quarta-feira, 30 de junho de 2010

Oliveira Marques: Um «Notável» em História. Considerado um dos grandes historiadores portugueses contemporâneos. As suas obras, que se destacam em diversos domínios, são instrumentos de grande importância para os estudiosos da História de Portugal

(1933-2007)
S. Pedro do Estoril
Cortesia de publico
António Henrique Rodrigo de Oliveira Marques, foi um destacado Professor universitário e historiador português. Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, apresentando uma dissertação intitulada A Sociedade em Portugal nos séculos XII a XIV. Depois de ter estagiado na Universidade de Würzburg (Alemanha) iniciou funções docentes na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde se doutorou em História com a dissertação, Hansa e Portugal na Idade Média.
Em 1962 participou na greve académica, ao lado dos estudantes, o que esteve na base do seu afastamento da Universidade.
Em 1965, partiu para os Estados Unidos da América, leccionando como professor associado e catedrático nas universidades de Auburn, Flórida, Columbia, Minnesota e Chicago, e percorrendo grande parte daquele país como conferencista.
Em 1970 regressou definitivamente a Portugal, embora só depois do 25 de Abril de 1974 se lhe voltassem a abrir as portas da Universidade. De Outubro de 1974 a Abril de 1976 foi Director da Biblioteca Nacional de Lisboa. Em 1980 fundou o Centro de Estudos Históricos da UNL.
Em 1997 recebeu o doutoramento honoris causa pela Universidade de La Trobe, Melbourne, Austrália. Em 1998 foi condecorado pelo Presidente da República com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.
Cortesia de leiloes.net
O número total das suas obras de tomo ultrapassa 60 volumes. A colaboração, com artigos, em revistas, dicionário e enciclopédias ultrapassa o milhar. Proferiu numerosas conferências em universidades da Europa, Estados Unidos, Brasil e Argentina. É hoje considerado um dos grandes especialistas em história da Idade Média portuguesa, como mostra a sua notável produção na área, onde se salientam, entre outras, as seguintes obras:
  • Hansa e Portugal na Idade Média;
  • Introdução História da Agricultura em Portugal;
  • A Sociedade Medieval Portuguesa (também traduzida para inglês);
  • Guia do Estudante de História Medieval Portuguesa;
  • Ensaios de História Medieval Portuguesa;
  • Novos Ensaios de História Medieval Portuguesa;
  • Portugal na Crise dos séculos XIV e XV;
  • O «Portugal» Islâmico;
  • Colaboração abundante no Dicionário de História de Portugal, dirigido por Joel Serrão.
O seu labor de historiador fez com que Oliveira Marques se debruçasse sobre outros aspectos e épocas da história, nomeadamente sobre a história contemporânea:
  • A Primeira República Portuguesa;
  • Afonso Costa (diversas obras sobre este político);
  • História da República Portuguesa;
  • Guia de História da 1ª República Portuguesa;
  • Portugal, da Monarquia para a República;
  • História da Maçonaria em Portugal, 3 vol. publicados;
  • A Maçonaria Portuguesa e o Estado Novo; Dicionário de Maçonaria Portuguesa.
Porém, o seu livro mais famoso é a História de Portugal, inicialmente em dois volumes e refundida depois em três tomos (l981) e que foi traduzido para inglês, francês, japonês, castelhano e polaco; uma versão abreviada saíu também em português, francês, inglês, chinês, romeno e alemão.
Cortesia de porterrasdoreiwamba
A 25 de Junho de 1982, aquando dos 25 anos sobre a data da publicação do seu primeiro estudo histórico, e do início da sua carreira docente, foi alvo de uma sessão solene de homenagem, presidida pelo Presidente da República, sendo publicados em sua honra dois volumes com a colaboração de categorizados historiadores nacionais e estrangeiros:
  • Estudos de História de Portugal : Homenagem a A. H. de Oliveira Marques.
Em 2003, aquando dos seus 70 anos de idade, a comunidade universitária (Universidade do Porto, Universidade de Coimbra e Universidade Nova de Lisboa) dedicou-se diferentes homenagens, tendo sido publicada a obra Na Jubilação Universitária de A. H. de Oliveira Marques, coordenação de Armando Luís de Carvalho Homem e Maria Helena Cruz Coelho, Coimbra, MinervaCoimbra, 2003, com a seguinte colaboração:

  • A. H. de Oliveira Marques: Percurso Biográfico (A. L. de Carvalho Homem);

  • A Medievalidade na Obra de A. H. de Oliveira Marques (Maria Helena Cruz Coelho);

  • Paleografia e Diplomática na Obra de A. H. de Oliveira Marques (Saul António Gomes);

  • A Expansão Portuguesa na Obra de A. H. de Oliveira Marques (João Marinho dos Santos);

  • As Relações Luso-Alemãs na Obra de A. H. de Oliveira Marques (Thomas Denk);

  • Oliveira Marques y la Historia de I República Portuguesa (Hipólito de la Torre Gómez);

  • A. H. de Oliveira Marques Investigador e Historiador de la Masoneria (José A. Ferrer Benimeli);

  • Oliveira Marques Historiador da Franquia Postal (João Alves Dias);

  • História de Portugal e Historiografia na Obra de Oliveira Marques (Luís Miguel Duarte);

  • Bibliografia do Prof. Doutor António Henrique Rodrigo de Oliveira Marques / continuação 1982-2003 (Maria Fernanda Macedo Nogueira de Andrade e João J. Alves Dias.
De parceria com Joel Serrão, dirigiu duas colecções de História Portuguesa, intituladas Nova História de Portugal, e Nova História da Expansão Portuguesa.
Devem-se-lhe a introdução ou a difusão em Portugal de temas históricos, alguns deles em franco desenvolvimento hoje:
  • História da vida quotidiana;
  • História urbana medieval;
  • História das técnicas;
  • História do clima;
  • História dos animais;
  • História da 1ª República Portuguesa;
  • História da Maçonaria Portuguesa.
Entrando para a Maçonaria ainda durante o período da clandestinidade (1973), desempenhou acção de relevo naquela instituição, sendo eleito seu Grão-Mestre Adjunto (1984-86) e seu Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Grau 33 (1991-94).
Cortesia de guitarradecoimbra
Em 1998 recebeu a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio.
Morre aos 73 anos de idade.
(Oliveira Marques_Maria Helena Coelho)
Cortesia de wikipédia/Guitarras de Coimbra/JDACT

Carlos Queirós: O poeta lúcido, rigoroso e límpido. Toda a sua poesia assinala certas formas criadoras de contradição vital que nela encontraram uma voz muito original e pura

(1907-1949)
Lisboa
Cortesia de wikipédia
José Carlos Queirós Nunes Ribeiro foi um poeta convivente de alguns dos fundadores de «Orfeu», mas seria, no entanto, a estética presencista que marcaria os seus primeiros poemas. Apesar das nítidas influências da revista conimbrense, sobretudo de José Régio, libertar-se-ia delas ao longo de um percurso de autor que, em vida foi exíguo do ponto de vista da publicação em volumes.
«Desaparecido» confirmou o poeta lúcido, rigoroso e límpido, que em revistas literárias se revelara, Revista de Portugal, Atlântico, Litoral, entre outras e que logrou um discreto mas seguro prestígio entre a geração e a que imediatamente se lhe seguiu. Após a sua morte, em Paris, surgiu «Poesia Completa», com inéditos extremamente significativos não só das constantes interiores da sua poesia, mas também da evolução e depuração dos seus processos literários em que se associavam ao classicismo um sentido intelectual de modernidade e ao pendor lírico a exigente temperança de uma vocação analítica. Com isto, uma nostálgica e desencantada visão do amor, do mundo e dos homens que, no entanto, não excluía, neste citadino de raíz e hábitos, uma instintiva intelecção, anímica e sensual, da natureza, da terra e do mar. Toda a sua poesia assinala, assim, na sua geração e para além dela, certas formas criadoras de contradição vital que nela encontraram uma voz muito original e pura. In Enciclopédia Luso-Brasileira da Cultura, 20 vols., secretariado por MAGALHÃES, António Pereira Dias; OLIVEIRA, Manuel Alves, 1ª ed., Lisboa, editorial Verbo, vol.15, 1973, pp.1506-1507.

O poeta Carlos Queirós define o segundo modernismo português e identificado como um dos grandes nomes da Revista Presença.
Desempenhou um importante papel na ligação entre o primeiro modernismo português identificado pela geração da revista Orpheu e o segundo modernismo da Presença. É Carlos Queirós, que por volta de 1927 estabelece a ligação ente Pessoa e a revista Coimbrã – Presença, dirigida por Gaspar Simões, Régio e Branquinho da Fonseca, no qual Pessoa veio a publicar diversos textos. É no número 5 da Presença (1927), que Carlos Queirós, juntamente com Fernando Pessoa e Almada Negreiros, inicia a sua participação neste periódico.
David Morão Ferreira no Prefácio do primeiro volume da Obra Poética de Carlos Queirós, refere que entre 1927 e 1937, ano em que Carlos Queirós, deixa de colaborar com a Presença, terá publicado nas edições que vão do n.º 5 ao n.º 49 cerca de 49 poemas e dois textos em prosa. Constituindo-se como um dos nomes de referência e de continuidade desta publicação.

Carlos Queirós, num número especial da Presença de homenagem a Fernando Pessoa, dá a conhecer os amores de Fernando Pessoa por Ofélia Queirós, sua tia. Publicando nesse número diversas cartas de amor de Pessoa escritas a Ofélia.
A participação literária de Carlos Queirós não se circunscreve somente à celebre revista Presença. Publica em diversas revistas e folhas literárias, tendo uma obra poética espalha por diversos periódicos literários:
  • revista Ocidente;
  • revista Atlântico;
  • revista de Portugal;
  • revista Momento;
  • revista Aventura;
  • revista Vamos Ler;
  • revista Litoral (dirigida pelo próprio).
Carlos Queirós publicou dois livros em vida,  o primeiro intitulado o «Desaparecido» em 1935, tendo o poeta 28 anos de idade. Foi «alvo» dos maiores elogios. Destaca-se a critica publicada por Pessoa na Revista Portugal. Pessoa escreve no primeiro parágrafo do seu texto crítico:

«A beleza do livro começa pelo livro. A edição é lindíssima. A beleza do livro continua pelo livro fora. Os poemas são admiráveis. Mas à frente no seu texto Pessoa prossegue,  não se pode dizer deste livro o que é vulgar dizer-se, elogiosamente, de um primeiro livro, sobretudo de um jovem: - que é uma bela promessa. O livro de Carlos Queirós não é uma promessa, porque é uma realização». In Revista. Portugal, n.º2 Coimbra, Janeiro de 1938.
O segundo livro publicado em vida, foi «Breve Tratado de Não Versificação», editado em 1948.
A obra poética de Carlos Queirós, pouco divulgada, está editada em dois livros pela Editora Ática. O primeiro livro tem como data de publicação 1984, intitula-se Desaparecido – Breve Tratado de Não Versificação, sendo a compilação dos dois livros publicados em vida por Carlos Queirós. O segundo livro tem como data de publicação 1989, intitula-se Épistola aos Vindouros e Outros Poemas, sendo constituído por uma colectânea de poemas dispersos, por diversas publicações da época e alguns inéditos, recolhidos por David Morão Ferreira, com a ajuda de uma das filhas do poeta.

Cortesia de wikipédia/JDACT

Torre de Belém: Trata-se de um dos monumentos mais expressivos da cidade de Lisboa. Ao longo dos séculos foi utilizada como registo aduaneiro, posto de sinalização telegráfico e farol. Parte da sua beleza reside na decoração exterior, adornada com cordas e nós esculpidas em pedra, galerias abertas, torres de vigia no estilo mourisco e ameias em forma de escudos decoradas com esferas armilares

Cortesia de IGESPAR
A Torre de Belém é um dos monumentos mais expressivos da cidade de Lisboa. Localiza-se na margem direita do rio Tejo, onde existiu outrora a praia de Belém. Inicialmente cercada pelas águas em todo o seu perímetro, progressivamente foi envolvida pela praia, até se incorporar hoje à terra firme.
O monumento destaca-se pelo nacionalismo implícito, visto que é todo rodeado por decorações do Brasão de armas de Portugal, incluindo inscrições de cruzes da Ordem de Cristo nas janelas de baluarte; tais características remetem principalmente à arquitetura típica de uma época em que o país era uma potência global (a do início da Idade Moderna).
Classificada como Património Mundial pela UNESCO, em 7 de Julho de 2007 foi eleita como uma das Sete maravilhas de Portugal.
Cortesia de IGESPAR
Originalmente sob a invocação de São Vicente de Saragoça, padroeiro da cidade de Lisboa, designada no século XVI pelo nome de Baluarte de São Vicente a par de Belém e por Baluarte do Restelo, esta fortificação integrava o plano defensivo da barra do rio Tejo projectado à época de João II, integrado na margem direita do rio pelo Baluarte de Cascais e, na esquerda, pelo Baluarte da Caparica.
Cortesia de IGESPAR
O cronista Garcia de Resende foi o autor do seu risco inicial, tendo registrado: «E assim mandou fazer então a (...) torre e baluarte de Caparica, defronte de Belém, em que estava muita e grande artilharia; e tinha ordenado de fazer uma forte fortaleza onde ora está a formosa torre de Belém, que el-Rei D. Manuel, que santa glória haja, mandou fazer; para que a fortaleza de uma parte e a torre da outra tolhessem a entrada do rio. A qual fortaleza eu por seu mandado debuxei, e com ele ordenei a sua vontade; e tinha já dada a capitania dela [a] Álvaro da Cunha, seu estribeiro-mor, e pessoa de que muito confiava; e porque el-Rei João faleceu, não houve tempo para se fazer». In RESENDE, Garcia de. Crónica de D. João II, 1545.
Cortesia de IGESPAR
A estrutura só viria a ser iniciada em 1514, sob o reinado de Manuel I, tendo como arquitecto Francisco de Arruda. Localizava-se sobre um afloramento rochoso nas águas do rio, fronteiro à antiga praia de Belém, e destinava-se a substituir a antiga nau artilhada, ancorada naquele trecho, de onde partiam as frotas para as Índias. As suas obras ficaram a cargo de Diogo Boitaca, que, à época, também dirigia as já adiantadas obras do vizinho Mosteiro dos Jerónimos. Concluída em 1520, foi primeiro alcaide Gaspar de Paiva, nomeado para a função no ano seguinte.
Cortesia de IGESPAR
Com a evolução dos meios de ataque e defesa, a estrutura foi gradualmente perdendo a sua função defensiva original. Ao longo dos séculos foi utilizada como registo aduaneiro, posto de sinalização telegráfico e farol. Os seus paióis foram utilizados como masmorras para presos políticos durante o reinado de Filipe II, e mais tarde, por João IV. O Arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas, D. Sebastião de Matos de Noronha (1586-1641), por coligação à Espanha e fazendo frente a D. João IV, foi preso e mandado recluso para a Torre de Belém.
Sofreu várias reformas ao longo dos séculos, principalmente a do século XVIII que privilegiou as ameias, o varandim do baluarte, o nicho da Virgem, voltado para o rio, e o claustrim. Classificada como Monumento Nacional por Decreto de 10 de Janeiro de 1907, é considerada como Património Mundial pela UNESCO desde 1983. Naquele mesmo ano integrou a XVII Exposição Europeia de Arte Ciência e Cultura.
Cortesia de IGESPAR
O monumento reflecte influências islâmicas e orientais, que caracterizam o estilo manuelino e marca o fim da tradição medieval das torres de menagem, ensaiando um dos primeiros baluartes para artilharia no país. Parte da sua beleza reside na decoração exterior, adornada com cordas e nós esculpidas em pedra, galerias abertas, torres de vigia no estilo mourisco e ameias em forma de escudos decoradas com esferas armilares, a cruz da Ordem de Cristo e elementos naturalistas, como um rinoceronte, alusivos às navegações. O interior gótico, por baixo do terraço, que serviu como armaria e prisão, é muito austero.
Cortesia de IGESPAR
A sua estrutura compõe-se de dois elementos principais:
  • a torre;
  • o baluarte.
  • Nos ângulos do terraço da torre e do baluarte, sobressaem guaritas cilíndricas coroadas por cúpulas de gomos, ricamente decorada em cantaria de pedra.
A torre quadrangular, de tradição medieval, eleva-se em cinco pavimentos acima do baluarte, a saber:
  • Primeiro pavimento - Sala do Governador;
  • Segundo pavimento - Sala dos Reis, com teto elíptico e fogão ornamentado com meias-esferas;
  • Terceiro pavimento - Sala de Audiências;
  • Quarto pavimento - Capela;
  • Quinto pavimento - Terraço da torre.
A nave do baluarte poligonal, ventilada por um claustrim, abre 16 canhoneiras para tiro rasante de artilharia. O terrapleno, guarnecido por ameias, constitui uma segunda linha de fogo, nele se localizando o santuário de Nossa Senhora do Bom Sucesso com o Menino, também conhecida como a Virgem do Restelo.

Cortesia de IGESPAR/JDACT

terça-feira, 29 de junho de 2010

Jane Monheit: O «lançamento» do primeiro álbum ocorreu em 2000 com «Never Never Land». Foi acompanhada pelo pianista Kenny Barron, o baixista Ron Carter e o saxofonista David Newman

Cortesia de marsh-system
Aos 20 anos ganhou o 2º lugar no Thelonius Monk International Jazz Competition, de cujo juri faziam parte Dee Dee Bridgewater, Dianne Reeves e Diana Krall. Uma voz timbrada do jazz.




JDACT

Luís Zagalo: Um «bom homem» e um «bom actor» que tão cedo fez a «Viagem»

(1940-2010)
Cortesia de caras
Luís Zagalo foi um actor e encenador com uma carreira no teatro, na televisão e no cinema. Era um rosto habitual das novelas da TVI. Participou na «Jóia de África», em «Olhos de Água» e mais recentemente em «Morangos com Açúcar». 
Cortesia de cm-bombarral
Luís Zagalo era uma presença assídua em Salvaterra de Magos, em visita a amigos. Sempre com amabilidade e conversador para com as gentes ribatejanas. Recordo alguns momentos de boa disposição que Luís Zagalo proporcionava na temporária estada em terras de Salvaterra de Magos.
Um «bom homem» e um «bom actor» que tão cedo fez a «Viagem». Um encenador que apreciava o convívio e o diálogo.
Luís Zagalo, D. Eunice Muñoz e o «bom Evaristo»
Cortesia do solardospresuntos
Luís Zagalo morre aos 68 anos de idade.
JDACT

Tempestade Tropical ALEX: ACTUALIZAÇÃO. Centrada a 22,7N e 93,1W às 15UTC de hoje (29JUN2010)

Cortesia de Unisys Weather
Tropical Storm ALEX (25-29 JUN)
Storm - Max Winds: 60 Kt (nós); Min Pres: 982 hPa Category: Tropical Storm.
Current - Max Winds: 60 Kt; Min Pres: 982 hPa; Category: TS
TROPICAL STORM ALEX FORECAST/ADVISORY NUMBER 16

Comunicado das 1500 UTC,  TUE JUN 29, 2010

Avisos de Hurricane (Furacão) para as zonas:
  • A costa do Sul do Texas desde a Baía de BAFFIN até ao rio GRANDE;
  • A costa do México desde o rio GRANDE até LA CRUZ.
Aviso de Tempestade Tropical  para as zonas:
  • A costa do Texas desde a Baía BAFFIN até Porto OCONNOR
TROPICAL STORM CENTER LOCATED NEAR 22.7N 93.1W AT 29/1500Z

A Tempestade Tropical ALEX apresenta um movimento para Noroeste, aproximadamente 325º,  com uma velocidade de 10 Kt (nós). A pressão mínima estimada é de 982 hPa ou mb. Os ventos máximos são de 60 Kt com rajadas de 75 Kt.
50 KT....... 60NE 30SE 15SW 20NW.
34 KT.......120NE 100SE 40SW 100NW.
12 FT SEAS..150NE 90SE 60SW 120NW.
WINDS AND SEAS VARY GREATLY IN EACH QUADRANT. RADII IN NAUTICAL MILES ARE THE LARGEST RADII EXPECTED ANYWHERE IN THAT QUADRANT.

A previsão da sua localização e os ventos máximos prováveis:
INITIAL 29/1500Z 22.7N 93.1W 60 KT
12HR VT 30/0000Z 23.7N 94.0W 65 KT
24HR VT 30/1200Z 24.7N 95.5W 75 KT
36HR VT 01/0000Z 25.2N 97.0W 80 KT
48HR VT 01/1200Z 25.7N 98.7W 50 KT
72HR VT 02/1200Z 26.0N 101.5W 25 KT...DISSIPATING INLAND
96HR VT 03/1200Z...DISSIPATED

Cortesia de Unisys Weather

Cortesia de UNISYS/NWS TPC/NATIONAL HURRICANE CENTER MIAMI/JDACT

Panteão Nacional: Igreja de Santa Engrácia de Lisboa e Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Acolhe os túmulos de grandes vultos da História Portuguesa

Cortesia de IGESPAR
O Panteão Nacional, situado na zona histórica de Santa Clara, ocupa o edifício originalmente destinado para igreja de Santa Engrácia, acolhendo os túmulos de grandes vultos da história portuguesa. Fundado na 2ª metade do século XVI, o edifício foi totalmente reconstruído em finais de Seiscentos pelo arquitecto João Antunes; embora nunca chegasse a abrir ao culto, conserva, sob a cúpula moderna, o espaço majestoso da nave, animada pela decoração de mármores coloridos, característica da arquitectura barroca portuguesa. Elemento referencial no perfil da cidade e oferecendo pontos de vista privilegiados sobre a zona histórica da cidade e sobre o rio Tejo, está classificado como Monumento Nacional.

A designação de Panteão Nacional em Portugal é partilhada por dois monumentos:
  • a Igreja de Santa Engrácia;
  • o Mosteiro de Santa Cruz.
A Igreja de Santa Engrácia localiza-se na freguesia de São Vicente de Fora, em Lisboa. Passou a ter a função de Panteão Nacional a partir de 1916. O estatuto de Panteão Nacional foi reconhecido ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra em Agosto de 2003.

Cortesia de IGESPAR
O actual templo situa-se no local de uma primitiva igreja, erguida em 1568 por determinação da Infanta D. Maria, filha de Manuel I, por ocasião da criação da antiga freguesia de Santa Engrácia. Essa antiga igreja, severamente danificada por um temporal em 1681, foi alvo de constantes modificações e alterações, de tal modo que hoje nada resta dela. A primeira pedra do actual edifício, o primeiro em estilo barroco no país, foi lançada em 1682. As obras perduraram tanto tempo que deram azo à expressão popular «obras de Santa Engrácia» para designar algo que nunca mais acaba. A igreja só foi concluída em 1966, 284 anos após o seu início. O edifício é coroado por um zimbório gigante. O seu interior está pavimentado com mármore colorido.
Cortesia de IGESPAR
Feito concurso em 1683 para estudo do melhor projecto, foi este ganho pelo arquitecto João Antunes (1642-1712), que dirigirá a primeira fase da construção. O risco de Antunes, tira partido da desafogada situação paisagística do sítio, a meio da encosta defronte do Tejo, e constitui a primeira obra de claro figurino barroco no panorama arquitectónico nacional. O modelo é centralizado, de vastas proporções, definindo uma cruz grega de flancos sinuosos, com associação de quatro torreões-bloco, numa longínqua evocação de San Pietro in Montorio e San Satiro em Milão, de Donato Bramante, e com influências de Guarini (fachada do palazzo Cornaro), acrescido de riquíssimo ornamento mosaicista.
O templo, mostra um desenho encurvado dos braços da cruz grega, formando ábsides que se articulam com o pano murário rectilíneo dos torreões e criam um efeito espacial único, tirando partido da parede-ondulante, tal como as igrejas e palácios romanos e parisienses do século XVII. O portal mostra quatro colunas espiraladas de pedra rósea, com capitéis compósitos e remate de baixo-relevo com a padroeira (talvez de Laprade).
Cortesia de IGESPAR
À morte de João Antunes a igreja estava longe de acabada, sendo as obras dirigidas por Manuel do Couto (que cerra a abóbada central) e Santos Pacheco, com intervenções do cônsul-arquitecto Antoine Duverger, até sofrer os efeitos do terramoto. Tais vicissitudes levaram a que as obras só fossem acabadas em meado do século XX (já como Panteão Nacional, criado em 1916), pelos arquitectos da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (Raul Lino, Lyster Franco), sem término das torres e com adjacência de uma abóbada com lanternim, demasiado desproporcionada para a sólida estrutura espacial definida no projecto barroco de Antunes. Mesmo com tais adições, que os atrasos impuseram, houve respeito pela traça aprovada no concurso de 1683, deixando incólume a novidade estrutural daquela que é a primeira igreja portuguesa verdadeiramente barroca.
Cortesia de IGESPAR
Embora nunca chegasse a abrir ao culto, conserva, sob a cúpula moderna, o espaço majestoso da nave, animada pela decoração de mármores coloridos, característica da arquitectura barroca portuguesa.
Elemento referencial no perfil da cidade e oferecendo pontos e vista privilegiados sobre a zona histórica da cidade e sobre o rio Tejo, está classificado como Monumento Nacional.
Como curiosidade, na sua proximidade realiza-se semanalmente, às 3ªas feiras e Sábados, a tradicional Feira da Ladra.

Cortesia de IGESPAR
Entre as personagens ilustres que ali estão sepultadas, encontramos sobretudo Presidentes da República e escritores. As excepções são designadamente a fadista Amália Rodrigues, cujos restos mortais foram transladados depois de se alterarem as disposições legais que apenas permitiam a trasladação para o Panteão Nacional quatro anos após a morte, e Humberto Delgado. As personalidades sepultadas são:
  • Almeida Garrett, escritor (1799-1854);
  • Amália Rodrigues, fadista (1920-1999);
  • Aquilino Ribeiro, escritor (1885-1963);
  • Guerra Junqueiro, escritor (1850-1923);
  • Humberto Delgado, opositor ao Estado Novo (1906-1965);
  • João de Deus, escritor (1830-1896);
  • Manuel de Arriaga, presidente da República (1840-1917);
  • Óscar Carmona, presidente da República (1869-1951);
  • Sidónio Pais, presidente da República (1872-1918);
  • Teófilo Braga, presidente da República (1843-1924).
Como Panteão Nacional abriga os cenotáfios de heróis da História de Portugal, tais como Nuno Álvares Pereira, Infante D. Henrique, Pedro Álvares Cabral Afonso de Albuquerque.
Nota: Em 19 de Setembro de 2007 o escritor Aquilino Ribeiro foi a décima pessoa a ser sepultada no Panteão, apesar da contestação de alguns grupos que acusam o escritor de terrorista por alegado envolvimento no regicídio.

 Cortesia de IGESPAR
O estatuto de Panteão Nacional foi reconhecido ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra em Agosto de 2003, pela presença tumular dos dois primeiros reis de Portugal, D. Afonso Henriques e Sancho I de Portugal. Esse estatuto, agora repartido, aplica-se aos dois monumentos, sendo que a designação de Panteão Nacional referente à Igreja de Santa Engrácia não deverá aplicar-se de forma absoluta.

O Mosteiro de Santa Cruz é um mosteiro da ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho localizado em Coimbra. Fundado em 1131, nele se encontram enterrados os dois primeiros reis de Portugal, D. Afonso Henriques e D. Sancho I. A qualidade das intervenções artísticas no Mosteiro de Santa Cruz, particularmente na época manuelina, fazem deste um dos principais monumentos históricos e artísticos de Portugal.

Cortesia de IGESPAR
A Igreja de Santa Cruz de Coimbra foi fundada em 1131 por D. Telo (São Teotónio) e 11 outros religiosos, que adoptaram a regra dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. A nova Igreja recebeu muitos privilégios papais e doações dos primeiros reis de Portugal, tornando-se a mais importante casa monástica do reino. A sua escola foi uma das melhores instituições de ensino do Portugal medieval, tendo uma grande biblioteca (agora na Biblioteca Pública Municipal do Porto) e um activo scriptorium. Nos tempos de D. Afonso Henriques, primeiro monarca português, o scriptorium de Santa Cruz foi usado como máquina de consolidação do poder real. A importância da Igreja é evidenciada pelo facto de que D. Afonso Henriques e seu sucessor, D. Sancho I, foram sepultados lá.

Cortesia de IGESPAR
Na Idade Média, o mais famoso estudante da Igreja de Santa Cruz foi Fernando Martins de Bulhões, o futuro Santo António de Lisboa (ou Santo António de Pádua). Em 1220, o religioso assiste à chegada à Igreja dos restos mortais de cinco frades franciscanos martirizados em Marrocos (os Mártires de Marrocos), e decide fazer-se missionário e partir de Portugal. No início do século XVI, o rei D. Manuel I ordena uma grande reforma, reconstruindo e redecorando a igreja e o mosteiro. Nessa época são transladados os restos de Afonso Henriques e Sancho I dos seus sarcófagos originais para novos túmulos decorados em estilo manuelino.
Entre 1530 e 1577 funcionou uma imprensa no claustro. É possível que o poeta Luís de Camões tenha estudado em Santa Cruz, uma vez que um parente seu (D. Bento de Camões) era prior do mosteiro na época, e há evidências na sua poesia de uma estada em Coimbra.
O primitivo edifício da igreja e mosteiro de Santa Cruz foi construído entre 1132 e 1223, mas quase nada resta desta fase românica da obra. A fachada da igreja tem  parecenças com a Sé Velha de Coimbra, com uma torre central avançada dotada de um portal e encimado por um janelão. Esses aspectos da fachada românica ainda são visíveis hoje, detrás da decoração posterior. A partir de 1507, o rei D. Manuel I ordenou a modificação total da arquitectura e decoração interior do mosteiro, seguindo o estilo mesclado de gótico e renascimento que depois seria chamado manuelino. Entre 1507 e 1513 a fachada ganhou duas torres laterais com pináculos e uma platibanda decorativa. Mais tarde, entre 1522 e 1526, foi criado o portal cenográfico manuelino por Diogo de Castilho e o francês Nicolau de Chanterenne. Cerca de 1530 foi adicionado junto à entrada um coro-alto por Diogo de Castilho, no qual se instalou um magnífico cadeiral de madeira esculpida e dourada. Este cadeiral é um dos pouquíssimos elementos da época manuelina ainda existentes em Portugal, e deve-se ao entalhador flamengo Machim, que o havia esculpido para a capela-mor cerca de 1512. A nave contém ainda um belo púlpito renascentista, obra de Nicolau de Chanterenne e datado de 1521. No século XVIII instalou-se un novo órgão, em estilo barroco, obra do espanhol Gómez Herrera, e as paredes da nave estão revestidas com azulejos brancos-azuis lisboetas que narram histórias bíblicas.
Cortesia de IGESPAR
Na capela-mor encontram-se os túmulos dos dois primeiros reis de Portugal, D. Afonso Henriques e D. Sancho I. Os túmulos originais estavam no nartex da igreja, junto à torre central da fachada românica, mas D. Manuel I não achou condignas as antigas arcas tumulares e ordenou a realização de novos túmulos. Estes, terminados por volta de 1520, são das mais belas realizações da tumulária portuguesa. Nicolau Chanterene realizou as esculturas jacentes representando os reis, enquanto outras esculturas e elementos decorativos se devem a vários outros ajudantes (Diogo Francisco, Pêro Anes, Diogo Fernandes, João Fernandes e outros). Os túmulos estão decorados com muitas estátuas e elementos gótico-renascentistas, além dos símbolos do rei D. Manuel I, a esfera armilar e a cruz da Ordem de Cristo.

Cortesia de IGESPAR/wikipédia/CMCoimbra/JDACT

Alentejo de minha alma: Terra nascida de esperanças, que não viveu os sonhos. Terra de gentes gigantes, que a imensidão dos campos curva



Cortesia de mladeiro

Cortesia de mladeiro
Algumas palavras de voarsemhasas/JDACT

Luís Piçarra: Um tenor que, segundo Luís de Freitas Branco, teria encantado Rossini por possuir uma voz modelada e maleável

(1918-1999)
Pizões, Moura
Cortesia de usersskynet








JDACT

segunda-feira, 28 de junho de 2010

António Nobre: Uma obra marcada pela lamentação e nostalgia, imbuída de subjectivismo, mas simultaneamente suavizada pela presença de um fio de auto-ironia

(1867-1900)
Porto
Cortesia de anibaljosematos
Apesar da sua produção poética mostrar uma clara influência de Almeida Garrett e de Júlio Dinis, ela insere-se decididamente nos cânones do simbolismo francês. A sua principal contribuição para o simbolismo lusófono foi a introdução da alternância entre o vocabulário refinado dos simbolistas e um outro mais coloquial, reflexo da sua infância junto do povo nortenho.

Certa Velhinha
1
Além, na tapada das Quatorze Cruzes,
Que triste velhinha que vae a passar!
Não leva candeia; hoje, o céu não tem luzes...
Cautella, velhinha, não vás tropeçar!

Os ventos entoam cantigas funestas,
Relampagos tingem de vermelho o Azul!
Aonde irá ella, n'uma noite d'estas,
Com vento da Barra puxado do sul?

Aonde irá ella, pastores! boieiras!
Aonde irá ella, n'uma noite assim?
Se for un phantasma, fazei-lhe fogueiras,
Se for uma bruxa, queimae-lhe alecrim!

Contava-me aquella que a tumba já cerra,
Que Nossa Senhora, quando a chama alguem,
Escolhe estas noites p'ra descer á Terra,
Porque em noites d'estas não anda ninguem...

Além, na tapada das Quatorze Cruzes,
Que linda velhinha que vem a passar!
E que olhos aquelles que parecem luzes!
Quaes velas accezas que a vêm a guiar...

Que pobre capinha que leva de rastros,
Tão velha, tão rôta! Que triste viuvez!
Mas se lhe dá vento, meu Deus! tantos astros!
É o céu estrellado vestido do envez...

Seu alvo cabello, molhado das chuvas,
Parece uma vinha de luar em flor...
Oh cabello em cachos, como cachos de uvas!
So no céu ha uvas com aquella cor...

A luz dos seus olhos é uma luz tamanha
Que ao redor espalha divino clarão!
Parece que chove luar na montanha...
Que noite de inverno que parece verão!

Além, na tapada das Quatorze Cruzes,
Velhinha tão alta que vem a chegar!
Parece uma Torre côada de luzes!
Ou antes a Torre de Marfim, a andar!

Não! Não é uma Torre côada de luzes,
Nem antes a Torre de Marfim, a andar,
Que pela tapada das Quatorze Cruzes,
N'uma noite destas, eu vejo passar...

Tambem não é, ouve, minha velha ama!
Como tu contavas, a Virgem de Luz:
Digo-te ao ouvido como ella se chama,
Mas guarda segredo, que é...
- Jezus! Jezus!
2
Além, na tapada das Quatorze Cruzes,
Já não é a velhinha que vae a passar:
Um grande cortejo cheiinho de luzes,
Anninhas da Eira que vae a enterrar.

Falla d'um pastor:

«Anninhas da Eira! Anninhas da Eira!
Cantae, raparigas, cantae e chorae!
Morreu, coitadinha! sorrindo, trigueira,
Como um passarinho, sem soltar um ai.

Quando era pequeno, levava-me á escola,
E quando, mais tarde, cresci e medrei,
Oh danças nas eiras, ao som da viola!
Nas danças de roda, que beijos lhe dei!

Os annos vieram, os annos passaram,
Meu fado arrastou-me, da aldeia sai:
Nunca mais meus olhos seus olhos tocaram,
Perdi-a de todo, nunca mais a vi...

E além, na tapada das Quatorze Cruzes,
N'uma noite d'estas com vento a ventar,
Ó meu Deus! é ella que vae entre luzes!
Ó meu Deus! é a Anninhas que vae a enterrar!

Olá! bons senhores, vestidos de preto,
Deixae a defunta, que a levarei eu!
O suor alagava-vos, eu levo o carreto...
O caixão de Anninhas é tambem o meu!

Tenho os relampagos, deixae-me sem velas
A rezar por ella, sob o temporal!
Cai-me no peito, cravae-m'as, procellas!
Cruzes da tapada, em forma de punhal!»

Mas os bons senhores, de preto vestidos,
Cigarros accezos, e velas na mão,
Lá passam ao vento, com sete sentidos,
Com medo que, ás vezes, não seja um ladrão...

«Mãos das ventanias! mãos das ventanias!
Tirae-lhes a Anninhas e levae-a a Deus!
Com suas mãosinhas, agora tão frias,
Irá na viagem a dizer-me adeus...

Ó vento que passas! corcel de rajada!
Assenta-nos ambos no mesmo selim:
Quero ir mais ella na longa jornada...
Quero ir com Anninhas pelo céu sem fim!

Ó Leste, que trazes as rolas, ás costas,
Quaes rolas, leva-nos aos pés do Senhor!
Quero ir como ella, assim de mãos postas...
Quero ir com Anninhas para onde ella for!

Ó Norte dos Marços! ó Sul das procellas,
Levae-nos quaes brigues, como azas, levae!
Levae-nos como aguias, levae-nos quaes velas...
Quero ir com Anninhas para onde ella vae!»
3
Além, na tapada das Quatorze Cruzes,
Que triste velhinha que vae a passar!
E que olhos aquelles que parecem luzes...
Aonde irá ella? Quem irá buscar?
António Nobre, in «Só»

Quando Chegar a Hora
Quando eu, feliz! morrer, oiça, Sr. Abbade,
Oiça isto que lhe peço:
Mande-me abrir, alli, uma cova á vontade,
Olhe: eu mesmo lh'a meço...

O coveiro é podão, fal-as sempre tão baixas...
O cão pode lá ir:
Diga ao moço, que tem a pratica das sachas,
Que m'a venha elle abrir.

E o sineiro que, em vez de dobrar a finados,
Que toque a Alléluia!
Não me diga orações, que eu não tenho peccados:
A minha alma é dia!

Será meu confessor o vento, e a luz do raio
A minha Extrema-Uncção!
E as carvalhas (chorae o poeta, encommendae-o!)
De padres farão.

Mas as aguias, um dia, em bando como astros,
Virão devagarinho,
E hão-de exhumar-me o corpo e leval-o-ão de rastros,
Em tiras, para o ninho!

E ha-de ser um deboche, um pagode, o demonio,
N'aquelle dia, ai!
Aguias! sugae o sangue a vosso filho Antonio,
Sugae! sugae! sugae!

Raro têm de comer. A pobreza consome
As aguias, coitadinhas!
Ao menos, n'esse dia, eu matarei a fome
A essas desgraçadinhas...

De que serve, Sr. Abbade! o nosso pacto:
Não me lembrei, não vi
Que tinha feito com as aguias um contrato,
No dia em que nasci.
António Nobre, in «Só»

JDACT

Évora: Orago, São Pedro. Feriado Municipal, 29 de Junho. As Feiras de Évora

Cortesia da CMÉvora
A tradição da Feira de S. João na cidade de Évora, com o seu Centro Histórico - Património Comum da Humanidade -, a primitiva Eburobrittium, a Ebora Cerealis ou  Liberalitas Julia,  continua a dar alegria e a proporcionar eventos até ao pf dia 4 de Julho. São festejos que sempre recordarei.

«Ano após ano, a cidade "veste o seu melhor traje" e celebra as festas populares, englobando neste período a consagração de S. João e do padroeiro local: S. Pedro. É assim este ano, bem como, há mais de cem anos. "A Feira de Évora era na altura a ocasião de prestar aos forasteiros as amabilidades, "finezas" e atenções que os velhos "foros e costumes" da hospitalidade característica do "povo" desta vasta "planície heróica que é o Alentejo. A Feira era também, naquela altura, local de arreigadas tradições como as imprescindíveis touradas, sobretudo as dos dias de S. João e S. Pedro. Estas traziam à cidade muito pessoal da loura, mas também muitos feirantes, negociantes e aficionados dos touros que davam uma alegria extraordinária. Lendo o estudo de Carvalho Moniz, e respeitando naturalmente as distâncias temporais, chegamos à conclusão que a nossa Feira mantém a sua traça original e é isso que faz dela a maior e mais importante ao Sul do rio Tejo. Como acima escrevi: volta-se a cumprir a tradição. O Rossio de S. Brás, que em meados do século XVI já era referência, por exemplo, de local de feira não franqueada, continua a manter a sua importância, sendo a partir de agora, e durante os próximos dias, a "sala de visitas" da cidade. Aqui virão, não só os eborenses, mas também uma importante franja da diáspora alentejana que encontram nestas datas, a melhor altura para reencontrarem o passado e, nalguns casos, os familiares e os amigos de longa data. Aqui também se continuam a fazer negócios e aqui também se continua a promover o melhor que a cidade tem, através da presença, cada vez mais significativa, dos agentes e instituições locais. Diversões infanto-juvenis, mostra de artesanato, actividades desportivas e culturais, para além de um sem número de propostas, fazem das Festas Populares da Cidade - Feira de S. João, o grande certame da região, e que durante estes dias procura também assinalar o Ano da Biodiversidade. Por tudo isto, acredito que a alegria de visitar e usufruir da Feira de S. João, que este ano decorrerá de 23 Junho a 4 de Julho, será renovada, apesar das vicissitudes sociais e económicas que afectam o País e o Mundo». In CMÉvora

(1910-2000)
Cabeção 
Carvalho Moniz
Cortesia de CMÉvora
A origem genérica das feiras e mercados e as principais feiras e mercados de Évora, desde a ocupação muçulmana da cidade, no século XII, à posterior Feira de S. João, são a substância desta obra. O seu autor, Manuel Carvalho Moniz, começa por introduzir o tema fazendo a apologia das feiras e mercados como elo de ligação entre o mundo rural e o mundo urbano, passando depois para os seus aspectos comerciais, sociais e religiosos, e sublinhando, no caso de Évora, o seu papel no desenvolvimento económico e social e no prestígio da cidade, ao longo dos séculos.
  • A Feira de Santiago (1275);
  • A Feira Franqueada de D. Dinis (1286);
  • A Feira dos Ramos (1839);
  • A Feira dos Estudantes (1540 a 1759);
  • A Feira dos Pucarinhos (1516 a 1932);
  • A Feira de São João (século XVI).
Numa exposição que o autor documenta com fotografias centenárias, com regimentos, alvarás e editais do século XVI ao Século XX, com uma antologia literária e com elementos do cancioneiro do S. João de Évora.
Cortesia da CMÉvora
Um bom S. Pedro. Um bom Feriado Municipal.
JDACT

António Gedeão (Rómulo de Carvalho): O Professor de Química e Física. O poeta. O investigador. O historiador. O escritor. O fotógrafo. O pintor. O ilustrador. A Arte em Rómulo

(1906-1997)
Lisboa
António Gedeão
Cortesia de Rómulo de Carvalho

Amador sem coisa amada
Resolvi andar na rua
com os olhos postos no chão.
Quem me quiser que me chame
ou que me toque com a mão.

Quando a angústia embaciar
de tédio os olhos vidrados,
olharei para os prédios altos,
para as telhas dos telhados.

Amador sem coisa amada,
aprendiz colegial.
Sou amador da existência,
não chego a profissional.
António Gedeão in «Máquina de Fogo»
Cortesia de Rómulo de Carvalho

Amor sem tréguas
É necessário amar,
qualquer coisa ou alguém;
o que interessa é gostar
não importa de quem.

Não importa de quem,
não importa de quê;
o que interessa é amar
mesmo o que não se vê.

Pode ser uma mulher,
uma pedra, uma flor,
uma coisa qualquer,
seja lá o que for.
Pode até nem ser nada
que em ser se concretize,
coisa apenas pensada,
que a sonhar se precise.

Amar por claridade,
sem dever a cumprir;
uma oportunidade
para olhar e sorrir.
Amar como um homem forte
só ele o sabe e pode-o;
amar até à morte,
amar até ao ódio.

Que o ódio, infelizmente,
quando o clima é de horror,
é forma inteligente
de se morrer de amor. "
António Gedeão, in «Máquina de Fogo»
Cortesia de Rómulo de Carvalho

Cortesia de Rómulo de Carvalho/JDACT