sábado, 26 de junho de 2010

Os Lusíadas: Luís de Camões, Canto IV

Representação medieval da batalha de Aljubarrota
Cortesia de wikipédia
Vasco da Gama prossegue a narrativa da história de Portugal. Fala agora da 2.ª Dinastia, desde a Revolução de 1383-85, até ao momento, do reinado de D. Manuel I, em que a sua armada parte para a Índia.
(D. Nuno Álvares Pereira)
Eis ali seus irmãos contra ele vão,
(Caso feio e cruel!) mas não se espanta,
Que menos é querer matar o irmão,
Quem contra o Rei e a Pátria se alevanta:
Batalha de Aljubarrota, estrofe 32 do Canto IV

A narrativa da revolução de 1383-1385 é dividida em duas partes:
  • O levantamento do povo para apoiar o pretendente português (estrofes 1 a 23);
  • A batalha de Aljubarrota (estrofes 24 a 44);
  • Dois heróis partilham as glórias destes episódios: o régio D. João e o guerreiro D. Nuno Álvares Pereira.
Camões elogia os patriotas que defenderam a independência, quer sejam humildes ou poderosos, sem medo de morrer pela causa portuguesa. Critica amarguradamente quem se juntou ao partido castelhano, particularmente os irmãos de Nun'Álvares, que tem de lidar com o conflito acrescido de lutar contra os seus familiares.
Os feitos do Mestre de Avis também são cantados de forma particularmente épica, fazendo lembrar Ájax na Ilíada. A sua coragem salva a batalha. Socorre a Ala dos Namorados que se encontrava na vanguarda e, na estrofe 38, «sopesando a lança quatro vezes, Com força (a)tira; e, deste único tiro, Muitos lançaram o último suspiro».
Mas no fim de mais uma batalha sanguinária, a par com o canto da glória, o poeta deixa a opinião de quem maldiz a guerra, que por cobiça dos poderosos lança tanta gente à morte, deixando tantas mães e esposas sem maridos e filhos.
Com a paz, as atenções do reino viram-se para Marrocos e para o mar. Entra a Ínclita geração, representada por D. Duarte e D. Fernando, e depois D. Afonso V.

Torre de Belém
Na praia de onde saíu a expedição de Vasco da Gama
Cortesia de wikipédia
Depois da viagem Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva, surge a narração dos preparativos da viagem à Índia, desejo que D. João II não conseguiu concretizar antes de morrer e que iria ser realizado por D. Manuel, a quem os rios Indo e Ganges apareceram em sonhos, profetizando as futuras glórias do Oriente
O canto termina com a partida da armada. Quando estão a despedir-se das famílias na praia de Belém, os navegadores são surpreendidos pelas palavras de um velho que estava entre a multidão. É o episódio do Velho do Restelo (estrofes 94 a 104).
O Velho do Restelo
Cortesia de classicismoetecap
Este personagem é a representação da contestação da época contra as aventuras dos descobrimentos. Havia quem pensasse que era puro orgulho e simplesmente suicídio tentar estes projectos de navegar para partes longínquas do mundo. Uma perda de recursos e homens, que fariam falta na luta contra os inimigos mouros ou para a defesa do reino contra uma eventual invasão castelhana.
O episódio entrou no imaginário português. A expressão passou a significar o conservadorismo, o mau agoiro, a má-vontade e a falta de espírito de aventura, frente a projectos originais que exigem alguma ousadia e gastos de recursos

(Apresentação) (Prefácio) (O Canto IV)
Cortesia wikipédia/Instituto Camões/JDACT