos 40
Cortesia de platanorevista
«Um dia a mão do homem decidiu condená-lo 'à morte', mas o povo portalegrense, orgulhoso deste 'monumento', revoltou-se e não permitiu que o plátano fosse deitado abaixo. Pelo contrário, tem sofrido operações de limpeza e manutenção». In Câmara Municipal de Portalegre
Na actualidade
Cortesia de registos-leonor
CMPortalegre/registosleonor/platanorevista/JDACT

Fascínios da Matemática: A Ciclóide - A Helena da Geometria

A ciclóide é uma das muitas curvas fascinantes da matemática.
É definida como:
  • a curva descrita por um ponto fixo de uma circunferência que gira, sem escorregar, ao longo de uma linha recta

Uma das primeiras referências à ciclóide aparece num livro de Charles Bouvelles, publicado em 1501. Mas foi no século XVII que um grande número de proeminentes matemáticos, Galileu, Pascal, Torricelli, Descartes, Fermat, Wren, Wallis, Huygens, Johann Bernoulli, Leibniz e Newton se dedicaram à descoberta das suas propriedades.
O século XVII foi um período de grande interesse pela matemática da mecânica e do movimento, o que poderá explicar a atenção entusiástica dispensada à ciclóide.
Juntamente com muitas descobertas realizadas durante essa época, registaram-se muitas controvérsias sobre quem descobriu o quê em primeiro lugar, acusações de plágio e minimização do trabalho dos outros.

Como consequência, a ciclóide foi rotulada como a maçã da discórdia e a Helena da geometria. Eis algumas das propriedades da ciclóide, descobertas durante o século XVII:
  • O seu comprimento é quatro vezes o diâmetro da circunferência que a gera. É interessante verificar que o seu comprimento pode ser expresso por um número racional independente de π;
  • A área delimitada pelo arco é o triplo da área do círculo que roda;
  • O ponto da circunferência que descreve a ciclóide assume diferentes velocidades - na realidade, há mesmo um local, P5, em que se encontra em repouso;
  • Quando deixamos cair berlindes a partir de diferentes pontos de um recipiente com a forma de uma ciclóide, eles chegam ao fundo simultaneamente.

Cada circunferência representa um quarto de volta da circunferência em rotação. Note-se que o comprimento do quarto de volta entre P1 e P2 é muito menor do que entre P2 e P3. Consequentemente, o ponto aumenta a sua velocidade entre P2 e P3, uma vez que deve percorrer um comprimento maior no mesmo intervalo de tempo. O ponto permanece em repouso nos locais em que inverte o sentido do movimento.

Há muitos paradoxos fascinantes relacionados com a ciclóide. O paradoxo do comboio é especialmente intrigante. «Em qualquer momento, um comboio em movimento nunca se desloca inteiramente no sentido em que está a ser puxado pela máquina. Há sempre algumas partes que se movem no sentido oposto ao do resto do comboio».
Este paradoxo pode ser explicado recorrendo à ciclóide. Neste caso, a curva que se forma é denominada uma ciclóide alongada - que é a curva descrita por um ponto fixo exterior à roda que se encontra em movimento. A figura mostra que há sempre uma parte do comboio que se move para trás, enquanto o comboio se desloca para a frente.

Com a devida vénia a Theoni Pappas, The Joy of Mathematics, Fascínios da Matemática, editora Replicação, Lda, 1ª edição, Junho de 1998, ISBN 972-570-204-2.
JDACT

Francisco Manuel de Melo: Autor multifacetado, polígrafo, e seguramente um dos maiores da literatura portuguesa seiscentista. O prisioneiro da «Torre Velha» (Fernando Campos)

(1608-1666)
Cortesia de wikipédia
D. Francisco Manuel de Melo foi um escritor, político e militar português, ainda que pertença, de igual modo, à história literária, política e militar da Espanha. Historiador, pedagogo, moralista, autor teatral, epistológrafo e poeta, foi representante máximo da literatura barroca peninsular. Publicou cerca de duas dezenas de obras durante a sua vida, foi ainda autor de outras, publicadas postumamente. Aliou ao estilo e temática barroca (a instabilidade do mundo e da fortuna, numa visão religiosa) o seu cosmopolitismo e espírito galante, próprio da aristocracia de onde provinha. Entre suas obras mais importantes, pode-se destacar o texto moralista da «Carta de Guia de Casados» ou a peça de teatro «Fidalgo Aprendiz», que é uma «Farsa», como foi descrita pelo autor desde o início e não um Auto como tem vindo a ser designada por edições recentes. De acordo com a literatura da época, estudou num colégio de Jesuítas, provavelmente no colégio jesuíta de Santo Antão, onde terá estudado Humanidades, e adquiriu uma erudição que se tornaria patente nas obras. Como pretendia seguir a carreira das armas, a exemplo do pai, também estudou matemática.

Seguiu a vida militar a serviço da armada espanhola em Flandres e na Catalunha. O episódio mais famoso do período ocorreu em 1627, descrito na sua «Epanáfora Trágica»: estando a servir na esquadra comandada por D. Manuel de Meneses, esteve perto de naufragar no Golfo da Biscaia, tendo atingido a custo a costa francesa. Pouco depois, em 1629, combateu, vitoriosamente, corsários turcos num combate naval no Mar Mediterrâneo e foi armado cavaleiro. Em 1631 recebeu a ordem de Cristo das mãos de Filipe IV de Espanha. A sua presença na corte de Madrid torna-se constante. Capital do Império, a cidade assumia-se como o grande centro político e cultural da Península. D. Francisco Manuel de Melo entrou aí em contacto com os mais eminentes intelectuais, incluindo o célebre Francisco de Quevedo.
Em 1637 tinha participado na pacificação da revolta de Évora, acontecimento que viria a preparar a Restauração Portuguesa. Assim que esta foi declarada por D. João IV, a coroa espanhola manda prendê-lo por suspeitar do seu envolvimento na revolução em solo luso. Tendo-lhe sido autorizado deslocar-se para a Flandres, fugiu daí para Inglaterra, de onde regressou a Portugal.

Torre Velha
Cortesia de ruinarte
Em 1641, livre, foi encarregado de missões diplomáticas em Paris, Londres, Roma e Haia. Neste ano aderiu à causa do rei português, D. João IV, a quem prestará os seus serviços, a nível militar e diplomático.
Em 1644, em Portugal, depois de receber a comenda da Ordem de Cristo, foi preso por envolvimento num caso que acarreta muitas dúvidas e conjecturas. Manteve-se na prisão até 1655, onde escreveu muitas das suas mais celebradas obras. Foi condenado ao degredo em África, conseguindo, depois, que a pena lhe fosse comutada para o exílio no Brasil, e viveu por três anos na Bahia. A influência do Novo Mundo, ainda que pouco acentuada, encontra-se em alguns aspectos da sua obra. Em 1658, morto D. João IV, regressou a Portugal.
Em 1647, compõe uma parte do D. Teodosio II, em castelhano !! sobre a história da Casa de Bragança, que apenas chega à infância de D. Teodosio II, seu 7º Duque, pai do futuro Rei Restaurador; para este livro D. Francisco com a ajuda do seu primo Francisco de Melo (que desenha) cria um frontispicio que ele explica da seguinta maneira numa carta dirigida a um amigo, datada de 10 de maio de 1649: «Neste livro Teodósio, que a S. Majestade escrevo, de que determino fazer-lhe cedo presente, fiz debuxar um capricho por meu primo Francisco, que com raro acêrto o pôs em efeito, - para dêle, se abrir uma estampa que sirva de rosto ao verdadeiro livro; mas para que a pintura nem a tensão fique muda, desejo explicá-la em dous Dísticos, ao pé do debuxo, para o que fiz deixar lugar. É tal a pintura: - a Verdade em figura de Ninfa, que está pintando em sua estante; e por detrás à orelha lhe dita o que há de pintar outra Ninfa, que significa a Memória». No painel vê-se a pessoa do Duque Teodósio armado como pintura feita de verdade. Por detrás está Mercúrio moendo tintas, significando o estilo (por sêr ele o deus da Eloquência) - que são as tintas de que se compõe a formosa história.

Olhando o «debuxo» que apareceram três figuras dissimuladas, que parecem ser mais que traços tirados do acaso. Não esquecemos que Melo interessa-se pela Cabala, e podemos perguntar qual a importância para ele compôr este frontispicio?. Melo está preso há 5 anos, preso na Torre Velha, indica ele ao fim do prólogo dessa obra, e pode-se distinguir pelas letras e no que resta dos documentos da época. Trata-se de um (ou vários) inimigo potente que conseguiu a sua prisão, com a caução do Rei. Ora, é o proprio Rei, que lhe pede uma historia do seu pai D. Teodósio II. Situação dificil e caricata. D. Francisco já utilisou todos os meios possiveis para obtêr sua libertação, até uma carta do próprio Louis XIV de França.


Frontispicio do D. Teodosio II, desenhado par um primo do autor, mas concebido por D. Francisco
Cortesia wikipédia
Noutras circunstâncias, que ficaram misterioas até hoje, já teria saído de prisão há muito tempo. Esse «Rosto»  poderá ser o modo como  D. Francisco quis figurar a história do seu drama:

  • Dum lado acima da pirâmide, como vindo depois do corpo duma serpente, uma cara de perfil, homem calvo, corpulento, (o inimigo?);

  • Junto a um dos pés, perto da cadeira, a cabeça pisada dum outro homem, ainda novo, de cabelos compridos (D. Francisco tinha 40 anos);

  • Um dos pés da cadeira parece pisar o pé da «Ninfa» da Memória e indica, pé esquerdo da pirâmide, uma outra cabeça, cabelos curtos e escuros, olhos grande abertos, escondida atrás de cortinas, a saia da Ninfa, ou com um corpo fantasmático deitado sobre a palavra Memória, (se calhar o morto à origem do drama, que a primeira figura fixa, no cume da pirâmide);

  • Em cima, um moucho, garras exageradas, asas abertas.
D. Francisco Manuel de Melo foi autor de uma obra vasta e diversificada, em português e em castelhano.
A Carta de Guia de Casados é uma das obras de D. Francisco Manuel de Melo. A pedido de um noivo, que acabou permanecendo anónimo, mas que decerto pertencia à fidalguia do tempo, em dois meses de prisão na Torre Velha (situada defronte da Torre de Belém), entre janeiro e março de 1650, D. Francisco Manuel de Melo escreveu a A Carta de Guia dos Casados. Redigiu-a dum só fôlego, sem dividi-la em capítulos ou partes. Texto corrido, portanto, trata duma série de questões pertinentes ao tema implícito no título da obra, especialmente destinadas àqueles que se dispunham a enfrentar as vicissitudes do matrimónio. A «Carta de Guia de Casados», publicada em Lisboa, em 1651, de carácter moralista, é uma das suas obras maiores, onde tece considerações sobre a vida conjugal e familiar. Foi escrita a pensar num amigo que se ia casar. Datada nas opções que defende (dentro de um espírito marialva e machista), a «Carta» é ainda lida pelo seu rigor estilístico, pormenores anedóticos e passagens maliciosas que alternam com passagens mais demonstrativas e axiomáticas (com uma larga profusão de provérbios).

Estribado na sua variegada e profunda experiência mundana(era solteiro e conquistador), e não no saber contido nos livros, dá conselhos de vária ordem, desde o governo económico da casa, o trato com as criadas, até o convívio entre conjuges, os ciúmes, etc. A Carta de Guia de Casados, além de possuir grande interesse literário, linguístico, psicológico e histórico, não se assemelha a nenhuma outra anterior dedicada ao mesmo assunto, nem som as escritas por portugueses.

Cortesia de wikipédia
A obra de D. Francisco Manuel de Melo, que soube manter na adversidade uma admirável equanimidade e um estoicismo industrioso, reflecte a grande variedade dos seus interesses intelectuais.O valor literário de D. Francisco Manuel nem sempre tem sido devidamente apreciado pelo leitor médio, que dele só conhece a Carta de Guia de Casados e a Farsa do Fidalgo Aprendiz, que saiu juntamente com as Obras Métricas (Lião, 1665), onde se reúne toda a sua produção poética. D. Francisco Manuel foi um escritor muito fino e subtil, cuja sensibilidade artística se exprime admiravelmente dentro do espírito e das formas do barroco. Na sua poesia trata com grande penetração psicológica os temas do desengano e da fugacidade das coisas, com um cosmopolitismo aristocrático e uma têmpera de animo que conferem um cunho muito pessoal às suas meditações. Notáveis pelo estilo e pelo ideário são ainda as suas Cartas Familiares (Roma, 1664), infelizmente seleccionadas de modo que nelas não se encontre qualquer indiscrição ou indício revelador dos infortúnios sofridos pelo seu autor. Espírito conservador e aristocrático, D. Francisco Manuel é sensível às mudanças sociais de um tempo que reflecte erosões de grandeza e as desilusões da vida humana. A sua obra é vasta e uma parte dela encontra-se inédita, não estando no conjunto ainda devidamente estudada. In  Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. I, Lisboa, 1989

Cortesia de Leilões
O teatro português da época estava numa fase pouco criativa, apesar de se representarem muitos autos populares nas ruas e feiras, e tragédias clássicas nos colégios dos jesuítas, como aquele em que D. Francisco estudou. Imitava-se e adaptava-se muito o que era feito em Espanha. Escrito anteriormente a 1646, na Torre Velha, a Farsa do Fidalgo Aprendiz, publicado pela primeira vez, nas suas Obras métricas em 1665, satiriza a fidalguia provinciana. Ainda que seja duvidosa a influência directa, há quem a estabeleça com a obra de Molière, Le Bourgeois Gentilhomme – é provável que os dois dramaturgos tenham trocado impressões e ideias que tenham resultado em obras semelhantes.
Grande parte da obra de Francisco Manuel de Melo é dedicada ao género didáctico.
Os quatro «Apólogos Dialogais», de 1721, juntam várias obras:

  • Textos de crítica social e moral, «Relógios Falantes», «Escritório do Avarento», «Visita das Fontes»;

  • Textos de crítica literária, «Hospital das Letras», escrito em 1657, é considerado a primeira obra de crítica literária verdadeiramente estruturada, em português.

Página de rosto dos Apólogos Dialogais de D. Francisco Manuel de Melo
Cortesia wikipédia
Os apólogos, considerados pelo próprio D. Francisco como obras «esquisitas», consistem em diálogos entre objectos, excepto o «Hospital de Letras», onde o diálogo é estabelecido entre os autores Trajano Bocalino, Justo Lípsio, Francisco Quevedo e o próprio D. Francisco Manuel de Melo, muito apreciados pelo seu refinamento palaciano e ironias subtis. Além de se apontarem defeitos dos autores nacionais, são elogiados Gil Vicente, Sá de Miranda, Luís de Camões, António Ribeiro Chiado, Jorge Ferreira de Vasconcelos, entre outros. D. Francisco serve-se das personagens para fazer uma crítica de costumes não demasiado corrosiva, diplomática, até, ainda que recorrendo à sátira. Em «Relógios falantes» o autor põe a discutir dois relógios de igreja - da Igreja das Chagas e da vila de Belas, representando a cidade e o campo – de forma a fazer ressaltar que em todos os sítios onde vivem homens (seja no meio campesino ou no meio urbano) existe hipocrisia e frivolidade. Em «Escritório do Avarento» são quatro moedas, numa gaveta de um avarento, que discutem a corrupção. Na «Visita das fontes», conversam a Fonte Nova do Terreiro do Paço, a Fonte Velha do Rossio, a Estátua de Apolo, que ornamenta a primeira e o sentinela que guarda a fonte. Aqui, num lugar bastante concorrido da época, são classificados os transeuntes consoante os seus vícios, fazendo-se um retrato satírico da sociedade lisboeta da época.

Pode referir-se o seu «Tratado da Ciência Cabala», publicado postumamente, em 1724, dedicado a Dom Francisco Caetano de Mascarenhas. Este tratado, ao incidir sobre um tema do ocultismo, corria o risco provável de ser censurado pelo Santo Ofício. Verifica-se, de facto, alguma prudência na forma como o autor expõe os seus conhecimentos.

(A Carta de Guia de Casados).  Com a devida vénia a Maria de Lurdes Fernandes.
(D. Francisco Manuel de Melo). Com a devida vénia a Isabel Allegro de Magalhães.
Cortesia de FCG/wikipédia/JDACT