Cortesia
de Publicações Foriente
Com
a devida vénia ao Dr. José Maria Rodrigues (3.1761-06184643-2), Coimbra, 1910
«Entre as encantadoras
redondilhas de Camões figuram as duas voltas ao mote:
Perdigão perdeo a
penna",
Não ha mal que lhe
não venha.
Dizem ellas, num
tom de accentuada melancholia:
Perdigão, que o pensamento
Subio a um alto
logar,
Perde a penna do
voar,
Ganha a pena do tormento.
Não tem no ar, nem
no vento,
Asas com que se sostenha.
Não ha mal que lhe
não venha !
Quis voar a uma alta
torre,
Mas achou-se
desasado;
E vendo-se depennndo.
De puro penado morre.
Se a queixumes se
soccorre,
I.ança no fogo mais
lenha.
Não há mal que lhe
não venha !
O próprio perdigão
depenado, que nem ao menos se podia queixar, sem lançar mais lenha no fogo, sem
aggravar a sua situação, era o próprio Camões. O alto logar até onde subio o
seu pensamento, a alta torre a que quis voar, era uma das mais nobres e mais sympathicas
figuras femininas que teem vivido sob este bello sol de Portugal:
era a filha mais
nova del-rei Emanuel, a infanta D. Maria (1).
NOTA: (1)
«É muito interessante
a monographia de D. Carolina Michaelis de Vasconcellos a respeito da infanta D.
Maria de Portugal (1521-1577) e as suas datnas (Porto, 1902).
Della transcrevo
aqui a seguinte passagem: «De sangue real, herdeira da coroa, se não morresse um
anno antes da catastrophe de Alcacer-Quebir, pertence á historia e teve biographos
conscienciosos. Em creança e na flor da edade viu refulgir diante de seus olhos
a coroa de França ; foi escolhida repetidas vezes para o throno imperial, orbis
destinata império, outras tantas para o império de Hespanha. Acariciando sempre,
no intimo do coração, este ultimo projecto, ficou ainda assim innupta, uma triste
sempre-noiva. Este estado tragicomico que lhe foi imposto, mas que afinal acceitou
com sublime altivez, aparentando tê-lo escolhido livremente, despertou a dolente
sympathia dos coevos. E ainda hoje é capaz de suscitar a dos pósteros».
(2) Basta citar por
agora os sonetos 27 e 193:
NOTA:
«Males, que contra
mim vos conjurastes,
Quanto ha de
durar tão duro intento ?
Se dura, porque dure
meu tormento,
Baste-vos quanto
já me atormentastes.
Mas, se assi
porfiais, porque cuidastes
Derribar o meu alto
pensamento,
Mais pôde a causa
delle, em que o sustento,
Que vós, que delia
mesma o ser tomastes.
E, pois vossa
tenção com minha morte
E de acabar o mal
destes amores,
Dai já fim a tormento
tão comprido.
Assi de ambos contente
será a sorte :
Em vós, por
acabar-me, vencedores ;
Em mim, porque acabei
de vós vencido».
«Erros meus, má fortuna,
amor ardente.
Em minha perdição
se conjuraram.
Os erros e a fortuna
sobejaram,
Que para mi bastava
amor somente.
Tudo passei. . .
Mas tenho tão presente
A grande dòr das
cousas que passaram,
Que já as frequências
suas me ensinaram
A desejos deixar
de ser contente.
Errei todo o
decurso de meus annos ;
Dei causa a que a
fortuna castigasse
As minhas mal fundadas
esperanças.
De amor não vi senão
breves enganos.
Oh ! Quem tanto
pudesse, que fartasse
Este meu duro gcnio,
de vinganças !»
In Dr José Maria Rodrigues, Camões e a
Infanta D. Maria, Separata do Instituto, Imprensa da Universidade de Coimbra,
Coimbra, 1910, há memória do Mal-Aventurado Príncipe Real Luís Philippe (3 1761
06184643.2), PQ 9214 R64 1910 C1
Robarts/.
Cortesia
do AHistórico/UCoimbra/JDACT
Camões,
Didácticas, Infanta D. Maria, JDACT, Dr José Maria Rodrigues, Universidade de
Coimbra, 500 Anos de Camões,